Ao longo da minha trajetória tive a sorte de cruzar-me com Bobby Robson e Tomislav Ivic. Com o primeiro, ainda jornalista, após as conferências de imprensa, ficava deliciado a apreciar a sua concepção do jogo, o deleite pelo talento puro, a sede permanente por mais um golo mesmo quando a vantagem já era confortável.
Dimensão humana, empatia, gosto pelo espetáculo, comunicador por excelência, atingiu a notoriedade em 1981 quando as noites europeias em Portman Road acolhiam um Ipswich Town entusiasmante, liderado pelo capitão Terry Butcher e pela dupla atacante composta por Paul Mariner e Alan Brazil. A epopeia culmina com a conquista da Taça UEFA.
O prazer da ofensividade marcou as equipas de Robson e, sem surpresa, foram inúmeras as figuras projetadas. Além de Mariner e Brazil, Lineker, Waddle ou Barnes na seleção inglesa, Romário no Barcelona, Shearer e Bellamy no Newcastle, todos eles beneficiaram das ideias do inglês.
Faltou-lhe um grande título pela Rosa, mas foi campeão na Holanda e Portugal, conquistou outro título europeu pelo Barcelona, a Taça das Taças. Um gentleman de outros tempos, que marcou gerações.
Se Robson era extrovertido, Ivic não o era menos. Conheci-o já como dirigente e estava nos antípodas do pensamento de Robson. ‘Se as leis do jogo oferecem um ponto, tenho de ser inteligente para conquistar o outro’, dizia. À mesa, a tolha de papel virava um quadro tático, com esquemas, linhas imaginárias com as quais bloqueava o adversário.
Pressing, organização colectiva, ocupação racional dos espaços, verticalidade, objectividade. Princípios inegociáveis para alguém mais respeitado por pares como Guardiola, Bielsa, Sacchi, Deschamps e Klopp do que por adeptos ou imprensa.
Campeão em seis países diferentes (Jugoslávia, Bélgica, Holanda, Portugal, França e Grécia) ficou marcado por análises incongruentes. Visto como um treinador eminentemente defensivo marcou a carreira de Dennis Bergkamp, Brian Roy e Aaron Winter no Ajax, numa época onde os Lanceiros concretizaram por 117 vezes.


