Estendal da Memória : O medo cénico de ganhar

Equipas habituadas a vencer estão sempre mais perto de continuar a ganhar. Questões de auto estima, confiança, receio infundido ao adversário, ao concorrente direto. As épocas 1999/2000 e 2001/02, temporadas em que o Sporting sagrou-se campeão, atestam isso mesmo.

Na primeira delas, após escorregadelas do FC Porto, jogos em Alvalade frente a Gil Vicente e Alverca significavam , em caso de vitória, ultrapassagem leonina para o primeiro lugar. Pois bem, dois empates a uma bola e uma tremenda decepção. Frente aos gilistas, um golo de Carlitos gelou Alvalade e foi duro chegar ao empate, por Acosta. Contra o Alverca, outra exibição titubeante. Fica na memória o silêncio de um estádio cheio quando Paulo Costa, avançado dos visitantes, encarou Schmeichel, isolado, e o gigante dinamarquês evitou a derrota.

Na penúltima jornada, o cenário parecia perfeito. Após 18 anos, o Sporting tinha um ‘match point’ em casa, frente ao velho rival Benfica. Nem a qualidade extra de André Cruz nos livres diretos resolveu a questão, o colectivo bloqueou. Sabry agudizou o quadro, aos 89’ (0-1). Tudo ficou adiado para Paranhos, contra o Salgueiros e quatro golos sem resposta arrumaram a questão do ceptro nacional.

Três noites que não obstaram ao título, cenário quase idêntico a ocorrer dois anos depois. Jogo, em casa, frente ao Benfica (1-1) ou ante o Vitória de Setúbal, no Bonfim (2-2), eram sinónimo de festejo antecipado do título, mas a clarividência, a contundência, a segurança, não foram as mesmas e a questão parecia ficar adiada para a última jornada.

Em casa, assistia-se a um Benfica vs Boavista e uma eventual derrota axadrezada dava matematicamente o título ao Sporting. Um 2-1 para os benfiquistas motivou uma convocatória relâmpago para os festejos.

O “Estendal da Memória” é uma rubrica de histórias e memórias futebolísticas, da autoria de Carlos Freitas, que pode acompanhar também no instagram, com novas histórias todas as terças e sextas.