Análise ao Benfica: Águia na luta, mas com muito a melhorar

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ais três jogos volvidos e o Benfica volta a demonstrar a sua irregularidade. A equipa vinha de dois jogos em que sofreu oito golos (cinco com o Barcelona e três com o Casa Pia) e respondeu só com vitórias, mas também com muitos golos sofridos (dois do Estrela e dois do Moreirense). É como se a equipa que se vê na Liga nos Campeões fosse outra equipa comparada com a da Liga Portuguesa. É um Benfica de duas caras e muitas vezes dentro do mesmo jogo.

1. Rotação

Algo que Bruno Lage vem a fazer desde o inicio do ano é uma rotação jogo após jogo. Não é que conte com todos os jogadores, mas um por sector vai rodando. Schjelderup tem alternado a titularidade com o banco, Aursnes já foi trocando com Leandro, Bah trocou com António puxando Tomás para o centro da defesa novamente e Manu (antes da lesão) rodava com Florentino. À partida isto seria óptimo para manter a equipa fresca e com rendimento, uma vez que há qualidade nas alternativas, mas não. O Benfica escorrega não por não estar fresco, mas sim por falta de identidade de jogo, por não conseguir construir com qualidade, por faltar organização defensiva e concentração durante os 90. Há uma gestão física a ser feita e Lage tem cumprido, mas diria que há muito mais do que isso em falta.

[ Substituições no Estrela da Amadora – Benfica ]

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2. Construção deficiente

Algo que tem sido habitual nos jogos do Benfica neste ano de 2025 são os erros na construção que acabam por dar golos aos adversários. Assim de cabeça, Trubin a colocar a bola na cabeça de Raphinha, do Barcelona, a má recepção de Pavlidis que isolou Chico Banza do Estrela ou o erro de Carreras que resultou no segundo golo do Moreirense da Luz. O Benfica quer sair a jogar atraindo o adversário para perto da sua baliza, mas depois cede à pressão e, neste momento, qualquer equipa, seja ela o Mónaco, o Barcelona ou o Moreirense, consegue impor dificuldades aos “encarnados”. Neste campo não há evolução há meses.

[ As perdas de posse do Benfica ante o Moreirense, 13 no terço defensivo ]

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3. Pavlidis

O rendimento do avançado grego já aqui foi tema algumas vezes sob várias perspectivas, por isso é justo destacar o bom momento do ponta de lança ex-AZ Alkmaar. Pavlidis já era conhecido por ser um avançado trabalhador em prol do colectivo. O atacante procura ligar, pressionar, condicionar o adversário, descai nas alas, baixa… mas faltava golo. Isso acabou, aparentemente. O avançado vem numa sequência que lhe permite já ter pulverizado os números de Arthur Cabral em toda a época passada. Arthur fez 11 golos e três assistências em 23/24. Pavlidis leva 14 golos e sete assistências em 24/25… e passou agora o meio da época. A confiança muda tudo. O jogador estava bem naquilo que era o trabalho colectivo, precisava de ter confiança em frente à baliza para fazer a diferença.

[ O desempenho de Pavlidis ante o Moreirense ]

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4. Bolas paradas

Termino com o mesmo ponto que terminei o último artigo, as bolas paradas. Da ultima vez escrevi que o Benfica estava há várias semanas sem marcar golos de bola parada. Na minha opinião eram previsíveis e pouco trabalhadas, mas isso mudou nestes dias. Aliás, nestes últimos jogos as bolas paradas têm trazido uma boa arma ao Benfica e Otamendi tem sido bastante solicitado tendo até marcado contra o Moreirense. Nesse jogo, o segundo golo de Pavlidis não surge directamente do canto, mas vem na sequência do lance. No futebol actual é essencial trabalhar estes momentos. Podem ser desbloqueadores e, finalmente, o Benfica parece estar nesse caminho.

[ Golo de Otamendi ao Moreirense, na sequência de um canto ]

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Resumindo, o Benfica vem numa sequência de três jogos e três vitórias. Obviamente o ponto alto terá de ser a vitória contra a Juventus em Turim, mas isto não significa que a turma da Luz esteja a impressionar, pelo contrário. A equipa comete muitos erros, desconcentra-se e sabota as suas intenções de controlar as partidas quando está a vencer. Os comandados de Bruno Lage até têm entrado nos jogos com energia e a marcar cedo, mas é depois de marcar que a equipa baixa o seu rendimento, de tal forma que se torna complicado construir e criar. No banco é possível ver a irritação do treinador com estes momentos, mas para nós, que estamos a ver do lado de fora, resta saber se a equipa não está a saber interpretar as instruções dadas por Bruno Lage, ou se realmente falta algum tipo de conteúdo aquisitivo que forneça as ferramentas necessárias à equipa.

Bruno Francisco
Bruno Francisco
Formado em Treino Personalizado e Análise no Futebol. Podcaster e Criador de Conteúdos no X/Twitter e Canal de YouTube Visão Vermelha. Colaborou com projetos como Lateral Esquerdo, Bola na Rede e Transfermarkt.