José Mourinho entrou no Benfica com (natural) grande impacto, mas passados sete jogos, o nível exibicional e resultados “encarnados” tardam a convencer. Num momento em que as “águias” acabam de sair de Newcastle com uma pesada derrota, olhamos a “medida da moda” (os Expected Goals) para perceber que sinais emite o Benfica neste arranque de época, nas suas duas “eras” (Lage e Mourinho). Encontrados os padrões, as conclusões não são animadoras, mas podem ter explicação contextual, a confirmar no futuro próximo. Eis o que descobrimos.
[ A evolução dos Expected Goals do Benfica, criados e permitidos, antes e depois de Mourinho ]

E o que nos revelam os Expected Goals (clica no link se tiveres dúvidas sobre o que se trata) do Benfica em 25/26, como medida abrangente do “jogo criado e permitido” por uma equipa? Em primeiro lugar há que dividi-los nas duas “eras” de comando, entre Bruno Lage e José Mourinho. Feita essa segmentação eis as principais pistas que retiramos do quadro:
Foi com Bruno Lage que o Benfica obteve o seu melhor xG ofensivo, frente ao Tondela, naquele que foi também o registo esperado mais amplo, entre o que os “encarnados” criaram (3 golos esperados) e o que permitiram (0,4)
A “era Lage” fechou com um jogo em que o Benfica permitiu mais do que criou (1,4 – 1,5), mas isso já havia sucedido, na Turquia, embora num jogo que acabou por ser mais um “buraco negro” futebolístico de parte a parte (0,3 – 0,3) do que propriamente um exemplo comparável com a debacle da Luz, frente ao Qarabag, que sentenciou o destino de Lage.
José Mourinho entrou bem (mesmo com um dissabor logo ao segundo teste) nos jogos com AVS e Rio Ave, partidas nas quais o Benfica somou o segundo e terceiro xGs a favor mais elevados da sua época. Porém… terá sido esse um mérito das ideias do treinador acabado de entrar ou de uma conjuntura que misturou jogos mais acessíveis e a descompressão/motivação decorrente da chegada de um dos mais carismáticos treinadores da História? Olhando para trás a dúvida é legítima, pois a partir daí a situação complicou-se.
Os últimos cinco jogos são preocupantes para o Benfica, no que toca aos Golos Esperados criados e permitidos, e o contexto (três deles de grau de dificuldade acima da média) não explica tudo. O Benfica só conseguiu criar mais do que 1,0 golos esperados no primeiro dos últimos cinco encontros, frente ao Gil Vicente, duelo no qual permitiu mesmo assim perigo na mesma medida do que criou (1,3 – 1,3).
Em Londres, frente ao Chelsea, Mourinho voltou a igualar criação e permissão para, logo a seguir, no Dragão, conter Farioli (0,7), mas terminando com o xG criado mais baixo da época e um dos mais baixos que nos recordamos (0,1) num “clássico”, desde que existem Expected Goals.
Em Chaves chegou o caso mais preocupante, pois este era teoricamente o jogo mais acessível da época, mas, apesar da vitória, o Benfica ficou novamente abaixo do “golo inteiro” esperado e terminou novamente com uma igualdade entre o perigo que criou e o que encarou (0,7 – 0,7).
Por fim, em Newcastle, o descalabro do resultado combina com o perigo esperado. O Benfica permitiu o seu maior xG contra da temporada (2,6) e igualou o seu segundo pior registo criativo (0,3) sendo que, dos três piores, dois foram obtidos já com Mourinho (bem) ao comando e apenas um com Lage (na Turquia). Tudo menos sinais de melhoria.
[ Os xG statscards dos últimos cinco jogos do Benfica, já com José Mourinho ]





Mourinho, vítima dos alicerces da época?
Conclusão? Se tivéssemos publicado esta análise ainda antes da visita a Newcastle, o decréscimo criativo ofensivo do Benfica com Mourinho seria na mesma uma tendência, mas sobraria o consolo do “special one” ter também reduzido ligeiramente a permissividade defensiva do Benfica.
No entanto, considerando já o pós-jogo em Inglaterra, a quebra é total: o Benfica caiu (de forma mais significativa) na criação ofensiva (1,63 > 1,19) e passou a permitir marginalmente mais perigo (0,85 > 1,03). E se é verdade que três dos últimos quatro jogos do Benfica se revestiram de um maior grau de dificuldade, também é certo que Mourinho não conseguiu vencer nenhum desses “jogos grandes”, tendo tido dificuldades em mais dois, sobrando apenas as duas primeiras partidas como amostra de algo mais condizente com as ambições produtivas do emblema da Luz (e mesmo assim com um empate num deles).
Serão estas dores conjunturais de crescimento fugaz má fase ou sinais de um problema mais profundo, relacionado com a forte (e em alguns pontos questionada) reestruturação que o plantel sofreu no último defeso? O tempo e os próximos jogos serão, certamente, esclarecedores.