Antevisão Benfica 🆚 Marseille | O caótico obstáculo de Schmidt

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Éjá nesta quinta-feira que o Benfica vai tentar colocar-se numa boa posição para assegurar uma vaga nas meias-finais da Liga Europa, quando defrontar, a partir das 20h00, no Estádio da Luz, o Marseille na primeira mão dos quartos-de-final da prova europeia.

No espaço de cinco dias, os comandados de Roger Schmidt despediram-se da Taça de Portugal e comprometeram as aspirações no que concerne à renovação do título alcançado na época passada. Por isso, neste momento, eliminar o Marseille é o principal objectivo dos “encarnados”. A formação gaulesa chega a Portugal na sequência de quatro derrotas seguidas (em todas as competições, três no campeonato), complicou as contas por um acesso directo, na próxima temporada, às competições da UEFA, ocupando o oitavo posto na Ligue 1 com 39 pontos, menos quatro que o Lens, emblema que está no sexto lugar, a última vaga de acesso aos play-offs da Liga Conferência.

Ferido no orgulho, o emblema gaulês vai procurar dar a volta a esta crise de resultados, numa época atribulada – mais uma – em que já teve três treinadores: Marcelino García Toral iniciou o trajecto, foi, posteriormente, substituído por Gennaro Gattuso que, por sua vez, viu o veterano Jean-Louis Gasset ocupar-lhe a cadeira.

[ A formação que o Marseille apresentou na derrota na visita ao Lille de Paulo Fonseca ]

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Como joga o Marseille?

Os “les olympiens” são um conjunto com várias faces e a roleta de emoções que foi o “round” anterior diante do Villarreal – goleou em casa por 4-0 e viu-se “aflito” em Espanha até ao golo salvador apontado por Jonathan Clauss (baixa de vulto por lesão) nos descontos – resume na perfeição a equipa que é capaz do melhor e também do pior. Preferencialmente, Gasset aposta num 1x4x3x3 que se desdobra num 1x4x2x3x1, enquanto nos jogos fora do Vélodrome o figurino costuma ser mais conservador – 1x5x3x2 ou 1x3x5x2, o que não se verificou em Lille.

Camaleónico, mas quase sempre pouco fiável, este Marseille tem alguns predicados interessantes, como a forte pressão alta que exerce na primeira fase dos opositores, mas também é um conjunto que se “parte” com facilidade – chega a ser caótico – e que não é eficaz quando tem de defender com o bloco mais encostado à sua área. Poderá, igualmente, ser um adversário a actuar mais na expectativa, com a linha defensiva mais recuada – média/baixa -, apostando nas transições e na velocidade de ponta de atacantes como Pierre-Emerick Aubameyang, Ismaila Sarr, Iliman Ndiaye ou Faris Moumbagna. É assim que os franceses pretenderão ferir as “águias” de Roger Schmidt.

[ O OM regista 12,1 acções defensivas (à esquerda) no meio-campo adversário por jogo e diversifica muito as vias de ataque, apesar de privilegiar as alas (à direita)

“À partida, Mbemba deverá regressar. Isso ajuda a equipa do Marseille a ser melhor a defender, pois não gostei da forma como defenderem contra o Lille, cometeram muitos erros. Não foi um bom jogo”, começa por dizer à GoalPoint o comentador Pedro Henriques, referindo-se à pesada derrotada sofrida na última jornada do campeonato francês ante o Lille (3-1) de Paulo Fonseca.

“Os jogadores mais perigosos serão, à partida, Aubameyang e Aamine Arit. Estes dois podem, claramente, criar perigo, pois o Benfica é muito permeável ali no espaço entre os médios e os centrais. Estes dois jogadores podem ser perigosos pela dinâmica que mostram a sair da marcação para virem buscar a bola e solicitar na frente, fundamentalmente o avançado gabonês”, explicou Pedro Henriques.

“A defender, o lado direito do Marseille é muito frágil, a equipa comete muitos erros. Gigot, o central, falhou bastante na saída de bola, perde a posição com muita facilidade, o Benfica pode aproveitar, se arrastar a marcação com o ponta-de-lança que deveria ser o Tengstedt, no meu ponto de vista, e se o Rafa for esperto a aproveitar essa debilidade. O Benfica pode forçar por aí porque é a zona mais permeável dos franceses. Defendem com os quatro defesas mais um, que é o médio-defensivo, o Pape Gueye. Se os três jogadores que jogarem na linha atacante tiverem dinâmica e forem inteligentes a ganhar o espaço fora do raio de acção deste médio-defensivo, que normalmente é um, os outros jogadores tentam ficar um pouco à frente e o Lille aproveitou isso nalguns momentos.”

“A equipa não se organizava rapidamente, não reagindo à perda quando ficava sem a posse da bola e achei que o lado centro/direita cometia muitos erros. Diria que, quando o Marseille se parte um pouco, parece o Benfica. Não sei se o Marseille vai jogar assim na Luz como fez com o Lille. A atacar, e isto é um lembrete para o Benfica, nos cantos colocam um jogador em cima do guarda-redes, como o Porto fez como o Trubin e resultou num golo. É um alerta que não sei se vai a tempo ou não, mas acho que o Benfica já viu isso”, acrescentou o analista.

“O melhor Benfica é melhor do que o melhor Marseille”
(Pedro Henriques)

Na opinião de Pedro Henriques, os actuais campões portugueses têm alguma vantagem nesta eliminatória, mas terão de ser mais consistentes e manter um nível que chegaram a apresentar nos últimos dois dérbis frente ao Sporting.

“O que o Benfica precisa fazer com o Marseille é tudo aquilo que não fez contra o Rangers, nem com o Toulouse. Pegar naquilo que fez bem frente ao Sporting nestes últimos dois jogos, fundamentalmente no do campeonato e na primeira parte do jogo da Taça de Portugal, quando foi uma equipa agressiva nos duelos e dinâmica a sair rapidamente para o ataque. Repetir as trocas de bola que promoveu, a maneira como foi veloz, pressionante, não precisa fazer uma pressão muito alta, mas a partir do momento em que a linha defensiva do Sporting metia a bola na linha média ou ofensiva, houve agressividade, conquista dos duelos e depois saiu rápido. Se o Benfica fizer o que fez na primeira parte contra o Sporting, estou convencido de que pode eliminar o opositor. O melhor Benfica é melhor do que o melhor Marseille. Não sei é que Benfica vai defrontar a equipa francesa. Contra o Sporting, para a Taça, a primeira parte foi muito boa, mas começou a segunda com um erro de comportamento que a equipa tem repetido muitas vezes esta temporada”, sinalizou.

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Olhando para um possível “onze”, o comentador acredita que Schmidt deverá manter a aposta nos habituais elementos que têm feito parte da espinha dorsal da equipa.

“Penso que é muito importante o Rafa sair da zona central para vir jogar mais baixo e actuar nos corredores, senão pode acontecer-lhe o que sucedeu no jogo em Alvalade em que passou completamente ao lado da partida. Tengstedt para mim seria uma escolha óbvia, assim como o Florentino e o João Neves”.

Dizem os livros que a formação da Luz tem um bom registo sempre que defronta equipas francesas. Nos 34 confrontos anteriores, saiu vitorioso em 16, empatou dez e consentiu oito desaires, sendo que em 11 eliminatórias perante clubes gaulesas, passou em nove ocasiões – caiu aos pés do Bordéus em 1986/1987 e do Bastia em 1997/1998. Já contra o Marseille, a balança pende para o lado “encarnado” com duas vitórias, um empate e uma derrota.

Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.