Antevisão | Sporting – Porto, o tira-teimas entre os que mais jogam

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Este sábado, pelas 20h30, joga-se o primeiro “clássico” da Liga 2024/25, um Sporting-FC Porto ainda muito marcado pelo embate entre as duas formações no passado dia 3 de Agosto, a contar para a Supertaça Cândido de Oliveira. As duas equipas chegam ao primeiro grande clássico do campeonato em excelente forma, sendo para muitos os dois conjuntos em melhor momento.

[ Os dados principais da partida da Supertaça 2024 ]

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Ainda é cedo para conclusões estatísticas profundas às duas equipas, jogadas apenas três jornadas da Liga. Estes jogos, porém, dão para perceber as ideias e tendências dos dois conjuntos, ligando ao que se passou na Supertaça 2024, um jogo memorável que teve um Sporting quase a festejar o triunfo, com três golos de vantagem, e um Porto que renasceu das cinzas, levou o desafio a prolongamento e arrecadou depois o troféu.

O Sporting entrou muito forte, empurrando os “dragões” e marcando três golos, com um futebol intenso, coeso e eficaz. Os homens da Invicta nunca desistiram e, quando pegaram no jogo, viraram os acontecimentos, com pressão e golos, embora com uma filosofia de jogo bem diferente. O “leão” mantém o seu figurino em 3-4-3 que é quase um 3-3-4 esta temporada, com dois alas muito ofensivos, enquanto o “dragão” aposta num 4-4-2 que é muitas vezes um 4-2-3-1. Pontos em comum? Curiosamente alguns. Defesas e ataques em blocos pressionantes, tentativa de controlar o meio-campo, uma mobilidade grande dos homens da frente a dificultar, e muito, a tarefa das defesas contrárias. No arranque da Liga, estas características têm-se mantido, sendo que na Supertaça ficou a ideia de que as questões físicas tiveram um peso grande. O Sporting fez muito no arranque, o Porto retraiu-se e, quando reagiu, apresentou-se com uma saúde diferente e decisiva.

Os indicadores até ao primeiro grande confronto

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O que mais salta à vista após estas três jornadas é a quantidade de golos (e remates) que o Sporting vai amealhando. São já 14 (quase cinco por partida), precisamente o dobro do que o Porto regista nesta altura, sendo que os “azuis-e-brancos” destacam-se na defesa, não tendo ainda consentido qualquer tento.

Na diferença entre Golos Esperados (xG) e marcados, os “verdes-e-brancos” vão mantendo a bitola elevada que trouxeram da época transacta, com mais 1,3 apontados do que o esperado, enquanto os “dragões” têm, por esta altura, um saldo negativo (0,4). Estes números espantam pouco quando olhamos para a quantidade de remates das duas equipas. O Sporting faz em média 26 disparos por encontro, 8,3 enquadrados, enquanto o Porto fica-se pelos 16,7 (7,7 com boa direcção.

Olhando para estes valores, os homens de Alvalade apresentam-se com algum favoritismo, mas temos o exemplo da Supertaça para evitarmos prognósticos, até porque os “dragões” também brilham nos Expecte Goals… permitidos (apenas 0.3 por jogo) e ainda mais nos realmente convertidos: sofreram zero golos até ao momento.

1. As duas estrelas do momento

Podemos afirmar, com alguma segurança, que o Sporting tem o melhor jogador do campeonato até ao momento. Embora os holofotes recaiam, também, em Viktor Gyökeres, “Pote” está a realizar um arranque de temporada como nunca vimos ninguém fazer. Não são apenas os três golos e duas assistências em apenas três jornadas, é tudo o resto que tem marcado as exibições do internacional luso, como a grande quantidade de remates de bola corrida (14, segundo maior valor absoluto desta Liga) ou os 17 passes para finalização (mais oito que o segundo, o bracarense Ricardo Horta), oito de bola corrida. O GoalPoint Rating diz (quase) tudo.

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Do lado do Porto, a grande “surpresa” tem sido Galeno. Colocámos aspas na palavra porque remete para as funções que o brasileiro tem desempenhado esta época, actuando a lateral-esquerdo na grande maioria do tempo. Ainda assim, tal não tem evitado Galeno de levar já três golos – incluindo o mais rápidos da História do Estádio do Dragão –, bem como uma boa percentagem no que toca à eficácia no drible e muito trabalho defensivo de qualidade, como mostram as nove acções defensivas no meio-campo contrário. E foi o MVP do jogo da Supertaça, bem como em dois dos jogos portistas nesta Liga.

2. Um “monstro” na frente de ataque

[ Comparativo de desempenho de Gyökeres entre as 3 primeiras jornadas de 23/24 e as 3 primeiras de 24/25 ]

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Se a época 23/24 de Viktor Gyökeres já havia feito disparar os alarmes dos “tubarões” do futebol europeu, este arranque de 24/25 eleva esse espanto a outro nível. A esta distância já ninguém se lembra que o sueco começou bem a temporada transacta, mas com algumas oscilações, antes de disparar para desempenhos de grande nível. Agora, as exibições de Gyökeres “assustam”. São já seis golos e uma assistência, uma média de seis remates de bola corrida por 90 minutos e bem mais disparos após passe vertical. A diferença entre marcados e esperados (xG) nem é relevante, a conversão de ocasiões flagrantes até caiu e, nesta altura, ainda não ganhou qualquer duelo aéreo ofensivo, mas não há dúvidas: Viktor está a obliterar nestas três primeiras jornadas o que fez nas três rondas iniciais de 23/24.

3. A redenção de Iván Jaime

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O espanhol deu nas vistas no Famalicão, e de que maneira, levando o Porto a contratar o criativo na época passada. A verdade é que Iván Jaime demorou a impor-se, sentiu dificuldades para ser opção e acabou a temporada com um processo disciplinar que o levou a trabalhar com a equipa B. Só que Vítor Bruno resgatou o jogador e este tem correspondido com excelentes exibições. Na Supertaça marcou um golo e foi uma das figuras, e neste arranque de Liga leva dois tentos e duas assistências, mais do que havia conseguido na última época (embora incompleta) no “Fama” e em 23/24 no Dragão. É um dos jogadores que poderá decidir o “clássico”.

4. Os “putos” que pegaram de estaca

A fazerem as delícias dos adeptos das duas equipas estão dois jovens formados nos dois “grandes”. Geovany Quenda é, provavelmente, o mais exuberante, apesar de ter apenas 17 anos. Marcou na Supertaça e tem realizado grandes partidas na Liga, ocupando todo o corredor direito com qualidade defensiva, mas assumindo-se, primordialmente, como extremo, como o próprio Rúben Amorim já o referiu. Nesta altura leva, em média, 3,4 dribles tentados por 90 minutos, com extraordinária eficácia de 89%.

No “miolo” portista tem estado Vasco Sousa. Com 21 anos, o médio tem feito a ligação entre o meio-campo e o ataque, com qualidade, inteligência táctica e critério a fazer rodar o jogo dos “dragões”. Tal como Quenda, ainda lhe falta golo, marcado ou assistido, mas corre o risco de ser o “patrão” do sector portista e já mostrou maturidade para estes grandes palcos.

O jogo de sábado será uma espécie de tira-teimas do jogo da Supertaça. As duas equipas somam por vitórias os jogos na Liga, estão em forma, no encontro que definiu o primeiro troféu da temporada acabaram por dividir o protagonismo, pelo que agora, em Alvalade, veremos se o que aconteceu a 3 de Agosto representa a força das duas equipas, ou se uma delas vai assumir-se como a melhor nesta ffase.

Pedro Tudela
Pedro Tudelahttps://goalpoint.pt/
Profissional freelancer com mais de duas décadas de carreira no jornalismo desportivo, colaborou, entre outros media nacionais, com A Bola e o UEFA.com.