Sporting: os factos que explicam a “DisasterClass” de Amorim em Aveiro

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O Sporting goleava o FC Porto em Aveiro aos 24 minutos. Pouco depois as claques leoninas precipitavam-se, lançando foguetes dentro do próprio estádio, talvez porque nada fazia prever a reviravolta épica que viria a ter lutar… ou será que fazia? Os analytics do jogo ajudam a compreender o desfecho da espectacular Supertaça 2024 e a clarificar se o naufráfio leonino se deveu apenas a um conjunto de  erros individuais infelizes ou se existem índicios de “pecado original” na preparação do primeiro título da época. Afinal, é para isso que estes números servem, para nos ajudar a compreender os acontecimentos, para lá do que é observável (e por vezes enganador) a olho nu.

Leão iludido por eficácia ofensiva extrema

A emotiva final deixou em muitos a ideia de que o Sporting jogou bem no plano ofensivo, sobretudo na primeira parte, perdendo o jogo apenas pelos erros cometidos no plano defensivo. No que toca à fase defensiva fica um “já lá iremos” mas a primeira conclusão sugerida na frase anterior revela-se precipitada, com as dados a descobrir pormenores pouco abonatórios para os “leões”, mesmo num jogo em que marcaram três golos.

O Sporting tentou o remate 14 vezes, precisamente o número de disparos que permitiu ao FC Porto. Seis desses remates surgiram em apenas 30 minutos, mais precisamente entre o 6º e o 36º minuto da primeira parte, a fase virtuosa dos leões. Mas o mais curioso é perceber que o Sporting não só marcou os seus golos nos três remates enquadrados que somou nesse período como descobrir que não mais os leões enquadraram qualquer disparo com a baliza portista nas restantes nove tentativas que ensaiaram até final, cinco delas…  a terem lugar na segunda metade do prolongamento, já após a reviravolta épica do Porto.

[ A fase mais rematadora do Sporting teve lugar entre o 3º e 36º minuto ]

A perigosidade dos momentos em que os leões decidiram alvejar a baliza portista também nos ajuda a perceber que o Sporting teve muito maior fortuna do que caudal ofensivo, em Aveiro. Dos três golos leoninos apenas o segundo, por Pote, somou uma probabilidade de golo superior (25%) com os restantes dois a assentarem mais na qualidade de execução dos seus autores (Inácio e Quenda) do que na probabilidade de golo das situações de remate que aproveitaram. Alias, o remate sportinguista com maior promessa de golo foi mesmo o cabeçeamento que Gyökeres desperdiçou, ao 16º minuto, com 42% de probabilidade de golo, oito minutos antes dos leões chegarem ao terceiro golo e “encerrarem a loja” do acerto mínimo com a baliza de Diogo Costa que até terminou o jogo com… zero defesas.

O final do jogo seria marcado pelas ténues tentativas do Sporting em recuperar de uma reviravolta traumática: os leões somaram cinco remates no prolongamento, dos seis que ambas as equipas fizeram, mas nenhum deles teve mais de… 2% de probabilidade.

[ O mapa dos 14 remates leoninos no jogo, metade tentados de fora da área e apenas três enquadrados (os golos) ]

Os sinais de perigo estiveram lá, mesmo quando o jogo estava a correr bem ao leão

Ao mesmo tempo que o Sporting construia um resultado bem acima da real perigosidade criada e de uma normal taxa de aproveitamento, a turma de Amorim ia dando, desde o apito inicial, sinais das fragilidades que viriam a ser fatais, na hora de construir e defender em segurança.

[ As perdas de posse do Sporting por sectores, com destaque para as 11 perdas no sector defensivo direito ]

O Sporting perdeu 18 vezes a posse em zona de risco (no seu terço defensivo), contra apenas 10 do FC Porto. O número não só é elevado como se manifestou desde o início da partida (o Sporting chegou às 6 perdas aos 40 minutos de jogo, contra apenas uma do Porto), com particular incidência no corredor direito, à guarda de Eduardo Quaresma e Geovany Quenda, que sem surpresa terminaram o jogo com principais protagonistas leoninos neste capítulo, com seis (máximo do jogo) e três perdas de posse em zona proibida, respectivamente.

[ O FC Porto somou 14 acções defensivas no meio-campo leonino, nove delas precisamente no sector onde o Sporting mais comprometeu ]

Mas nem só de demérito leonino se fez o desequilíbrio leonino em posse, no seu sector recuado. Nove das 11 perdas de posse leoninas no sector entregue a Quaresma/Quenda foram motivadas por acções defensivas eficazes o FC Porto no mesmo sector, com Nico González (3) e Martim Fernandes (2) como principais protagonistas da proactividade que tantas dificuldades causou aos leões nessa zona específica o campo.

Aos desequilíbrios leoninos no seu terço defensivo somou-se também a “maciez” do meio-campo titular. Morita (2) e Hjulmand (1) foram protagonistas de apenas três dos 24 desarmes somados pelos “leões”. Morita não protagonizou aliás qualquer acção defensiva no meio-campo adversário portista, com Hjulmand a somar apenas duas. Do outro lado Nico González e Alan Varela chegaram ambos às três. A bola foi chegando demasiado rápido ao terço defensivo leonino, com as naturais consequências, evidentes mesmo na melhor fase leonina, na qual o Sporting somou seis disparos… mas também permitiu cinco, o último para o golo que deu início à reviravolta histórica.

Kovacevic mal batido? Há números para tirar a dúvida

Os guarda-redes estiveram longe de ser protagonistas da final, pela positiva. Diogo Costa acabou por sofrer golo nos três remates enquadrados que enfrentou ou seja não fez qualquer defesa em 120 minutos. Nem mesmo a qualidade do seu passe progressivo veio ao de cima, com apenas cinco passes longos eficazes, em 14 tentados. O portista terminou com -1,7 Golos Evitados, na diferença entre as Expected Saves que seria normal ter feito e as que (não) fez. 

Mas o novo guardião leonino esteve ainda mais apagado (ou evidente, depende do ponto de vista) do que o seu homólogo, constituindo factor importante na derrota no golo que decidiu a contenda. Vladan Koavecevic até trabalhou mais do que Diogo Costa, com três defesas e outras tantas saídas pelo solo mas os números não mentem… O bósnio terminou com -1,8 Golos Evitados, com o último golo sofrido em destaque. No momento em que Ivan Jaime decide rematar o lance tinha 1% de probabilidade de golo e nem mesmo o ressalto e mudança de trajectória ilibam o guardião, pois o remate passou a ter apenas 9% de expectactiva de golo de golo, tendo em conta a colocação/velocidade da bola e o posicionamento do “redes” do Sporting. 

Conclusão? A hecatombe não caiu do céu e é para o esclarecer que existem analytics

A tendência para enquadrar o que sucedeu ao Sporting em Aveiro nos “sortilégios do Futebol” é tão ou mais antiga o que o desporto-rei em si. No entanto, com toda a informação disponível hoje em dia, torna-se possível despistar essas simplificações, sobretudo quando existem padrões e indícios que emonstram que uma hetacombe memorável como a que sucedeu ao campeão nacional não caiu do céu nem foi apenas o somatório de três ou quatro erros individuais.

O Sporting foi frágil com posse e permeavel à transição portista, criando as falhas que haveriam de ditar o seu destino. No plano ofensivo o leão também não esteve bem, sendo apenas atipicamente eficaz durante escassos 30 minutos, o suficiente para iludir adeptos e provavelmente jogadores e até o timoneiro, ou não tivesse Rúben Amorim guardado a sua primeira tentativa de mexer no xadrez para bem tarde: o minuto 83.

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