Após eliminar o FC Porto nos oitavos-de-final, o Inter de Milão volta a defrontar mais uma equipa portuguesa nesta edição da Liga dos Campeões. Desta feita o adversário será o Benfica, num duplo confronto que vai assegurar a presença nas meias-finais. O primeiro duelo está agendado para esta terça-feira e, na visita ao Estádio da Luz, Simone Inzaghi não deverá abdicar do habitual 1x3x5x2, apostando num bloco baixo e compacto, jogando na expectativa e tentando explorar os espaços nas costas da defensiva “encarnada”. Tal como fez no Dragão, ante os “azuis-e-brancos”. Resultará desta vez?
[ O desenho do “catenaccio” do Inter no Dragão ]
Na antevisão à partida de Lisboa iremos realçar a importância de três elementos que os comandados de Roger Schmidt deverão ter debaixo de olho, sendo já conhecida a forma de actuar dos transalpinos. Se do lado benfiquista nota-se as ausências de Nicolás Otamendi, suspenso, Alexander Bah e de Gonçalo Guedes, lesionados, os “nerazzurri” poderão não contar com o “cérebro” da equipa, Hakan Çalhanoğlu, e com o central Milan Škriniar. Porém, há outros nomes a ter em conta.
André Onana
O internacional camaronês, que se destacou nos escalões de formação do Barcelona e que brilhou no Ajax, chegou a Milão a custo zero e não demorou muito tempo até roubar a titularidade a Samir Handanovic.
Com 1,90m e 88 quilos, o jogador de 27 anos é o que se denominou chamar de guarda-redes moderno, uma espécie de líbero, que tem uma tremenda facilidade e qualidade em jogar a bola com os pés, felino e ágil entre os postes. Neste momento é mesmo o guardião com mais golos evitados (defesas – xSaves) na Liga dos Campeões, nada menos que 7,9, algo que contrasta com o saldo negativo de 2,0 que regista na Serie A.
Poderá ser uma arma dos “nerrazzurri” para adormecer o Benfica e accionar o futebol directo, explorando a velocidade dos alas e de Lautaro Martínez. Como ponto menos forte, Onana denota algumas dificuldades em sair da baliza em cruzamentos (algo que o Benfica faz com regularidade), com 15,4% ineficazes na Champions – porém, Odysseas Vlachodimos apresenta ainda piores números neste capítulo (25%).
Nicolò Barella
Face ao ponto de interrogação colocado na utilização de Hakan Çalhanoğlu, a importância de Nicolò Barella será ainda maior. O internacional italiano é um dos pêndulos do Inter, um médio completo, que defende com assertividade e é criativo no momento de coordenar as acções ofensivas da equipa, em especial a partir da zona interior direita.
[ Heatmap (à esquerda) e padrão de passes de Barella na UCL 22/23 ]
Com um amplo raio de acção, possui características ímpares no plantel, inteligente a movimentar-se, será um apoio importante a Brozovic e a Henrikh Mkhitaryan, os possíveis parceiros na zona intermediária do terreno, e também à dupla de atacante, previsivelmente Edin Džeko e Lautaro Martínez. Anular o centrocampista de 26 anos será uma das missões do Benfica.
Lautaro Martínez… à procura da pontaria na Champions
Numa frente de ataque que tem Edin Džeko, Romelu Lukaku ou Joaquín Correa, quem dita as regras é Lautaro Martínez. A cumprir a quinta época na formação transalpina, o dianteiro é o principal municionador do ataque da equipa, não só pelos muitos golos que faz – tem 91 em 222 jogos oficiais, sendo que 17 foram nesta temporada -, como pelo trabalho invisível que faz.
[ Os remates de Lautaro nesta UCL: algum desacerto ]
Especialista em actuar no espaço entrelinhas, o internacional argentino funciona, muitas vezes, como um isco, que liberta os outros colegas. Altruísmo que se reflecte, ainda, no número de assistências. Já carimbou seis nesta temporada 2022/23 (em todas as competições) e está a apenas uma de atingir a marca que alcançou há duas épocas, quando o Inter arrebatou o “scudetto” com Antonio Conte ao leme. Na ausência do compatriota Otamendi (ambos estiveram entre os 26 jogadores que conquistaram o Mundial do Catar), será uma dor de cabeça para António Silva e o novo parceiro do jovem central, ao que tudo indica Morato.
[ O heatmap de Lautaro na UCL 22/23 ]
Este Inter é uma equipa de duas caras. Possui um plantel de imensa qualidade, mas tarda em reflectir esse facto em campo. A campanha na Série A tem sido para esquecer, ocupando o quinto lugar a 23 pontos do líder Nápoles, mas já conquistou a Supertaça italiana, está nas meias-finais da Taça de Itália e na actual edição da Liga dos Campeões atirou o Barcelona para a Liga Europa e eliminou o FC Porto. Eliminatória essa na qual jogou, em grande parte, “à italiana”, atacou pela certa no Giuseppe Meazza e, no Dragão, aguentou a magra vantagem de um golo.