UM verdadeiro amasso. A Espanha fez um “partidazo” na noite desta quinta-feira, não deu hipóteses à Itália e apenas pecou pelo magro golo que “apontou” – Golos esperados (xG) de 1,90 -, tal foi a diferença na qualidade – organização colectiva, individual e estratégica – entre as duas selecções. A estatística, qual algodão, não mente e deixou a nu as fragilidades dos actuais campeões europeus e a superioridade espanhola. Com o autogolo de Calafiori, a Roja foi a primeira selecção em prova a assegurar o primeiro lugar, deixando tudo em aberto nas restantes posições deste Grupo B. O duelo ficou ainda marcado por diversos recordes que foram batidos… Um deles o número de flagrantes falhadas: cinco pelos espanhóis.
Amasso banalizou transalpinos
A Espanha banalizou à Itália e apenas pecou na eficácia da finalização. A receita que deixou os italianos atordoados passou por uma pressão alta, asfixiante e bem coordenada, a explorar os três corredores, com especial ênfase para o lado canhoto, onde Nico Williams estava com o “diabo” no corpo e fez o quis de Di Lorenzo. No entanto, apesar do domínio total, os “nuestros hermanos” não conseguiram materializar em golos essa ampla superioridade que se traduziu na primeira parte em 12 acções com a bola na área contraria, nove remates (quatro no alvo), 62% da posse e duas ocasiões flagrantes desperdiçadas – golos esperados (xG) de 0,9 – por Pedri e Nico. A Itália tinha somente três acções na área espanhola, 36% da posse e dez perdas da posse no terço defensivo.
Luciano Spalletti tentou alterar o cenário da partida com as entradas de Cristante e de Cambiaso, mas sem sucesso, pois os espanhóis continuaram a fazer o queriam. Pedri falhou mais uma oportunidade flagrante até quem dois minutos volvidos, à 12.ª tentativa, surgiu o tão almejado golo, com o azar a bater à porta de Calafiori A Roja foi em busca de “matar” as esperanças transalpinas, mas Donnarumma, com três intervenções de alto nível, impediu que Morata (58’) e Ayoze Pérez (90+1 e 90+2’) fizessem o 2-0. Pelo meio, aos 60’, Yamal ficou a centímetros de voltar a fazer história. Do ataque transalpino, registo apenas para um remate sem perigo de Pellegrini e para um centro de Cristante que não encontrou ninguém para finalizar.
De la Fuente já não conta com Xavi, Iniesta, Iker Casillas e companhia, mas tem em mãos um conjunto com belos interpretes, os irreverentes Yamal e Nico, o pêndulo Rodri, o todo-o-terreno Fabían Ruiz, o experiente Carvajal, além de preconizarem o toque de bola, este “tiki-taka” tem outras valências, como a verticalidade dos extremos e do mal-amado Morata… Cuidado, habemus candidato!
[ Espanha instalou-se no meio-campo italiano ]
O Jogo em 5 Factos
Italianos sem sal… atacante – A Itália passou a primeira parte a “cheirar” a bola e apenas realizou um remate (desenquadrado de Chiesa).
O EURO dos autogolos – Com o desacerto de Calafiori, subiu para cinco o número de autogolos nesta edição da prova.
Sem rumo – Os italianos acabaram a partida com 14 desarmes sofridos, 22 perdas da posse (terço defensivo) – recorde negativo -, 19 passes de risco falhados e apenas dez acções defensivas no meio-campo contrário.
Lamine Yamal – Cheio de personalidade, joga como se estivesse na escola e não tem medo de ninguém. Aos 16 anos, poderá ser aquilo que bem entender, porque talento não lhe falta. Voltou a estar em foco com um remate – ficou a centímetros de apontar um golão -, foi eficaz em quatro dos seis dribles feitos, venceu seis duelos, perdeu cinco, foram três as conduções progressivas, perdeu a posse de bola em 12 ocasiões, números que lhe valeram um rating de 6.2.
Os recordes de Nico Williams – Fez o quis no corredor esquerdo e Di Lorenzo – dois dribles permitidos no terço defensivo, sete duelos ganhos e cinco perdidos – ainda deverá estar com a cabeça à roda. O extremo do Athletic bateu uma série de recordes – positivos e negativos – com quatro passes para remate, uma ocasião flagrante criada, oito acções com a bola na área contrária (máximo), recebeu dez passes progressivos (outro máximo), registou 16 duelos perdidos (número mais elevado na competição), foi eficaz em quatro dos 11 dribles tentados, bateu mais um recorde com as conduções progressivas (7) e com os cinco desarmes sofridos.
MVP GoalPoint: Marc Cucurella
Poderá estranhar-se a ausência de Grimaldo no “onze”, na sequência da bela época que fez no Leverkusen, mas o certo é que o rival do ex-Benfica tem justificado a titularidade, principalmente nos momentos de reacção à perda da bola e nas transições defensivas. Fechou a partida com uma ocasião flagrante criada, um acerto de 100% nos 37 passes que fez, venceu dez duelos, perdeu apenas dois, registou quatro recuperações de bola, duas perdas, dez acções defensivas (recorde no duelo) e sofreu duas faltas. O lateral esquerdo foi o MVP com um GoalPoint Rating de 8.0.
Outros Ratings
Gianluigi Donnarumma 7.9
Não fosse ele e a Espanha poderia ter repetido os 4-0 com que cilindrou a Itália na final do EURO 2012. Sem culpas no autogolo sofrido, agigantou-se com oito defesas (máximo na competição), uma das quais negando uma ocasião flagrante. Apenas o compatriota Francesco Toldo, em 2000, tinha feito mais defesas na fase final de um Europeu.
Fabián Ruiz 7.6
Mais uma “masterclass” de um dos melhores médios da actualidade. Sempre de cabeça levantada, pautou os ritmos e carimbou três remates, uma eficácia de 94% em 64 passes, 56 passes recebidos, sete acções com a bola na área contrária, venceu seis duelos, perdeu o esférico em nove ocasiões e acumulou 14 recuperações de bola – máximo na prova.