Estendal da Memória : Rui Jorge, o titulado discreto

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Entre 1991 e 2006, foram vinte títulos. Sete títulos nacionais, três Taças de Portugal e dez Supertaças. Apenas com duas camisolas vestidas, as do FC Porto e Sporting. Nas outras duas que envergou, Rio Ave e Belenenses, Rui Jorge foi igualmente um selo de inequívoca qualidade.

Rui Jorge antecipou a importância da vertente cognitiva no jogo. Fisicamente não era um portento, não era muito alto, a velocidade não era de ponta. Porém, a leitura das acções, a capacidade de antecipar situações, a execução dos lances e o entendimento do jogo fizeram dele um dos melhores laterais-esquerdos do futebol português.

Discreto, dentro e fora do campo, apostou no conteúdo em detrimento da forma. O rendimento, a fiabilidade, o profissionalismo sempre falaram por si, muito mais do que as palavras e na memória os triângulos com Pedro Barbosa e João Pinto e as combinações com Folha e Drulovic.

As suas características continuariam a ter cabimento no futebol de hoje, pois o índice cognitivo, a capacidade de ter bola, de ser capaz no momento da decisão, a competência no cruzamento levariam seguramente um treinador que privilegie a posse a olhar para Rui Jorge como um elemento sedutor.

A pouca apetência pelo mediatismo leva a que o devido reconhecimento pela carreira esteja por efectuar. Passar 13 das 15 épocas de carreira no FC Porto e Sporting e nelas ajudar a conquistar 20 títulos nacionais está ao alcance de um leque muito restrito, isto quando hoje basta um jogo bem conseguido para ser projectado ao estrelato. Faltou-lhe a imposição europeia, pois, seguramente, não esquece as derrotas frente à Grécia, no Euro’2004, e ao CSKA, em 2005, na final da Taça UEFA.


O “Estendal da Memória” é uma rubrica de histórias e memórias futebolísticas, da autoria de Carlos Freitas, que pode acompanhar também no instagram, com novas histórias todas as terças e sextas.

Carlos Freitas
Carlos Freitashttps://www.instagram.com/estendaldamemoria/
Diretor Desportivo, com passagens por Sporting CP, SC Braga, Panathinaikos, FC Metz, ACF Fiorentina, Vitória SC e RFC Seraing. Começou como jornalista, agora comenta no Canal 11 e nunca perdeu o gosto pela escrita e boas histórias.