Nas décadas de 80 e 90, a audácia de vários presidentes portugueses logrou a aquisição de jogadores internacionais com uma qualidade que ainda permanece na retina de quem os viu. Mladenov (Belenenses, Vitória FC, Estoril), Abdel Ghany (Beira Mar), Dane Kupresanin (Famalicão, Vitória SC), Rufai (Farense), Yekini (Vitória FC), Zdravkov (Chaves), Drulovic (Gil Vicente, FC Porto, Benfica), Mihaylov (Belenenses), Gil (Farense), Siaisia (Tirsense), Zahovic (Vitória SC, FC Porto), Slavkov (Chaves) são exemplos que sustentam a tese de que o Homem sonha e a Obra avança.
Há quem defenda que, actualmente, os montantes que dinamitam o mercado de transferências fazem com que a dificuldade de recrutar bem tenha aumentado. Não me parece. Ano após ano, o mercado ajusta-se a novos intérpretes do mesmo modo que as Ilhas Faroé batem a Chéquia no apuramento para o Mundial, o Qarabag faz sete pontos em 12 possíveis na Fase Liga da UCL, a mesma onde os cipriotas do Pafos batem o Villarreal.
É desta saudável inconstância que surgem heróis improváveis, novas figuras de um mercado onde a classe média europeia (onde se situa a economia dos melhores emblemas nacionais) tem dificuldade em olhar para cima, leia-se, penetração no espaço de actuação mercantil das cinco melhores Ligas do Velho Continente.
Nada que obste a que, na Bélgica, o FC Brugge possa ter descoberto Jashari (entretanto transferido para o Milan), Nusa (hoje no Leipzig), enquanto Ordoñéz, Stankovic, Onyedika, Tzolis, Tresoldi ou Forbs aguardam semelhante passo. E se o clube flamengo trabalha bem, o que dizer do campeão Union Saint-Gilloise. Machida (Hoffenheim), Ivanovic (Benfica), Boniface (Leverkusen), entre outros, geraram importantes mais-valias, as mesmas que a breve trecho serão logradas por MacAllister ou Rodriguez.
Na mesma zona europeia e em linha com o poder económica das mais potentes SAD’s portuguesas, chega o melhor exemplo recente dos Países Baixos. O Feyenoord foi capaz de, nos últimos anos, descobrir Aursnes (Benfica) ou Hancko (Atlético Madrid). Estes dois últimos ofereceram lucros de monta ao emblema de Roterdão, isto enquanto Leo Sauer ou Hadj Moussa suscitam a expectativa de que algo de semelhante se passará com eles.
As soluções de mercado são diversificadas e não obrigam ninguém a confinar-se a um único segmento, como provam os exemplos dos anos 80 e 90.


