Um dos terceiros melhores marcadores da Liga Portugal 2022/23, com 17 golos, e grande figura de um Gil Vicente que foi intercalando o muito bom com o mau. Fran Navarro foi, ao longo da temporada, associado a uma transferência para o FC Porto, que o emblema “azul-e-branco” acabou por confirmar durante o mês de Julho, a troco de €7M, com um contrato válido até Junho de 2028.
O atacante espanhol, de 25 anos, chega ao Dragão após duas temporadas nas quais brilhou em Barcelos, com um total de 37 golos em 78 jogos em todas as competições, números muito interessantes para um jogador a actuar numa equipa que viveu grande parte da temporada a lutar pela manutenção. Será, por isso, motivo de entusiasmo para os adeptos do Porto? O que poderá dar Navarro à equipa de Sérgio Conceição e em que poderá melhorar? Precisamente estas as perguntas a que nos propomos responder nesta análise ao reforço portista, e há muito por onde pegar.
Fran Navarro é natural de Valência, Espanha, e foi precisamente no clube “che” que fez a sua formação completa, antes de ser emprestado, em 2019/20, aos belgas do Lokeren e aterrar em 2021/22, desta feita em definitivo, no Gil Vicente. O que se seguiu foram golos e mais golos, uma evolução muito interessante no seu jogo e um peso grande no futebol minhoto.
Veloz, móvel e com grande sentido de espaço, que lhe permite surgir solto em zonas de finalização, Navarro é um homem de área, embora não seja o típico “pinheiro”, uma vez que tem “apenas” 1,80m de altura e 77kgs. A mobilidade e repentismo são as suas principais armas, o que lhe permite, igualmente, jogar de costas para a baliza adversária e combinar com os colegas de equipa em rápidas tabelas e desmarcações, dando sempre linhas de passe.
Estas características levam, legitimamente, o adepto a questionar que papel Fran poderá ter no Porto 2023/24. À sua frente terá Mehdi Taremi, Toni Martínez e Evanilson – caso o mercado não mude o cenário -, sendo que comparamos Navarro com os dois primeiros na infografia acima. Com uma particularidade. Estes números referem-se todos à última época de cada um dos jogadores antes de chegarem ao Dragão: Taremi no Rio Ave, Martínez no Famalicão.
As diferenças entre Navarro e Taremi neste contexto são claras, não o sendo tanto em relação a Toni Martínez. Olhando os números acima, a tendência imediata é para afirmarmos que o espanhol ex-Gil é bem mais aproximado em características ao espanhol ex-Famalicão. Taremi ganha em quase tudo nas estatísticas que apresentou ao serviço do Rio Ave, enquanto Fran e Toni quase se equiparam em remates por 90 minutos, número reduzido de acções por jogo, nos dribles e pelo saldo francamente negativo no aproveitamento das oportunidades, na diferença entre os golos marcados e esperados (xG). E é aqui que o trabalho de Sérgio Conceição terá de incidir.
Uma mira a precisar de afinação
ESTÁVAMOS A VER QUE NINGUÉM PERGUNTAVA 🙂
Fran Navarro 🇪🇸 terminou com um rating modesto para os seus feitos goleadores, mas há razões para isso, eis algumas:
⚠️ foi o jogador com pior eficácia no comparativo entre golos marcados e "exigíveis", face às situações de que usufruiu… https://t.co/IxBqi98xbX pic.twitter.com/cfq2yYuAXg
— GoalPoint (@_Goalpoint) June 2, 2023
Boa pergunta, eis a resposta:
– o Gil Vicente foi a 6ª equipa que mais ocasiões flagrantes criou: 60 (excluindo penáltis, +8)
– Concretizou apenas 26.7% (16), o 5º registo de aproveitamento mais baixo da Liga. Ficaram por aproveitar 44
– Navarro desperdiçou 23 dessas 44… https://t.co/rvpkALXQ8n pic.twitter.com/ftiLyrd85Y
— GoalPoint (@_Goalpoint) June 2, 2023
Ao longo da temporada fomos apontando isso mesmo e, no final da mesma, referimo-lo por diversas vezes: Navarro é um excelente ponta-de-lança, marca golos como poucos, mas os seus números na finalização, em 2022/23, poderiam ser bem melhores. Fran foi o jogador da Liga com pior eficácia no comparativo entre golos marcados e esperados, um saldo negativo de -4,0. É certo que os três penáltis que falhou nos seis que bateu ajudam bastante neste detalhe, mas há outros a ter em atenção.
[ O desfecho das ocasiões flagrantes usufruídas por Navarro na última Liga ]
O Gil Vicente foi a sexta equipa do campeonato com mais ocasiões flagrantes criadas (60), mas Fran contribuiu para o desperdício como nenhum outro. Foram, no total, 26 falhadas, mais quatro que qualquer outro jogador, lances que podem ser vistos no “boneco” acima – a amarelo os golos, a azul os remates enquadrados, a vermelho os desenquadrados.
[ Os remates de Navarro na Liga 22/23, quanto maiores os círculos, maior os xG – a amarelo os golos ]
Como referimos anteriormente, Navarro terminou com saldo negativo de -4,0 na relação entre golos e os esperados. Os seus 17 tentos “deveriam” ter sido 21, que eram os esperados tendo em conta a qualidade das ocasiões de que dispôs. O espanhol foi mesmo o jogador em toda a Liga com mais xG a favor, rigorosamente 21, um dado que tem duas leituras: a negativa em relação ao aproveitamento negativo; a positiva porque ao dispor de todos estes lances, mostrou mobilidade, inteligência, posicionamento e visão para estar no sítio certo, à hora certa, e isso é um ponto que poderá ser explorado num Porto que se espera com muito mais iniciativa ofensiva e tempo no último terço ofensivo do que teve o Gil.
Compatível com Taremi
A questão que se coloca é: onde encaixar Navarro neste Porto, perante a concorrência? Tudo dependerá do espanhol e de Sérgio Conceição, claro, mas há um comparativo que tem de ser feito. Mehdi Taremi é a grande referência ofensiva dos “azuis-e-brancos”, jogador que precisará de desalojar… ou não. Olhando para as características “a olho” e para os números de ambos, parece evidente que são jogadores perfeitamente compatíveis.
Taremi é um “vagabundo”. Surge na área, recua, encosta à esquerda, distribui jogo. Trata-se mais de um segundo ponta-de-lança do que propriamente um homem fixo de área, e isso nota-se em diversos aspectos. A começar pelos heatmaps acima. O iraniano está em todo o lado no ataque, Navarro brilha mais na área. Por outro lado, Mehdi é um jogador com muita intervenção, tendo terminado a sua temporada no Rio Ave com 36,5 acções com bola por 90 minutos e a última no Porto com 43,9. Navarro não passou das 23,9, números baixos, mesmo tendo em conta que o Gil Vicente foi uma equipa sempre com menos bola.
Este aspecto aponta para um jogador mais de expectativa, à espera de ser servido para finalizar, em vez de participar tanto nos momentos de construção – só 0,4 passes para finalização por partida em 22/23, bem abaixo do que Taremi e Martínez fizeram nas últimas épocas pré-Porto. Mais ainda, Fran foi o ponta-de-lança com menos conduções por partida da temporada finda, parcas 0,2, muito distante das 1,4 de Taremi, o que aponta, mais uma vez, para um jogador de finalização e menos de participação global no jogo colectivo.