Reforços | Orkun Kökçü, diamante turco nas mãos de Schmidt

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Orkun Kökçü, 22 anos, natural de Haarlem, nos Países Baixos, e internacional pela selecção da Turquia (22 internacionalizações e dois golos marcados). Eis o médio que chegou ao Estádio da Luz com galões de super estrela e com a responsabilidade de ter protagonizado a transferência mais cara da história do futebol português. Contratado ao Feyenoord, custou aos cofres do Benfica €25M, numa operação que poderá render mais €5M aos campeões neerlandeses “mediante cumprimento de objectivos desportivos”, pode ler-se no comunicado enviado pelas “águias”, aquando da oficialização da contratação, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Luís Catarino ajuda-nos a perceber melhor como joga o turco.

Um “box-to-box” refinado

Após uma temporada em que foi peça preponderante no trajecto vitorioso do Feyenoord na Eredivisie – o conjunto de Roterdão não levantava o “caneco” desde 2016/17 – e na boa campanha na Liga Europa (caiu aos pés da Roma nos quartos-de-final), com uma folha de serviços de impor o respeito – 46 jogos, 12 golos e cinco assistências em todas as competições -, Kökçü ingressa na Luz com as expectativas nos píncaros.

Visto por muitos como o “substituto” de Enzo Fernández, o turco tem características distintas das do argentino, mas poderá acrescentar diversas ferramentas na zona central dos “encarnados”, num sector que já conta com Florentino, João Neves, Chiquinho, Fredrik Aursnes e ainda o jovem Martim Neto.

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Moldado pelo experiente Dick Advocaat, numa primeira instância, e pelo jovem Arne Slot, posteriormente, o MVP da última edição da Liga neerlandesa deixou de ser apenas um “número 10” para se transformar num médio completo, pois preenche todas as posições na zona intermédia, um “box-to-box” moderno que interpreta os momentos do jogo com mestria, recua para iniciar a primeira fase de construção, algo que Enzo fazia como poucos e que Chiquinho e João Neves reproduziram na temporada passada.

Actua sempre de cabeça levantada, tem uma óptima eficácia no capítulo do passe (longo ou curto) – a técnica apurada ajuda-o a “quebrar” as zonas de pressão dos opositores, variando o centro do jogo com imensa facilidade – e acciona a meia-distância e os lances de bola parada recorrendo ao auxílio do pé direito – o remate é mesmo um dos detalhes que o distingue, pela positiva, na comparação com o Enzo Fernández dos tempos de Benfica e, em especial, em relação a Chiquinho. Apesar de ter evoluído, no capítulo defensivo, ainda denota algumas desatenções e, em algumas fases, não é tão incisivo no momento da transição defensiva – recuperação pós perda da posse -, algo que deverá melhorar.

No habitual 1x4x2x3x1 desenhado por Roger Schmidt – o mesmo desenhado utilizado pelo Feyenoord -, e as suas inúmeras variações, o turco poderá ocupar as três posições no corredor central, dependendo da estratégia que for utilizada pelo técnico germânico e a composição que for escolhida. É um multifunções que vai dar um “boost” à posição, “casando” com os vários perfis existentes no plantel. De Florentino a Aursnes, passando por João Neves, Chiquinho ou até o jovem Martim Neto, não faltarão peças para ir gerindo a casa de máquinas dos “encarnados”.

[ O amplo raio de acção de Kökçü na última Liga Europa ]

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Em resumo, Orkun Kökçü, que foi contratado para ser um “upgrade” no meio-campo dos campeões nacionais, é um médio completo, tecnicamente evoluído, tacticamente inteligente e ainda com uma considerável margem para evoluir.

“O Kökçü foi muito bem seleccionado para preencher o vazio deixado por Enzo Fernández”
(Luís Catarino)

Numa espécie de ataque “versus” contra-ataque, lançamos um desafio a Luís Catarino, pedindo ao comentador que esmiuçasse quem é o senhor 25 milhões. Desafio que foi prontamente aceite.

Como joga Kökçü?

“Sabe jogar para a frente. O Kökçü era um médio-ofensivo que foi trabalhado pelo Dick Advocaat e pelo Arne Slot para uma posição ligeiramente mais recuada, como segundo médio-centro e com um perfil mais completo. Por esse motivo, foi trabalhando mais a parte física e táctica para dominar mais vezes e com mais eficácia os tempos do meio-campo: ditar os ritmos com a bola, mas também na pressão e na cobertura porque passou a evidenciar mais disponibilidade para fazer deslocações mais agressivas na fase sem bola, para apertar o oponente, para ser mais presente nos vários momentos.”

“Na época passada (2021/22), no Feyenoord, era o médio-centro esquerdo, com o Aursnes à direita dele e, por exemplo, o Guus Til a ’10’ em 4-2-3-1. Depois, em 2022/23, manteve a mesma posição, com o Wieffer em vez do Aursnes e o Szymanski em vez do Til. Mas a ideia do Arne Slot era que o Aursnes/Wieffer e um lateral-interior dessem protecção para o Kökçü ter mais oportunidade para saltar para a zona ofensiva e assumir 1v1 ofensivo, ficando também mais perto das assistências e dos golos, contra equipas que se fechem muito atrás. Aliás, essa é uma nota importante: ele é adequado para raciocinar ataques numa equipa dominante, que queira soluções criativas e alternadas para confrontar formações recuadas e defensivamente densas.”

“Lembro-me, por exemplo, de um jogo muito bom que fez nesta época contra a Roma, em Roterdão. Mostrou bem aquilo que vale. É um centrocampista muito hábil a driblar e a pisar a bola (destro, mas usa bem o pé esquerdo) e com uma visão de jogo que lhe permite descobrir e lançar os colegas à distância com passes excelentes, como o Enzo Fernández também era capaz de fazer.”

[ O mapa de passes progressivos de Kökçü pelo Feyenoord na UEL 22/23, onde foi o 2º com melhor média por 90m ]

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“A qualidade de passe, no geral, é um dos parâmetros que se realça, tanto em jogo corrido como a bater livres e cantos. Remata muito bem e tem propensão para fazer golos. Atente-se no seguinte: o Kökçü, em cada uma das últimas duas épocas do campeonato holandês, foi o médio-centro que mais passes decisivos efectuou, sugerindo a tendência para criar situações de golo”, começou por realçar o analista da Sport TV, algo que bate certo com os dados que apresentamos acima de passes para finalização, superiores a Enzo e Chiquinho.

De que forma pode ser potenciado pelo Schmidt?

“Acredito que o sistema táctico do Schmidt no Benfica lhe possibilite uma integração ainda mais rápida e facilitada, pois tem semelhanças ao anterior, do Feyenoord. Embora houvesse uma oportunidade para recuperar a dupla que o Kökçü fez com o Aursnes em Roterdão, penso que o Schmidt também já percebeu que o norueguês pode ser mais vezes útil como falso-ala e entrar mais vezes em zonas de finalização, que foi um ‘upgrade’ em relação àquilo que o “8” do Benfica fazia no Feyenoord.”

“Por isso, à partida, vejo o Kökçü como médio-centro esquerdo, com o João Neves à direita dele. Não acredito tanto numa utilização do turco como médio-ofensivo na posição que tem sido do Rafa. O Schmidt, para essa posição atrás do ponta-de-lança, já provou que prefere aceleradores em corrida, como o Rafa, Neres ou Guedes (quem sabe, o Di María), que ataquem a baliza mais rápido. Penso que a lógica no Benfica será a de apresentar o Kökçü para organizar e manobrar numa escala de segundo médio-centro, no corredor centro-esquerdo, com mais área para levantar a cabeça e usar o pé direito, não tanto a ‘dez’, embora pudesse jogar bem aí”.

O que poderá acrescentar à formação da Luz?

“O Kökçü [pronuncia-se ‘Kâktshu’] foi muito bem seleccionado num cenário pós-Enzo Fernández e, para preencher o vazio do argentino, foi do melhor que a direcção do Benfica fez em matéria de mercado. Não há muitos jogadores disponíveis no cenário internacional que se pudessem assemelhar tanto ao Enzo. Já teria valor para actuar num grande da Premier League e tem a vantagem de ser um jogador cada vez mais valorizado, também na selecção da Turquia – jogou pelos Países Baixos até aos juniores, mas escolheu os AA da Turquia, também por razões familiares, e é adepto do Besiktas”.

“O facto de ele estar em ascensão abre a possibilidade de o Benfica garantir rendimento desportivo imediato e de obter lucro financeiro com uma transferência futura se for oportuno. E não tem problemas de habituação à pressão, pois jogar no Feyenoord é ‘barra pesada’ e os adeptos cobram bem. Não só ele cresceu nessa atmosfera, como se tornou capitão e campeão lá. Roterdão é exigente. Destacaria o facto de ele ter feito 175 jogos na equipa principal do Feyenoord (estreou-se com 17 anos) e é um dado que sugere uma utilização regular e pouca propensão para lesões”, finalizou.

Blindado com uma cláusula de rescisão de €150M, o multifunções turco rubricou um vínculo com a duração de cinco épocas que irá vigorar até 30 de Junho de 2028.

Leonel Gomes
Leonel Gomeshttps://goalpoint.pt/
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.