Que noite louca se viveu na Luz! Muita chuva (um autêntico dilúvio), trovões (alguns deles ensurdecedores), três penáltis, golos bizarros, um “hat-trick” de Pavlidis e um autêntico balde de água gelada mesmo à beira do fim ditaram uma inglória derrota por 5-4 do Benfica na recepção ao Barcelona. As “águias” viveram uma primeira parte de sonho, com o ponta-de-lança grego a marcar por três vezes, mas a segunda metade acabou em pesadelo, com Raphinha a marcar no último minuto do período de descontos o golo da vitória do Barça. Derrota dura do Benfica, que complica as contas do apuramento da equipa de Bruno Lage.
Primeira parte de sonho, ao som de Vangelis e Carreras, segunda de pesadelo
O primeiro remate do jogo até foi de Yamal, mas foi o Benfica a marcar cedo, mostrando logo aí qual a estratégia para o encontro: passe cruzado para as costas da defesa do Barça a encontrar Carreras, que de pronto cruzou para o coração da grande área, encontrando Pavlidis. O grego finalizou de forma categórica, lançando-se para o que parecia vir a ser uma grande noite para ele e para o Benfica. Num lance quase a papel químico, outra vez com Carreras no cruzamento, Aursnes quase fez o 2-0 logo a seguir, mas foi o Barça a empatar, num penálti convertido por Lewandowski a castigar falta de Tomás Araújo sobre Alejandro Balde.
Os catalães cresceram no jogo, mas no primeiro tempo a sorte sorriu ao Benfica, porque a soube procurar. Nova bola para as costas da muito subida defesa contrária, falha incrível de Szczęsny e Pavlidis só teve de atirar a bola para o fundo da baliza deserta. Motivadas, as “águias” não tardaram a chegar ao terceiro golo. Nova excelente jogada, com a bola a passar por vários jogadores antes de Aursnes desmarcar, com um toque delicioso, Akturkoglu e o turco a acabar derrubado pelo infeliz Szczęsny. Oportunidade para Pavlidis fazer o “hat-trick”, que o grego não desperdiçou, convertendo a consequente grande penalidade.
O Barcelona terminou a primeira parte com 71% de posse de bola, mas de nada lhe serviu. O início da segunda parte trouxe mais do mesmo, com muita bola dos catalães, mas poucas oportunidades de golo. Até que, de repente, o encontro se tornou absolutamente caótico. Uma reposição de bola infeliz de Trubin permitiu a Raphinha, quase sem querer, reduzir para 3-2, e Ronald Araújo, para evitar que Pavlidis chegasse ao poker, antecipou-se ao grego e meteu ele mesmo a bola no fundo da própria baliza, recolocando o Benfica com dois golos de vantagem, mas a história estava longe de terminar. O Barça beneficiou de mais um penálti, novamente convertido por Lewandowski, Eric García empatou de cabeça e, na última jogada do encontro, no seguimento de um lance confuso na área do Barça, Raphinha arrancou supersónico e só parou quando fez o 4-5 final.
[ A análise de António Tadeia à derrota do Benfica ]
[ mapa de passes ]
O Jogo em 5 Factos
1. Diferença abissal na posse de bola
A estratégia do Benfica passava por tentar explorar as costas da defesa do Barcelona, sempre muito subida, cedendo a bola ao adversário, e os catalães terminaram o encontro com 73% de posse, subindo esse domínio ainda mais no segundo tempo, depois dos 71% com que terminaram a primeira parte.
2. Muitas acções na área
Apesar de ter tido pouca bola, o Benfica, logrou 22 acções com bola na grande área do Barcelona. Ainda assim, longe das 34 conseguidas pelo conjunto catalão.
3. Novo máximo de ocasiões flagrantes…e de xGoals
Tantas acções com bola nas grandes áreas contrárias acabaram por resultar num novo recorde de ocasiões flagrantes de golo num só jogo nesta edição da Liga dos Campeões. Foram 13, ao todo (sete para o Barcelona, seis para o Benfica). Num jogo de tal forma louco, não é de estranhar que também o recorde de xGoals tenha sido batido: 6.97, combinados entre as duas equipas.
4. Percentagem de passe demasiado baixa
O Benfica falhou 65 dos 222 passes que tentou no jogo, tendo 26 deles sido de alto risco. A percentagem de passes acertados por parte das “águias” foi de apenas 70,7%, em claro contraste com os 90,1% do Barça, que acertou 640 em 710.
5. Demasiadas perdas no terço defensivo
O Benfica terminou o jogo com 20 perdas de bola no seu terço defensivo, igualando o seu máximo na prova, mostrando dificuldades em sair a jogar perante a crescente pressão do Barcelona ao longo do encontro.
MVP GoalPoint: Raphinha
O antigo jogador do Sporting e do Vitória SC acabou por ditar o desfecho da partida com o golo da vitória do Barcelona no derradeiro lance do jogo, já depois de ter marcado outro quase de forma fortuita. Para além do bis, deu ainda cartas no drible, recebeu um total de 12 passes progressivos e foi ainda o jogador com mais acções defensivas no meio-campo contrário (cinco), bem como de remates realizados (sete, só três enquadrados).
Outros Ratings 🔺🔻
Destaques do Benfica
Pavlidis 7.3
O avançado grego deu três pontapés na crise de golos, mas o “hat-trick” acabou por ter um sabor amargo. Foi o jogador que mais duelos travou no encontro (20), dos quais ganhou seis, e teve cinco acções dentro da grande área do Barcelona.
Florentino 6.5
Ganhou mais de metade dos duelos que travou (sete em 13) e terminou a partida com 15 acções defensivas, entre as quais cinco desarmes. Foi também um dos mais acertados do Benfica no capítulo do passe, errando apenas três.
Aktürkoğlu 6.5
O extremo internacional turco conquistou uma grande penalidade, mas onde os seus números mais se destacaram foi no capítulo defensivo, com dois desarmes, duas intercepções e dois alívios.
Carreras 6.4
O lateral espanhol tocou o céu na primeira parte, em que brilhou com uma assistência e duas ocasiões flagrantes criadas. Teve a infelicidade de cometer a grande penalidade que ditou o terceiro golo do Barça, no segundo tempo, mas terminou o encontro com alguns números notáveis, como as dez recuperações de bola ou as cinco intercepções que somou. Contudo, mostrou-se permissivo no drible, sendo ultrapassado por quatro vezes.
Andreas Schjelderup 6.2
O norueguês pegou de estaca no “onze” do Benfica e, apesar de esta terça-feira ter estado mais discreto do que nas últimas partidas, ainda foi dele o cruzamento para o quarto golo das “águias” (marcado na própria baliza por Ronald Araújo). Teve duas conduções progressivas, ganhou cinco dos 12 duelos que travou e ‘conquistou’ dois cartões amarelos.
António Silva 5.6
Oito alívios e dois remates interceptados para o defesa-central que voltou a fazer dupla com Otamendi e ainda recuperou por quatro vezes a posse de bola.
Tomás Araújo 4.7
Teve o pecado de cometer a primeira grande penalidade do jogo, mas foi o jogador com mais acções defensivas no encontro: 17, incluindo seis desarmes. Ganhou 10 dos 19 duelos que travou, mas não esteve bem no passe, com uma eficácia de apenas 55%, tendo falhado oito passes de alto risco.
Destaques do Barcelona
Pedri 7.9
Uma actuação notável, coroada com a assistência para o 4-4, num jogo em que fez um total de seis passes para remate. Foi o jogador que mais passes recebeu (93) e de longe o que mais metros progrediu com bola (226).
Yamal 6.5
Irrepreensível no drible, concretizou os seis que tentou e ao todo ganhou 11 dos 18 duelos que travou. Progrediu um total de 118 metros com bola, mas perdeu o esférico por 18 vezes.