Odia do ano em que todos gostávamos de ser seleccionadores chegou. A escolha dos 23 jogadores que vão marcar presença nas fases finais é dos exercícios preferidos de cada adepto de futebol que se preze, e nunca houve nem nunca haverá uma convocatória que seja 100% unânime.
Com o GoalPoint Ratings todos esses problemas são contornáveis e é nessa base que nos propomos a um exercício arrojado, mas porventura mais justo do que todos os que se costumam ver por aí. Tendo em conta os desempenhos individuais de um lote de mais de 100 jogadores portugueses seleccionáveis, analisámos as suas exibições internas e europeias, e ainda o seu desempenho na qualificação, para chegar a um grupo final de 23 que contém os jogadores que mais justificaram ao longo da época um bilhete com destino a França.
Os guarda-redes
Entre os guarda-redes, Rui Patrício tem lugar cativo entre os eleitos, acima de tudo por ter sido titular indiscutível na fase de qualificação. A época no Sporting, sobretudo a nível europeu, não foi das mais brilhantes, o que deixa em aberto a questão da titularidade. Anthony Lopes, igualmente vice-campeão, foi dos melhores guarda-redes no campeonato francês e também na Champions League fez exibições de encher o olho, portanto não será descabido que Fernando Santos pense duas vezes antes de escolher o seu número um.
Para terceiro guarda-redes as opções são várias, mas se quiser recorrer à experiência, Fernando Santos tem em Eduardo o melhor candidato. Entre os novatos ainda por estrear, Mika seria, provavelmente, a opção mais justa dada a preponderância que teve na recuperação do Boavista.
Os laterais-direitos
Talvez a posição que mais dores de cabeça deu na qualificação, com vários jogadores a intercalarem a titularidade, mas também uma das mais fáceis de escolher o titular tendo em conta as suas prestações esta época. Vieirinha, apesar de ainda pouco valorizado pelos portugueses, foi indiscutivelmente o melhor lateral-direito português em 2015/16 e até um dos melhores da Europa. Veja-se a consistência das suas performances, tanto a nível interno como europeu, e constate-se que o lugar está, ou devia estar, entregue.
É na alternativa principal ao jogador do Wolfsburgo que a discussão acende. Bosingwa não esteve mal nos dois jogos que fez na qualificação, mas a sua temporada foi para esquecer e é o outro lateral-direito mais utilizado, Cédric Soares, que parece levar vantagem na corrida ao segundo posto. Miguel Lopes e também Nelson Semedo não seriam escolhas descabidas, mas ainda há Ricardo Pereira, que fica guardado para o próximo bloco.
Os laterais-esquerdos
Surge aqui a primeira grande discordância com as prováveis opções de Fernando Santos. Com a lesão de Fábio Coentrão, Eliseu tem sido o segundo na hierarquia do engenheiro, mas a consistência negativa das suas exibições, tanto a nível da selecção como do clube, obriga-nos a deixar de fora o recente tricampeão. Como opção principal para o lugar surge um nome que talvez surpreenda muita gente pelo facto de ter saído de Portugal como segunda opção no FC Porto, e por ter jogado quase toda a época numa posição que habitualmente não era sua, Ricardo Pereira.
O ainda muito jovem polivalente foi considerado quase unanimemente como o melhor lateral do campeonato francês, e o seu GPR atesta isso. Porém há outro defesa-esquerdo na Ligue 1 que deve ser tido em conta, e também pela polivalência. Raphael Guerreiro, que até foi utilizado na campanha de qualificação com sucesso, fez uma bela época tanto a lateral como a extremo-esquerdo e fez por justificar um lugar nos 23. Uma palavra para Tiago Pinto, uma das grandes figuras do excelente campeonato do Osmanlispor na Turquia, e que talvez para o ano, com alguma visibilidade europeia, consiga entrar nas opções.
Os defesas-centrais
Uma das posições que mais preocupa em termos de futuro tendo em conta que a média de idades dos habituais seleccionados situa-se bem acima dos 30 anos, mas também a prova de que há boas alternativas espalhadas por onde menos se imagina. De todos os possíveis escolhidos, Pepe é o mais consistente, tanto ao nível de clube como de selecção, mas o seu parceiro levanta muitas dúvidas. Bruno Alves fez uma época muito abaixo dos padrões esperados no Fenerbahçe, e não tem estado bem igualmente na selecção. Também Ricardo Carvalho fez uma época fraca, apenas salpicada com algumas boas exibições europeias.
Sobram então algumas vagas, para as quais optámos por José Fonte e Luís Neto entre os que já têm tarimba de selecção, e por um jovem que tem passado despercebido aos portugueses mas que fez provavelmente a sua melhor época de sempre em 2015/16, Pedro Mendes. Agora com 25 anos, o jovem formado no Sporting passou entretanto por Real Madrid, Sassuolo e Parma, até ser adquirido pelo Rennes, onde se afirmou como titular no centro da defesa, e o Europeu seria uma boa oportunidade para se ambientar a um lugar que será naturalmente seu no futuro.
Os médios-defensivos
Abordamos os médios-defensivos na enxurrada de opções existentes para o meio-campo. Partindo do princípio que a recuperação de Tiago é uma certeza e que o médio do Atlético de Madrid que ainda se pode sagrar campeão europeu, vai a tempo de dar o seu contributo em França.
Se assim for, o lugar está entregue e os números não deixam margens para grandes dúvidas em relação aos porquês, mas caso a forma de Tiago não dê garantias, Danilo Pereira irá, provavelmente, assumir com igual qualidade a posição.
Tanto um como outro têm tido desempenhos consistentemente acima da média por clube e selecção, deixando nesta condição William Carvalho de fora dos eleitos, mas o sportinguista pode beneficiar da polivalência de Danilo – caso Fernando Santos conte com ele como opção para defesa-central – e ocupar também justamente um lugar nos 23.
Uma palavra ainda para João Palhinha, que fez uma época extraordinária ao serviço do Moreirense e que, tendo ainda algo a provar, merece aqui uma menção.
Os médios-centro
Pelo número de internacionalizações e desempenho na qualificação se percebe logo qual o jogador com lugar cativo neste lote. João Moutinho pode andar mais longe dos holofotes do que o habitual, mas as suas épocas continuam a ter uma consistência impressionante e, acima de tudo, na selecção tem mostrado merecer a titularidade. Contudo, é nas restantes opções que Portugal se divide.
O GoalPoint Ratings, no entanto, não deixa margem para grande discussão: Adrien Silva e João Mário foram absolutamente preponderantes no grande campeonato do Sporting e fizeram por merecer uma presença nos 23, enquanto a quarta opção, apesar do ligeiro declínio no final da época, merece recair sobre André André, pelo que fez na primeira metade da época, sobretudo a nível das competições europeias.
Ficam assim de fora dois produtos do Seixal que têm sido opção para Fernando Santos mas que não mostraram estar ainda ao nível dos outros quatro: André Gomes, pela muito fraca campanha na Liga BBVA, e Renato Sanches, porque está ainda uns furos abaixo dos outros ao nível da consistência exibicional.
Quem merece uma palavra é Bruno Fernandes, titularíssimo da Udinese e que foi um dos melhores jogadores dos “bianconeros” esta época. Um jogador a acompanhar com muita atenção.
Os extremos
Como ponto prévio convém dizer que não somos malucos ao ponto de deixar Cristiano Ronaldo de fora neste lote. É que, como vai ver à frente, as opções para ponta-de-lança são tão escassas que resolvemos… reservá-lo. Mas já lá vamos.
As opções para o lugar de extremo já foram mais abundantes em Portugal, mas continuam a não faltar boas alternativas para os dois postos nas alas.
Jovens como Rafa, Gelson Martins, Iuri Medeiros ou Bruma podiam muito bem fazer parte do lote de 23, mas privilegiámos, neste caso, as habituais escolhas de Fernando Santos que fizeram épocas positivas, como Nani, Bernardo Silva e Ricardo Quaresma.
O outro lugar vai para o muito discutido Pizzi, que sendo pouco provável de ver na lista final, foi o jogador que mais oportunidades de golo criou na Liga NOS a cada 90 minutos (3,3), ranking em que chegou a estar em segundo a nível europeu.
Caso se confirme o pior cenário em relação a Bernardo Silva, Rafa será a escolha natural para seu substituto.
Os pontas-de-lança
A maior dor de cabeça de todas, tanto para nós como provavelmente para Fernando Santos. O melhor comprimido será Cristiano Ronaldo, mas até para arranjar um genérico alternativo as coisas complicam. Éder melhorou no Lille em relação ao que fez na primeira metade da época ao serviço do Swansea, e acaba por ser a nossa opção, mas também não nos escandalizaria uma aposta mais arrojada em André Silva.
O jovem ponta-de-lança do FC Porto terminou o campeonato em grande e tem ainda a final da Taça de Portugal para mostrar serviço num grande palco, mas para já tem que se aceitar a opção por Éder tendo em conta a escassez de opções.
Também Hélder Postiga não terminou mal o campeonato, mas apenas quatro jogos como titular do Rio Ave não são o melhor cartão-de-visita para voltar a marcar presença num Europeu. A outra solução interna, Bruno Moreira, teve exibições fracas apesar dos muitos golos, e sobra ainda Hugo Vieira, do qual não temos dados estatísticos além dos 21 golos que marcou no campeonato sérvio. Não vai ser fácil se Cristiano, por alguma razão, tiver que falhar algum jogo…
E ai estão eles, os 23 eleitos GoalPoint Ratings, horas antes de Fernando Santos dizer aqueles que, “na realidade“, irá levar consigo na aventura francesa que se aproxima.