Está tudo a pensar no mesmo. A Liga NOS 16/17 terminou e logo surgiu a habitual pergunta dos nossos mais fies seguidores: “Quando fazem o ‘onze’ da época?” Fizemos-vos esperar um pouco, enquanto apresentávamos Pizzi como melhor jogador da Liga, e ainda o craque com melhor desempenho em cada um dos 18 clubes, mas a espera chegou ao fim.
Numa época em que o Benfica se sagrou tetracampeão, terminando o campeonato com seis pontos de avanço sobre o segundo classificado, seria de esperar que a maioria dos eleitos pelo nosso algoritmo fosse dos “encarnados”, mas as “águias” acabam por ser prejudicadas (também aqui) pela arreliadora onda de lesões que assolou o plantel. A necessidade de filtrar as opções por jogadores que tenham alinhado uma quantidade de minutos significativa (neste caso 1400) fez com que ficassem de fora nomes que, tendo em conta o seu GoalPoint Rating final, entrariam no “onze”, com Jonas (6.82) e Grimaldo (6.27) a serem os maiores exemplos disso.
Em relação à primeira volta, quando fizemos o mesmo exercício, as principais alterações estão nas alas, onde o Porto substituiu directamente Diogo Jota por Brahimi e Corona “roubou” o lugar a um Pedro Santos em queda, mas também com as entradas do Moneyball Player, Filip Krovinovic, e de outro que podia ter merecido a mesma rubrica, o guarda-redes Vaná. De resto, no “onze” titular, a última alteração vai para a entrada de Nélson Semedo, o representante do Benfica que faz companhia a Pizzi.
Destaque ainda para a pouca intromissão de jogadores que alinham fora dos “três grandes”. Apenas os já citados Vaná e Krovinovic aparecem no “onze” titular, e só na defesa o central goleador Raúl Silva esteve próximo de tirar a lugar a Coates ou Felipe. Curioso é o facto de a terceira opção para as duas laterais serem jogadores… do Porto, mas por empréstimo.
Vaná estendeu a Manta
De perfeito desconhecido e suplente de Peçanha, a melhor guarda-redes da Liga NOS! Vaná ganhou a titularidade na baliza dos “fogaceiros” à oitava Jornada e o primeiro jogo, contra o Vitória de Setúbal, até nem lhe correu bem. A partir daí abriu autenticamente o livro e culminou o campeonato com exibições estrondosas contra Porto e Sporting, que lhe valeram esta distinção.
Aos 26 anos, fala-se que o Porto quer levá-lo de Santa Maria da Feira, e na comparação com Casillas os motivos ficam óbvios. Fez uma média de 2,6 defesas a cada jogo se considerarmos apenas remates feitos dentro da área, e ainda foi o jogador com mais saídas eficazes da baliza a cada jogo (1,2), até à frente de Ederson (1,1).
Os outro lugares do pódio ficam para Ricardo Nunes, veterano guarda-redes que esteve emprestado ao Chaves pelo Porto, e também para Charles, que conseguiu estar à altura do seu antecessor, Gottardi, a partir do momento em que este se lesionou.
Dois reforços e duas confirmações
Nélson Semedo confirmou as indicações da época passada e foi o melhor lateral-direito do campeonato. Fundamental na manobra ofensiva do Benfica, só Pizzi e William Carvalho terminaram a Liga com mais acções com bola a cada jogo do que as suas 80,5. Os seus números mais relevante foram sobretudo ofensivos, mas Nelsinho conseguiu ainda terminar o campeonato entre os 20 que mais desarmam. Perto de Nélson Semedo ficaram o seu antecessor no Benfica, Maxi Pereira, e o possível (e justo) sucessor do uruguaio no Porto, Victor García.
Do outro lado, Alex Telles conseguiu fazer esquecer a excelente campanha 15/16 de Miguel Layún, e não foi por ele que o Porto cedeu, pelo menos no campeonato. Com uma média de dois passes para finalização a cada jogo, o brasileiro foi o melhor defesa nesse capítulo, e também a defender esteve bem, sendo o único jogador dos três grandes a figurar no “top-20” dos que mais passes interceptaram. Bruno César, que fez vários jogos no quarteto defensivo, e Rafa Soares, que conquistou cinco prémios de melhor em campo, são as duas opções seguintes para a lateral-esquerda.
O melhor central foi, igualmente, do FC Porto e também chegou esta época. Por uma margem muito curta, Felipe superiorizou-se ao uruguaio Coates, que tinha sido o melhor da primeira volta, e a sua grande época já começa a fazer valer o interesse da Juventus. Com 74% de duelos aéreos ganhos, o brasileiro foi o melhor central do campeonato neste particular e revelou-se um grande upgrade para Martins Indi. Quanto a Coates, foi sobretudo forte na fase de construção, mas também nos remates de cabeça, ficando apenas atrás de cinco pontas-de-lança no que concerne aos remates enquadrados pelo ar. O Benfica coloca Luisão como quinto melhor central da Liga, e se está a estranhar a ausência de Lindelöf, aqui fica um comparativo elucidativo.
Destaque ainda para a dupla de centrais do Marítimo, Raúl Silva e Maurício Antônio, responsáveis por dez dos 34 golos do Marítimo e por tantos outros que não entraram, e para Iván Marcano, que mostrou que o problema do Porto na época passada estava longe de passar por ele.
Um croata entre portugueses
Se para Pizzi as palavras já estão quase todas gastas no artigo especial que lhe dedicámos, compete-nos aqui fazer o elogio, também já habitual, das qualidades de Danilo Pereira. Para muitos o melhor e mais regular jogador do Porto esta época, Danilo foi a verdadeira alma da equipa e sempre mais consistente na comparação com Fejsa e William Carvalho. Fortíssimo pelo ar, ganhou 67% dos seus duelos aéreos e terminou a Liga NOS 16/17 com o já habitual título de “rei” das recuperações de bola. Foram 9,1 a cada jogo, às quais juntou 1,9 desarmes e 2,3 intercepções. Como se não bastasse, ainda arranja maneiras de marcar golos. Foram quatro no total.
O outro craque do meio-campo é o croata Filip Krovinovic. Para quem o vê jogar, a única coisa que surpreende é que ainda não tenha sido “pescado” por um clube grande, de Portugal ou de outro lado qualquer. Se quer saber o que tem de especial o médio-ofensivo do Rio Ave, passe pelo artigo que lhe dedicámos há pouco tempo.
Muito perto de Krovinovic ficou o espanhol Óliver Torres. Nuno Espírito Santo decidiu abdicar dele na última fase da época, mas Oli foi sempre a maior fonte de criatividade do meio-campo do Porto, terminando o campeonato como o segundo jogador com mais passes certos no último terço, apenas atrás de Pizzi.
Dost fornecido por Dragões
Jesús “Tecatito” Corona será talvez o mais surpreendente entre os titulares deste “onze” ideal, mas basta analisar com cuidado os seus números para que a surpresa se desvaneça. Naquilo que se pede a um flanqueador completo, Corona cumpriu em tudo, começando por ser o mais frequente criador de ocasiões flagrantes do campeonato. Se falarmos de todos os passes para finalização, apenas foi superado por Pizzi, e no que toca aos cruzamentos eficazes também foi o melhor. Mas Tecatito também foi fantasia e desequilíbrio individual. Com 3,3 dribles eficazes a cada jogo, só foi superado pelo seu colega do flanco oposto, Yacine Brahimi, que dizima toda a concorrência nesse aspecto. Gelson Martins, autor também de uma época fantástica, perde estatisticamente para o mexicano em quase tudo, e esse é dos melhores elogios que se pode fazer a Corona.
Brahimi entrou tarde na equipa e ninguém sabe como teria sido a época com ele a titular desde o início. No entanto, ainda foi a tempo de terminar o campeonato com o segundo melhor GoalPoint Rating médio de 16/17. É mesmo nos dribles que o argelino mais se destaca, tentando quase nove a cada jogo e concretizando 63% dos mesmos, mas nos escassos 1416 minutos de utilização que teve ainda conseguiu marcar seis golos e somar três assistências. O mito da falta de qualidade do plantel do Porto fica evidente quando a segunda melhor opção para a ala esquerda é Diogo Jota, também ele com um rating fantástico, devido aos oito golos e cinco assistências que assinou, seguindo-se o benfiquista Franco Cervi nas opções para esse flanco.
Para terminar, o goleador-mor, Bas Dost. Trinta e quatro golos no total e o prémio de melhor avançado da Europa a jogar de cabeça. Bas Dost até não remata muito, mas tem uma eficácia impressionante, graças à sua mestria na movimentação e à frieza com que finaliza. Compara-se, por exemplo, a taxa de ocasiões flagrantes concretizadas por Dost (74%) e pelos outros pontas-de-lança dos grandes: Mitroglou (50%) e restantes ocupantes dos lugares do pódio, André Silva (56%) e Soares (50%). Tudo dito, não é?