Antevisão | Final inédita de contrastes vincados

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APÓS uma maratona de 50 jogos, chegou a derradeira paragem nesta edição do EURO 2024. No mítico palco do Estádio Olímpico de Berlim, a Espanha vai tentar tornar-se no maior vencedor da prova com quatro conquistas, já a Inglaterra está em busca de um título inédito. Em suma, quem vai ditar as regras: a fúria espanhola ou a frieza dos “leões”? Vamos analisar os dados com mais detalhe.

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A “la roja” está invicta nesta caminha em solo alemão, somando por vitórias os seis jogos que já realizou até agora na prova, sendo que diante da anfitriã Alemanha, nos quartos-de-final, precisou de tempo extra. Olhando com mais detalhe para as últimos cinco partidas, acumulam uma média de 16,4 remates a cada 90 minutos, sendo que 6,3 dessas tentativas foram enquadradas, registaram 33,1 acções com bola na área adversária, bem como 13,4 acções defensivas no meio-campo contrário, apontaram uma média de 1,9 golos – contra 1,8 Golos Esperados (xG) – e sofreram 0,9 tentos (xG contra de 0,8).

Nos mesmos parâmetros, a Inglaterra – ainda não perdeu, somando três empates (um dos quais diante da Suíça nos “quartos”) e três triunfos (uma ante a Eslováquia consumada já no prolongamento) – está em desvantagem, pois cria menos remates (8,2), enquadra menos tentativas (3,7), tem menos acções nas áreas contrárias (23,5) e menos acções defensivas no meio-campo contrário (8,6). Nos últimos cinco embates, os ingleses têm uma média de 1,4 golos marcados – xG de 1,0 – e de 0,3 tentos sofridos, com um xG contra de 0,7.

[ As formações usadas por Espanha e Inglaterra nas meias-finais ]

 

Este será um jogo de contrastes. De um lado uma selecção com menos estrelas, mas melhor trabalhada colectivamente, com um padrão de jogo bem elaborado, que estima a posse de bola, mas que tem outra verticalidade, se a compararmos a versões anteriores. O 1x4x3x3 é imutável, mas as dinâmicas e subdinâmicas dos espanhóis são imensas: Rodri é o esteio que comanda a casa de máquinas e que tem o condão de libertar o “vai e vem” de Fabián Ruiz, as subidas criteriosas de Carvajal, de Cucurella e das jovens lanças Nico Williams e Lamine Yamal. Menção ainda para o jogo de pés e elasticidade de Unai Simón, para a segurança de Laporte e para a magia de Dani Olmo.

Do outro lado, os ingleses têm ficado aquém das várias expectativas que trouxeram na bagagem, foram ultrapassando as várias etapas, mas sem nunca encherem os olhares mais críticos e apenas ficaram próximos do real valor que a lista de 26 jogadores oferece no duelo das meias-finais frente ao Países Baixos. Se o sistema táctico da Espanha é fácil de adivinhar, aguarda-se com expectativa o que irá fazer o timoneiro inglês. Se regressa à base com que iniciou a prova (1x4x3x3) ou se aposta no híbrido 1x3x4x3 com que actuou diante da Suíça e dos neerlandeses. Pairando a dúvida, um eventual sucesso britânico passará pelo acerto de Pickford na baliza, pela forma como vai funcionar o “miolo” defensivo com Stones e Guéhi, quem vai preencher as faixas laterais e se o “mister” vai reforçar o meio-campo, uma das chaves da Espanha, com um auxílio extra para Rice e Mainoo. E, finalmente, como ficará a frente de ataque: haverá espaço para Saka, Bellingham, Foden e Harry Kane em simultâneo?

A Espanha não deverá abdicar de assumir as rédeas da partida com diversos movimentos de ruptura (olho em Ruiz), vários jogadores projectados, com os passes progressivos de Laporte e a velocidade na circulação da bola pelos três corredores, sendo que a Inglaterra ficará mais na expectativa, tentando aproveitar o espaço deixado nas costas da última linha do opositor, com os movimentos de Saka, Foden e  Bellingham e a precisão de Kane.

As equipas em 5 factos… cada

Espanha 🇪🇸

Espanhóis com olhos na baliza  – A armada do país vizinho tem produzido o futebol mais cativante da competição e lidera, entre as 24 selecções que estiveram em prova, no que diz respeito ao número de remates. São 106 as vezes que já calibraram a pontaria em direcção à baliza dos adversários.  

Superávit nos xG  – A tracção ofensiva espanhola coloca a selecção de “nuestros hermanos” como a melhor deste Europeu se nos cingirmos aos golos esperados (xG) com 11,1 e 13 golos marcados (melhor ataque prova), mais dois tentos marcados do que o esperado. 

[ Os remates e os xG de Espanha, a amarelo os golos – quanto maior o ponto, maior o xG ]

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Fábrica ofensiva – A voracidade da Espanha deixa a selecção na liderança no que se refere ao número de ocasiões flagrantes criadas até ao momento. São, ao todo, 20 dessas situações em seis partidas realizadas. 

[ As ocasiões flagrantes criadas por Espanha ]

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Reis dos passes progressivos – A importância da eficácia no capítulo dos passes é umas premissas do manual de como bem jogar da “la roja”. A Espanha é a equipa do EURO com mais passes progressivos (246).

Forte reacção à perda – Pressão, contrapressão. A reacção à perda tem sido essencial para o sucesso, até à final, dos espanhóis. Os invictos de La Fuente são o conjunto do EURO com mais acções defensivas no meio-campo contrário, com 70 para sermos mais precisos. 

[ As acções defensivas de Espanha ]

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Inglaterra 🏴󠁧󠁢󠁥󠁮󠁧󠁿

Quase cinco mil acções  – A Inglaterra é a equipa com mais acções com a bola nos relvados alemães. Ao todo já carimbaram 4941. 

No pódio  – A turma de Southgate fecha o pódio entre as equipas com melhor eficácia no capítulo dos passes (90,1%), numa lista que é liderada (por Portugal e Alemanha, ambos com 90,3%). O rival da final deste domingo, a Espanha surge logo atrás com 89,8%.

Pouco risco inglês – Os “leões” são cautelosos e são a segunda selecção com menor percentagem de perdas de posse: 14,6%. 

Ataque aos soluços  – Em seis partidas, a Inglaterra sofreu quatro tentos e marcou apenas sete golos. Está no décimo posto no que se refere ao Golos Esperados (xG) a favor (5,7) e com um saldo positivo de +1,3 relativamente às vezes em que colocou a bola dentro da baliza dos opositores.

[ Os remates e os xG de Inglaterra, a amarelo os golos – quanto maior o ponto, maior o xG ]

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Alvos a abater – Os ingleses são o conjunto do campeonato da Europa mais vezes travado em falta, com 84 infracções sofridas.  

[ As faltas sofridas por Inglaterra ]

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Apresentadas todas as cartadas, em Berlim, quem vai fazer a festa: a fúria da “roja” de De la Fuente ou a frieza dos “três leões” de Gareth Southgate?

Leonel Gomes
Leonel Gomeshttps://goalpoint.pt/
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.