Antevisão Man City 🆚 Inter | O favorito e o “underdog”

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É já este sábado que vamos conhecer o próximo campeão europeu, sucessor do Real Madrid na poltrona de “rei” da Europa futebolística. Das duas uma, ou haverá um campeão estreante ou um dos emblemas vai arrebatar o quarto “caneco” do seu historial. Manchester City e Inter de Milão vão protagonizar em Istambul uma final inédita e que terá diversos motivos de interesse. Os citizens são favoritos mas, como vencedor do título e taça do seu país, recomenda-se cautela face à ao histórico vencedor do “outsider” italiano e sobretudo à seguinte “maldição”…

A equipa de Pep Guardiola volta a marcar presença no duelo decidivo, duas temporadas após ter perdido no Estádio do Dragão frente ao Chelsea, já os pupilos de Simone Inzaghi chegam como “outsiders” e tentam fazer aquilo que os “nerazzurri” fizeram em 2009/10 com o “Lo Speciale” José Mourinho ao leme!

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Super City acordou após puxão de orelhas de Pep

Com a Premier League e a Taça de Inglaterra no bolso, os “cityzens” procuram colocar a cereja no topo desta temporada com a conquista da Champions, um título inédito para os ingleses e o “caneco” que falta a Pep Guardiola – comandou o Barcelona em duas conquistas – nesta caminhada inglesa que começou em 2016. A época de 2022/2023 começou com muitas dúvidas no reino do City, o nível exibicional oscilava como nunca, algumas das principais estrelas estavam abaixo do nível que já tinha apresentado e o Arsenal ia reinando na Premier League. Haaland, que chegou para ditar as diferenças e adicionar o “killer instinct” que ia faltando à equipas nas grandes ocasiões, era uma das poucas excepções neste mar de incertezas.

Quem ganha? City, Inter ou será empate? 👉 Apostar!

No início de 2023, numa altura em que o City tinha sido eliminado da Taça da Liga aos pés do Southampton e tinha perdido ante o rival United, uma declaração contundente de Guardiola foi uma espécie de ponto de viragem.

“Ganhei quatro Ligas consecutivas quando era jogador e depois não tinha fome suficiente. Comemos demasiado ‘caviar’. E depois o Real Madrid venceu-me. Entendo os jogadores, mas estou aqui para dar a volta à situação. O presidente sabe disso e eu quero estar aqui, mas se perder a equipa, não posso estar. Peço desculpa àqueles que nos odeiam, mas vamos ficar para a história pelo que fizemos na Premier League. É inegável o quão bons temos sido, mas isso já faz parte do passado. O clube tem de seguir em frente. Estamos em segundo lugar e não estamos a 25 pontos do Arsenal, ainda temos 57 pontos por disputar. Olhem para o que temos agora e para o que tem o Arsenal. Eles têm tudo, todas as peças. Defendem com dez jogadores na área, têm boas transições, ganham os duelos. Olhem para a forma como celebram um golo, como comunicam. Isso é futebol e nós não o temos”, palavras que tiveram o condão de despertar a equipa…

A partir daqui, o emblema de Manchester ligou o “turbo” e foi com tudo, chegando a uma série de invencibilidade que durou 25 partida em todas as competições até ao desaire na última jornada da Liga frente ao Brentford. Com este pecúlio, o conjunto britânico conseguiu revalidar o título, conquistou depois a Taça de Inglaterra e vai tentar o “treble”, algo que o único clube inglês a alcançar foi o rival United em 1998/99.

[ Foi assim que o City “despachou” o campeão europeu Real Madrid ]

Os “mind games” do “cientista” Pep Guardiola

O “cientista” Pep continua a inovar e, em termos tácticos, este City apresenta algumas “nuances” interessantes. Sem João Cancelo, entretanto emprestado ao Bayern Munique, apostou em algumas peças que acrescentaram outra consistência em termos defensivos, num sistema táctico camaleónico que tem deixando os adversários em sobressalto. John Stones assume um papel preponderante. No processo defensivo faz dupla com Rúben Dias, mas quando a equipa começa a elaborar as investidas ofensivas, sobe no terreno, juntando-se a Rodri. Neste momento a equipa desdobra-se num 1x3x2x4x1, com Ederson na baliza, uma linha de três com Kyle Walker à direita, Rúben Dias na função de líbero e Akanji a fechar pela esquerda. Stones e Rodri formam um duplo pivôt rotativo, com o inglês mais posicional e o espanhol com um raio de acção mais amplo, Bernardo Silva posiciona-se à direita, mas tem liberdade para percorrer todo zonas mais interiores, Grealish dá profundidade na faixa contrária, há o omnipresente İlkay Gündoğan, Kevin De Bruyne é o “farol” de toda a equipa e, no ataque, há o predador Erling Haaland. No banco, Pep Guardiola tem ainda nomes como Rico Lewis, Laporte, Aké, Riyad Mahrez, Phil Foden ou o campeão do Mundo, Julián Álvarez.

Por falar em predadores e em Haaland… O City foi a equipa que mais Expected Goals (xG) a favor usufruiu nesta Champions, 26,1, beneficiando da criatividade e capacidade de construção de Kevin De Bruyne e Bernardo Silva e do sentido de baliza de Erling Haaland (melhor marcador da prova, com 12 golos até ao momento). Os ingleses são mesmo a terceira equipa com melhor saldo entre golos marcados e esperados (4,9, com 31 apontados), sendo o líder neste detalhe… o Benfica, com 26 tentos em 19,5 esperados (salto positivo de 6,5). O Inter foi a sétima equipa com mais xG a favor (16,7), marcando mais 2,3 do que o previsível.

[ Os remates/xG de City e Inter na UCL 22/23 ]

Os bicampeões ingleses ainda não perderam nesta Champions, somam 12 partidas, sete vitórias, cinco empates, cinco “tentos” sofridos e 31 marcados.

Inter despertou na altura certa

Para muitos, o Inter de Milão tem, a par da Juventus, o plantel mais rico da Série A, porém, o rol de estrelas não foi suficiente para a “squadra nerazzurra” conseguir vencer a prova, não obstante ter conquistado a Supertaça e a Taça de Itália. A época inconsistente chegou a colocar o lugar de Simone Inzaghi em risco, mas o emblema milanês renasceu das cinzas nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, quando eliminou o Benfica – já tinha feito o mesmo nos “oitavos” ante o FC Porto -, bateu com toda a limpeza o rival AC Milan nas meias-finais e chega a esta final como “outsider”, mas com legítimas aspirações de conquistar o “caneco”.

[ Foi assim que o Inter bateu o rival Milan nas meias-finais ]

Em termos tácticos, a equipa transalpina aposta num 1x3x5x2. Onana é seguro entre os postes e garante muita qualidade na primeira fase de construção, Darmian, Acerbi e Bastoni – uma espécie de John Stones dada a qualidade que tem com a bola nos pés e os muitos metros que “come” quando é preciso sair a jogar deste trás, sendo assim que castigou o Benfica no duelo na Luz – são o esteio da equipa, Dumfries e Dimarco são duas “motas” nas faixas laterais, dão a amplitude a atacar e demonstram competência a defender, no meio-campo Hakan Çalhanoğlu, Henrikh Mkhitaryan (em dúvida devido a uma lesão num coxa) e Nicolò Barella formam um tridente rotativo, robusto e com qualidade. No ataque, Lautaro Martínez é a estrela da companhia e deverá ter a companhia de  Edin Džeko. No banco não faltarão armas a Inzaghi, casos de Gosens, De Vrij, Milan Skriniar, Brozovic, Joaquín Correa ou Lukaku.

Perspectivando o embate deste sábado, o Inter deverá jogar mais na expectativa – em toda a Champions 22/23 os transalpinos são apenas a 23ª equipa em acções defensivas no meio-campo contrário, apenas 9,8 por jogo -, com o bloco médio/baixo, dando a iniciativa ao opositor e tentando explorar os lances de contragolpe. Os italianos são mestres a jogar desta forma, já que se sentem confortáveis, Bastoni e Çalhanoğlu são exímios nos lançamentos longos, Mkhitaryan e Barella tem chegada à área adversária, Lautaro possui facilidade em baixar no terreno para fugir às marcações contrárias e para jogar no espaço entrelinhas e Džeko – tem apenas 37 anos no Cartão de Cidadão – é especialista a jogar de costas para a baliza e não perdeu o faro para o golo.

[ As acções defensivas de City (à esquerda) e Inter na UCL 22/23 ]

“Vai ser uma partida muito difícil. As probabilidades não estão a nosso favor, mas é isso que torna o futebol tão emocionante. Vamos jogar contra uma das equipas mais fortes do Mundo, com um treinador que todos conhecemos bem, mas vamos tentar estar preparados. A nossa abordagem não vai mudar. Haverá momentos do jogo em que teremos de ser mais ofensivos e outros em que teremos de ser fortes defensivamente”, perspectivou Inzaghi.

Em 12 partidas nesta Champions, o Inter soma sete vitórias, dois empates, duas derrotas, 19 golos marcados e dez sofridos. Na fase a eliminar ainda não perdeu, contabilizando em seis encontros, quatro triunfos e dois empates (frente ao FC Porto no Dragão e em casa ante o Benfica).

“City com a responsabilidade e peso de vencer a final”

Antes do pontapé de saída, pedimos ao analista Tomás da Cunha – que irá comentar a final na ELEVEN Portugal – para perspectivar o derradeiro jogo desta edição da prova milionária da UEFA. O City tem um amplo favoritismo, mas o Inter não tem nada a perder e vai complicar a tarefa dos comandados de Guardiola.

“Parece-me indiscutível que o Manchester City entra neste jogo com a responsabilidade e o peso de vencer a final. É a equipa com mais aspirações, que no início da temporada já era visto com um dos grandes favoritos e teve até o reforço de Haaland. Portanto, parece que, à partida, haverá uma espécie de 70% contra 30% de hipóteses. O Inter não tem nada a perder, é um conjunto muito competitivo e até sai beneficiado por não ser a equipa responsável por jogar mais com bola, pode adaptar-se ao adversário, tentar surpreender através da bola longa para os avançados e essa poderá ser uma das dificuldades para o City. Porém, não há forma de colocarmos a formação italiana como favorita, terá de jogar na base do cinismo, da adaptação estratégica e, claro, fazer uma exibição perfeita, quer do ponto de vista colectivo, quer do ponto de vista individual”, começa por observar o comentador em declarações à GoalPoint.

[ Conduções e passes super progressivos – o Inter (à direita) aposta bastante nas bolas longas ]

“O City tem mais individualidades para poder resolver a partida, mas o sentido colectivo, a capacidade táctica e estratégica da equipa de Inzaghi, que tem um historial muito favorável em finais e, também é significativo e pode equilibrar a final. Não penso que seja um jogo já resolvido antes de começar e o facto de o Inter não ter pressão pode acabar por ser interessante para a equipa milanesa”, acrescenta.

[ A forma como as equipas conduzem a bola, driblam e onde sofrem faltas (City à esquerda) ]

As estrelas que podem ditar as diferenças

Dentro das quatro linhas, alguns jogadores podem fazer a diferença nesta grande final. Do lado italiano, realce para um trio. “Penso que esta final poderá ter do lado do Inter algumas figuras muito relevantes. Desde logo, Onana. Não só a defender a baliza, mas também no prisma da construção, é uma peça que dá muita variabilidade no jogo com os pés, ora distribuindo para os alas, ora procurando uma bola mais longa para os avançados. Penso que o Inter não se vai dar muito à pressão do City, pelo menos numa fase inicial, e aí o jogo de pés do guarda-redes camaronês pode ser muito importante.”

[ Onana, do Inter, foi o jogador desta UCL com mais golos evitados, Ederson apenas o 15º ]

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Há, ainda, que destacar Barrela, que é um jogador pela dimensão de box to box, pela forma como ajuda a defender, mas também pela chegada à área contrária, pode ter um efeito surpresa e, eventualmente, desequilibrar a favor do Inter e, inevitavelmente, Lautaro Martínez. Que é um jogador que em apoio, pela mobilidade pode também ser útil para que o Inter consiga respirar e depois também sendo uma ameaça para a baliza adversária. Penso que estas três serão as grandes figuras do Inter na abordagem à partida”, aponta.

Nos “cityzens”, o especialista realça o inevitável “Haaland, mesmo sabendo que nas últimas partidas decisivas nem sequer tem sido um jogador que marca golos, mas é, muitas vezes, um elemento que ajuda, de costas para a baliza, a equipa a ter mais soluções para progredir e para desmontar o adversário. Vamos ver se consegue culminar esta temporada com um golo decisivo ou até mais. Toda a gente espera isso dele”, não fosse o “cyborg” autor de 52 golos nos 52 jogos em que foi utilizado por Guardiola em todas as competições.

[ Haaland e Džeko, os homens mais adiantados de City e Inter ]

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Haaland marca a qualquer altura 1.57 👉 Apostar!

Além de Haaland, os holofotes poderão recair em alguém que aparece quase sempre nos momentos decisivos e esta época não foi excepção. Gündoğan é um jogador que procura aqueles movimentos de ruptura na meia esquerda, que tem facilidade no momento do remate espectacular e, além disso, não se esconde neste tipo de decisões. A finalizar, menção a dois jogadores que têm muito peso: Bernardo Silva, que na Champions parece assumir outro protagonismo nesta fase da carreira em comparação com a Premier League, e Kevin de Bruyne, um elemento que, mesmo não tendo, por vezes, a maior influência na criação, de um momento para o outro arranca um cruzamento, um grande passe, um remate como aconteceu contra o Real Madrid no empate da primeira mão”, atira o comentador da Eleven Sports, TSF e colunista da Tribuna Expresso.

Lançadas todas as cartas, será que o City vai atingir o Olimpo europeu ou o Inter vai, 13 épocas depois, voltar a reinar na Europa? O sucessor do Real Madrid começará a ser desvendado a partir das 20h00 deste sábado no Estádio Olímpico Antatürk, em Istambul.

Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.