Este domingo pode fechar a questão do título da Liga bwin. Após a vitória do Porto em Famalicão, o Benfica terá de vencer o dérbi com o Sporting, em Alvalade, para arrecadar em definitivo o ceptro, mas só mesmo nesse caso é que poderá festejar. O empate (ou, claro está, a derrota) obriga dos “encarnados” a vencerem na derradeira jornada na recepção ao Santa Clara. Ao mesmo tempo, o “leão” sabe que, se ganhar, encurta para dois os pontos de distância em relação a um Braga que empatou no Bessa. Estão, assim, reunidos todos os ingredientes para termos um “dérbi eterno” escaldante e imprevisível.
[ Os desempenhos de Sporting e Benfica nas últimas cinco jornadas ]
Os principais números de Sporting e Benfica nas últimas cinco rondas prometem um dérbi equilibrado. Após alguns “soluços”, os benfiquistas parecem ter entrado nos eixos, mas as estatísticas de ambos os emblemas não mostram um quadro de superioridade de um dos lados, com os “encarnados” mais rematadores, com maior facilidade em criar situações de perigo, mas a perderem, por exemplo, na posse de bola, variável em que os de Alvalade têm estado arrasadores. Quem dominará o dérbi? Quem conseguirá impor o seu jogo e levar a sua avante? Olhemos para os números globais da época para tentarmos perceber o que esperar desta partida.
A solidez defensiva
A fama leonina de grande solidez defensiva, que contribuiu sobremaneira para o título conquistado em 2020/21, ainda tem algum lastro, como alguns dados o demonstram, mas há outros que apontam para algumas debilidades que podem dar ao Benfica alguma vantagem, em especial quando olhamos para a cada vez mais relevante métrica dos Expected Goals, ou Golos Esperados (xG).
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- Benfica (6,9) e Sporting (7,6) são as equipas da Liga que menos remates permitem aos adversários por 90 minutos, e também os que menos concedem dentro da área (3,7 e 4,4 respectivamente);
- O Sporting regista 26,6 Expected Goals contra e 29 golos sofridos, o que significa que permitiu mais 2,4 golos do que o esperado. Este poderá ser um ponto importante neste dérbi, uma vez que o registo leonino está ao nível dos mais pobres da Liga. Só Boavista, Marítimo, Paços e Santa Clara (estes três os últimos classificados) têm pior;
- O Benfica, por seu turno, tem 18 golos sofridos em 19,7 esperados, o que dá um saldo de menos 1,7. Um indicador de solidez, ainda assim longe do ideal. Para se ter uma ideia, o Chaves tem 51,9 xG contra e 35 sofridos, pelo que os flavienses consentiram menos 16,9 do que era expectável;
[ Os remates/xG permitidos por SCP (à esquerda) e SLB, a amarelo os golos sofridos, a azul os enquadrados permitidos ]
- “Leões” (15,2) e “águias” (17,4) são as formações com mais acções defensivas nos meios-campos contrários, sendo, portanto, equipas de grande pressão. Qual delas o fará melhor e com mais regularidade em Alvalade?
[ Ugarte (4,2) e Florentino (3,3) são os jogadores de Sporting e Benfica com mais acções defensivas no meio-campo contrário ]
- Manuel Ugarte e Florentino Luís, os dois “trincos” habituais de “leões” e “águias” (há a dúvida se o benfiquista entrará de início), são os elementos com mais acções defensivas nos meios-campos adversários, entre todos os jogadores de Sporting e Benfica… e também de toda a Liga com mais de 1440 minutos de utilização;
- O Sporting tem uma média de duas defesas por 90 minutos, o Benfica de 1,4, o que nos leva a olhar para os dois guardiões e tentar perceber se poderá ser por aqui que um dos emblemas ganha vantagem;
[ Os desempenhos acumulados dos decisivos Adán e Odysseas ]
- Nas balizas, dois nomes que nem sempre têm recolhido unanimidade entre os adeptos, e os números apontam para vantagens de Adán sobre Odysseas… e vice-versa. Os ratings são muito semelhantes, o espanhol tem um registo inferior de percentagem de remates enquadrados defendidos e de defesas para zona segura, mas ganha claramente nos golos evitados, que medem a diferença entre defesas e xSaves.
Passe, construção e o que fazer com a bola
A pressão por vezes asfixiante a que o Benfica tem submetido muitos dos seus adversários esta temporada tem reflexo nos números seguintes, de posse de bola, passe, condução e construção, mas a verdade é que o Sporting também brilha em alguns dos momentos, nomeadamente no passe, o que lhe pode conferir posse de bola.
- Na construção há poucas equipas com a segurança nas entregas como o “leão”, que chega a esta 33ª jornada como a formação com melhor eficácia de passe. São 87,1% de acerto, um pouco acima dos 86,6% das “águias” que, contudo, são o conjunto da Liga que mais passes realiza por partida (578,4).
- Nos passes para finalização a questão inverte-se, com os “encarnados” a liderarem o campeonato, com 12,9 por encontro, sendo a formação leonina a segunda, com 12,3.
- O “leão” cai para terceiro, ultrapassado pelo Porto, na média de ocasiões flagrantes criadas por desafio (2,5), sendo esta variável liderada pelos homens da Luz (3,2).
[ As ocasiões flagrantes criadas por Sporting (à esquerda) e Benfica ]
- Também nos passes progressivos o “rei” é o conjunto de Roger Schmidt, líder da Liga com 46,8, estando os de Alvalade em terceiro (atrás do Braga), com 42,0.
- A equipa que mais cruzamentos de bola corrida faz na Liga – algo que até se estranha pelo facto de, algumas vezes, jogar sem um ponta-de-lança fixo – é mesmo o Sporting, com 18,5, estando o Benfica logo atrás com 18,4 por jogo.
- Na eficácia é que a questão complica para os pupilos de Rúben Amorim – talvez pela questão do ponta-de-lança. Se os benfiquistas lideram a Liga em eficácia de cruzamento, com extraordinários 25%, o “leão” é a quarta pior formação do campeonato, com 19,3% dos centros a encontrarem colegas de equipa.
- Os “verdes-e-brancos” voltam a liderar noutro detalhe: não há equipa na Liga bwin que realize mais conduções progressivas, nada menos que 15,5 por jogo, estando as “águias” somente no terceiro posto, com 13,3. O “leão” é segundo nas super progressivas (2,5), ainda assim à frente do Benfica (2,4).
[ Os dribles de Sporting (à esquerda) e Benfica na Liga 22/23, a azul os eficazes ]
- Nenhum outro emblema da Liga tenta mais o drible que o Sporting – muito por culpa dos seus muitos jogadores exímios no um-para-um. São 26 por encontro, bem à frente do segundo, precisamente o Benfica (22,9). A eficácia leonina é de 43,6%, a quinta melhor, sendo a das “águias” somente a 12ª (40,4%).
A decisiva competência ofensiva
O Benfica é o melhor ataque da prova, com 77 golos, mais dez que o Sporting, a terceira formação mais concretizadora. Duas equipas, portanto, com grande pendor ofensivo, e perante o empate do Braga no Bessa e a necessidade de o Benfica fechar já a questão do título, é perfeitamente expectável que os dois emblemas apostem num futebol ofensivo, e cujos principais números são os seguintes:
- O Benfica é a equipa mais rematadora da Liga bwin, com 17,3 disparos por partida, sendo o Sporting a segunda, com 16,4. As “águias” também lideram nos remates de bola corrida (12,8), sendo os “leões” terceiros, com 12,1;
[ Os remates e os xG de Sporting e Benfica nesta Liga ]
- Muito se fala da pouca eficácia leonina no ataque, mas os números mostram uma outra realidade, muito mais ligada à qualidade das ocasiões do que propriamente à finalização. Senão vejamos:
- O Benfica é a equipa que mais xG a favor regista na Liga, nada menos que 84,1, mas “só” apontou 77 golos. Isto significa que está a dever à sua própria contabilidade 7,1 tentos. Já o Sporting é a equipa da Liga com registo de tentos marcados mais em linha com os golos esperados. O “leão” tem 67 xG e precisamente 67 golos marcados. Números que ilibam os finalizadores e penalizam mais quem cria as situações (a diferença de xG a favor entre Sporting e Benfica é grande);
- Esses números aproximam-se quando o tema é xG após lances de bola parada, mas a diferença volta a dilatar nos lances criados a partir de situações de bola corrida, como se pode constatar no “boneco” acima.
[ Pedro Gonçalves e Rafa, dois dos maiores desequilibradores do dérbi ]
