O desafio mental no centro do desporto-rei

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A exigência física no futebol moderno é extrema. Atualmente, os futebolistas são verdadeiros atletas que devem estar muito bem preparados para aguentar a intensidade do jogo durante os 90 minutos. Contudo, esta correria não vale de nada se a preparação mental não estiver em dia.

Ser o mais alto, mais forte ou mais rápido são características que podem distinguir um jogador, no entanto, a inteligência é o mais importante para triunfar. Aguentar a pressão, estudar o adversário para conhecer as suas fraquezas, além de se conhecer a si próprio para saber oferecer o melhor à equipa são ações que exigem reflexão.

Um bom exemplo disso é Zinédine Zidane. O francês não era o mais rápido, tão pouco o mais forte, porém, a sua inteligência e conhecimento do jogo tornaram-no uma lenda viva do futebol. Zizou sempre foi um “maestro”, a sua maior qualidade sempre foi a técnica refinada. No relvado, o médio foi famoso por correr inteligentemente, ao invés de correr muito. Além disso, distribuía passes “açucarados” aos companheiros, além de estar sempre bem posicionado, como foi no golo de vólei que deu o título da Champions League ao Real Madrid, em 2002, contra o Bayer Leverkusen.

Um jogo físico, porém mental

O futebol sempre prezou as qualidades físicas dos jogadores. No entanto, como observamos na história de Zidane, as aptidões mentais contam muito na hora de tomar decisões em campo. Traçando um paralelo, existe uma ramificação dos desportos que exalta precisamente as habilidades intelectuais dos praticantes. Uma das modalidades mais famosas deste ramo desportivo que privilegia estas habilidades é o poker.

Se o futebol é conhecido como “desporto-rei”, no que diz respeito aos jogos de cartas podemos dizer que o poker segue pelo mesmo caminho. A versão Texas Hold’em, que nasceu nos anos 70, tornou-se a mais praticada no mundo, em especial no ambiente online, onde o poker encontrou uma nova morada e os seus adeptos um novo meio para jogar.

Ainda que as duas modalidades partilhem mais diferenças do que semelhanças — o futebol exalta o poder físico e a técnica, já o poker exige pensamento afiado e concentração —, existe um aspeto que é então absolutamente fundamental nos dois desportos: as faculdades intelectuais. Pensar o jogo e conseguir controlar os nervos são características fundamentais, tanto no poker como no futebol.

Por exemplo, as grandes penalidades são o momento mais similar ao poker que existe no mundo do desporto-rei. Afinal, ambas as equipas estão numa situação de “all in”, onde todas as fichas estão na mesa e cada ação será fundamental para alcançar a vitória.

Remate-Baliza

Grandes penalidades para a história

Foi-se o tempo em que as penalidades eram uma questão de sorte. Hoje em dia, os guarda-redes preparam-se intensamente, são treinos físicos para melhorar a explosão muscular e chegar à bola, horas de estudo sobre como os rivais costumam rematar, além da aplicação de técnicas mentais para ganhar vantagem sobre os adversários. Já por parte dos rematadores existem diversos exercícios de “mindfulness” para diminuir a ansiedade e aumentar o foco para o momento decisivo.

A final do último Mundial de futebol entrou para a história. O jogo terminou empatado por 3-3, com um verdadeiro espetáculo das estrelas. Pelo lado argentino, Messi anotou dois golos, e os franceses contaram com um “hat-trick” de Mbappé.

A igualdade só foi resolvida nas grandes penalidades. E foi nesse momento que o guarda-redes argentino Emiliano Martinez, conhecido pela alcunha de Dibu, brilhou intensamente.

O primeiro ato começou pelo domínio da área. Assim que ficou decidido onde seriam as grandes penalidades, Dibu aproximou-se da marca da grande penalidade, passando a impressão de que os franceses eram visitantes na sua morada.

O segundo ato foi a defesa na penalidade rematada por Coman. Assim que defendeu, Martinez levantou-se e celebrou com muita intensidade, apontado para os seus companheiros e pedindo aos adeptos argentinos que fizessem barulho.

O terceiro ato veio contra o Tchouaméni, este caminhou cheio de confiança para a marca do penálti, no entanto, Dibu pegou a bola e atirou para longe, fazendo com que o francês tivesse que a ir buscar. Uma provocação que pode ter influenciado o resultado: Tchouaméni falhou. Os argentinos foram perfeitos e ficaram com o mais importante troféu do desporto-rei.

Vitória da mente

Após o jogo, Emiliano revelou que a pessoa com quem mais conversou antes da final foi o seu psicólogo. O guarda-redes defendeu a necessidade do cuidado da saúde mental no desporto, afinal, a pressão sobre os atletas é imensa e muitos deles são jovens, como o próprio Tchouaméni, que tem apenas 22 anos.

No futebol moderno, as capacidades físicas estão em pé de igualdade. Equipas antes consideradas “fracas”, agora oferecem desafios reais, como a Croácia, que eliminou o Brasil, franco favorito no mundial.

O desafio agora é treinar a mente dos jogadores para ter o controlo durante os 90 minutos. Manter a concentração evita erros defensivos e ofensivos, não perder o foco é sinónimo de intensidade e vencer a ansiedade é um grande passo rumo à vitória. O futebol moderno será dominado por quem conseguir dominar a mente.

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