“One club men”, as lendas do amor à camisola

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O Athletic Bilbao homenageou recentemente o campeão europeu João Pinto. O icónico capitão do FC Porto recebeu o prémio “One Club Man Award” de 2023, galardão atribuído pelo emblema basco a jogadores que fizeram toda a sua carreira no mesmo clube. Um facto que nos levou a procurar por alguns dos mais ilustres nomes que dedicaram as suas carreiras a um só emblema. E a lista não é tão curta como poderíamos pensar.

“É um motivo de satisfação porque é um prémio que o Athletic atribui a jogadores que passaram a vida no mesmo clube. Estou muito feliz por isso e grato pela homenagem que me prestam. Sinto-me honrado e, ao mesmo tempo, muito feliz. E a partir de hoje o Athletic vai ter mais um adepto em Portugal. O facto de ser reconhecido internacionalmente ao fim de tantos anos é algo que me deixa muito feliz”, revelou, emocionado, o antigo lateral-direito.

João Pinto (Porto)

Agora com 61 anos, João Pinto representou as cores do FC Porto ao longo de 16 épocas, tendo nesse período contabilizado 587 jogos oficiais, conquistado nove campeonatos portugueses, quatro edições da Taça de Portugal, oito Supertaças, uma Taça dos Campeões Europeus – atual Liga dos Campeões –, uma Taça Intercontinental e uma Supertaça Europeia. Pela Selecção Nacional foi internacional em 70 ocasiões.

Além do português, diversos nomes tiveram no trajecto desportivo apenas um clube, feito cada vez mais incomum, alguns dos quais iremos mencionar nas próximas linhas.

Paolo Maldini (Milan)

Para muitos, o italiano foi um dos melhores defesas da história da modalidade, uma espécie de protótipo na arte de bem defender. Paolo seguiu as pisadas do pai Césare, que representou os “rossoneri” nas décadas de 50 e 60, e vestiu as cores do Milan desde 1984 até 2009. Foram 16 anos ao mais alto nível, 902 partidas e conquistou 26 “canecos”, dos quais se destacam cinco edições da Champions, a Taça Intercontinental por duas vezes, a Supertaça Europeia por quatro, a Série A em sete ocasiões ou ainda a Supertaça italiana por cinco vezes.

Agora dirigente – abandonou o cargo de director-desportivo no Milan há poucos meses –, viu o filho Daniel sagrar-se campeão pelo AC Milan em 2021/22. O avançado está actualmente emprestado ao Empoli.

Carles Puyol (Barcelona)

O guerreiro “culé”. Puyol foi o coração da era mais brilhante da história do Barcelona. O que não tinha na técnica – não confundir com falta de qualidade – compensava na entrega e garra. De 1999 a 2014, o capitão fez quase 600 jogos oficiais (593) e ajudou os catalães a vencerem 22 títulos, entre os quais seis edições da Liga espanhola, cinco Supertaças espanholas, duas edições da Taça do Rei, três Champions e foi ainda bicampeão europeu e campeão do Mundo ao serviço da “la roja”.

Ryan Giggs (Manchester United)

O galês pendurou as chuteiras com quase 40 anos e é um dos maiores ídolos do Manchester United. Extremo à moda antiga, actuava sempre colado à linha de fundo e fazia estragos, ora marcando, ora assistindo. Na recta final da carreira, Giggs jogou mais em zonas centrais, sempre com a mesma elegância e inteligência. De 1990 até 2014, o camisola 11 contabilizou 963 partidas oficiais e arrebatou 35 títulos colectivos.

Franco Baresi (Milan)

As duplas que formou com Alessandro Costacurta, numa primeira instância, e posteriormente com Paolo Maldini são inesquecíveis. Aliás, o quarteto Maldini, Tassotti, Baresi e Costacurta, os “invencíveis”, era o coração do super Milan. Natural de Travagliato, na região da Brescia, Franchino – Franco para o universo futebolístico Baresi – recebeu o cognome do “melhor defesa do mundo”, aos 22 anos já era capitão de equipa e foi fundamental nos diversos êxitos do emblema transalpino.

Destaque para três edições da Champions, seis da Série A, dois Mundiais de Clubes ou três Supertaças Europeias. Participou, ainda, em três edições do Mundial, foi campeão do Mundo em 1982, medalha de bronze em 1990 e vice-campeão mundial em 1994. A camisola “6” do AC Milan foi retirada em honra ao “Il Capitano”.

Francesco Totti (Roma)

Na era dos “9,5”, Totti, Del Piero e João Vieira Pinto eram as referências.

O príncipe de Roma representou o clube do coração ao longo de 25 épocas, de 1992 até 2017, conquistou cinco troféus, consagrou-se com 786 encontros e 307 tentos – é o atleta da Roma com mais jogos e com mais golos na estória do clube. Foi um dos esteios da “azzurra” que venceu o Mundial em 2006. De Totti, os fãs “giallorossi” recordam também a declaração eterna de amor quando recusou a cobiça milionária do Real Madrid dos “galácticos”.

Rogério Ceni (São Paulo)

O “goleiro” goleador. Rogério Ceni foi um dos artífices de um dos períodos mais gloriosos do tricolor paulista. No São Paulo, ao longo de 25 temporadas, o guarda-redes actuou em 1237 partidas, marcou 132 golos e recheou o currículo com alguns troféus, casos da Taça Libertadores (2), Brasileirão (3), Mundial de Clubes e ainda venceu, ao serviço do Brasil de Scolari, o Mundial em 2002.

Paul Scholes (Manchester United)

Um médio completo. Se Giggs, Yorke, Andy Cole, Cristiano Ronaldo, Rooney e tantos outros brilharam ao serviço do Manchester United, o papel “invisível” de Paul Scholes foi determinante nesses êxitos. Foi um dos “Fergie boys” que o treinador escocês lançou em 1992, a par dos manos Neville, Phil e Gary, Giggs ou David Beckham. No total, Scholes fez 718 jogos oficiais pelo United, marcou 155 tentos e venceu 28 troféus, com destaque para a Champions (2), Liga inglesa (11), Taça de Inglaterra (3) ou Mundial de Clubes (1).

Na opinião de Thierry Henry, o “box to box” é o melhor jogador da História da Premier League. “A minha escolha tem mesmo de ser Paul Scholes. Acho que as pessoas não lhe dão o devido valor. É um dos melhores, se não o melhor, contra quem joguei, era capaz de tudo. Infelizmente para ele, quando jogava na seleção às vezes as pessoas não viam isso. Se Scholes jogasse na minha equipa, tudo teria de passar por ele. É um dos melhores”, salientou o francês à Sky Sports em 2015.

Nené (Benfica)

O goleador elegante que não sujava os calções. Tamagnini Manuel Gomes Batista, Nené para o mundo futebolístico, foi um dos melhores avançados da história do futebol português. Enquanto futebolista apenas representou o Benfica e, da temporada 1968/1969 até à de 1985/1986, registou 577 partidas oficiais, 362 golos e 20 títulos amealhados. Foi, ainda, duas vezes o melhor marcador do campeonato e por uma vez o rei dos goleadores na Taça dos Campeões Europeus, a actual Liga dos Campeões, em 1975/76 com os mesmos seis golos do que Jupp Heynckes.

Sepp Maier (Bayern)

Felino, Maier ganhou a alcunha de “gato de Anzing”, tal eram os reflexos e agilidade que apresenta na arte de bem defender a baliza do Bayern Munique e da selecção alemã. Pelos bávaros, o único clube que representou, actuou ao longo de 18 temporadas – de 1962 até 1980 -, foram 679 partidas oficiais, período no qual conquistou, entre outros troféus, a Taças dos Campeões Europeus por três vezes consecutivas, a Bundesliga (5) e a Taça da Alemanha (4).

Pela “nationalmannschaft”, atingiu a glória em 1974 com o Mundial no Estádio Olímpico de Munique diante da “Laranja Mecânica” de Johan Cruijff. Um grave acidente de viação –problemas com as bebidas alcoólicas – acabou por estar na origem da interrupção a carreira aos 33 anos.

Lev Yashin (Dinamo Moskva)

A “aranha negra” – jogava sempre com o equipamento preto – é ainda o único guarda-redes a ter sido considerado o melhor jogador do Mundo. O galardão foi entregue em 1963 pela France Football. O guardião russo fez toda a carreira no Dínamo de Moscovo – oito títulos vencidos -, de 1949 a 1970, actuou em 326 encontros oficiais e fez intervenções inacreditáveis. Para muitos, Eusébio incluído, foi o melhor guarda-redes de todos os tempos. “É o melhor, nunca mais apareceu outro como ele”, referiu a “Pantera Negra” em 2009.

Yashin era um revolucionário, comandava a defesa como se fosse um líbero e quando tinha de sair dos postes era quase intransponível. A “aranha” faleceu em 1990 aos 60 anos de idade.

Thomas Müller (Bayern)

É uma espécie de excepção nos dias que correm. Thomas Müller tem jurado amor eterno ao Bayern Munique. “Eu e o clube temos uma grande relação. É um pouco a minha casa, claro. Estou feliz que esta relação dure tanto tempo. Não é normal, é muito especial”, revelou, em 2021 ao programa “Esporte Espetacular” da TV Globo.

Natural de Weilheim in Oberbayern, uma pequena cidade do sul da Baviera, Müller representa o gigante alemão desde os 10 anos e estreou-se na equipa principal oito anos depois. Desde então tem sido peça-chave e tem um currículo ao nível de poucos. São mais de 30 títulos: 12 edições da Bundesliga, seis da Taça da Alemanha, oito da Supertaça alemã, duas edições da Liga dos Campeões, duas da Supertaça europeia, duas do Mundial de clubes e ajudou a Alemanha a subir ao topo do Mundo em território brasileiro em 2014.

Outras lendas de uma só camisola

Deixamos ainda menções honrosa para outros nomes que só jogaram no mesmo emblema, casos de Matthew Le Tissier (Southampton), Billy McNeill (Celtic), Ricardo Enrique Bochini (Independiente), Pepe (Santos), Hélio Sousa (Vitória Futebol Clube), Marcos (Palmeiras), Nilton Santos (Botafogo), Manolo Sanchís (Real Madrid), Leandro (Flamengo) ou Jamie Carragher (Liverpool), por exemplo.

Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.