Em junho de 2026, arranca mais uma edição do Campeonato do Mundo, com um recorde de seleções participantes (48) e com o mítico Estádio Azteca a receber o jogo de abertura. À medida que se vão fechando as fases de qualificação das respetivas confederações, e com Portugal com o apuramento praticamente garantido, as casas de apostas vão apresentando as primeiras previsões.
Importa analisar o enquadramento das primeiras odds conhecidas e se a seleção portuguesa, uma das candidatas, deve ou não ser considerada (também) uma das favoritas.
Incógnitas técnico-táticas e individuais
Portugal tem individualmente soluções de enorme qualidade para todas as posições, mais do que tinha quando foi campeão europeu em 2016 e até fez um upgrade na liderança técnica. Resta saber (e essa é uma incógnita transversal a todas as seleções) em que momento de forma vão chegar ao Mundial as principais figuras.
Rafael Leão, por exemplo, ainda não “apareceu” e até tem perdido um espaço que parecia dele do lado esquerdo do ataque português. João Félix, que até tinha perdido espaço na primeira metade de 2025, fez uma escolha de carreira bastante inteligente tendo o Mundial de 2026 na mira.
Ao optar por jogar no mesmo clube de Cristiano Ronaldo, passando a fazer uma dupla letal com o intocável capitão no campeonato saudita, o talentoso jogador fez uma jogada de mestre para voltar a baralhar as cartas de Martínez, que por sua vez poderá querer tirar partido das rotinas dos dois jogadores do Al-Nassr.
Na defesa, a lateral direita é também uma incógnita, devido ao estado físico de João Cancelo, que em situação normal, seria a primeira opção. Sem o jogador do Al-Hilal, ninguém parece convencer o Selecionador, que tem optado por um esquema híbrido, com João Neves a ocupar a posição, pelo menos em certos momentos do jogo. Contudo, a tática da Seleção não pode ficar refém de um só jogador…
A defesa central também continua a ser um setor a definir, e nenhuma equipa que se candidate ao título mundial se pode apresentar sem uma dupla defensiva forte e bem definida. Ao lado de Rúben Dias, Gonçalo Inácio tarde em convencer totalmente, disputando a vaga com Renato Veiga, que por vezes peca na concentração, apesar das excelentes características atléticas e de liderança.
À data de hoje, ainda dentro do primeiro terço da temporada 2025/26, Vitinha e Nuno Mendes são os mais regulares, independentemente da eficácia de Cristiano e da importância, entre outros, de Bernardo, Bruno Fernandes, que por vezes poderiam e deveriam dar o lugar, de vez em quando. Quem começa a ganhar estofo é Pedro Neto, mas a sua influência é por vezes, questionável, podendo e devendo fazer ainda mais.
Onde se enquadra Portugal?
Tantas incógnitas técnico-táticos que acabaram por ficar escondidas “debaixo do tapete” após a recente conquista da Liga das Nações. Portugal até ganhou bem à Alemanha nas meias-finais da Final Four e equilibrou em pleno a final frente à Espanha, seleção que é considerada a principal favorita nas casas de apostas como a Betano, a erguer o troféu no MetLife Stadium.
Com uma odd de 6.20 na Betano, a Espanha fica assim à frente de Brasil (7.10), França (7.50) e Inglaterra (8.00). A fechar o top5, surge a campeã mundial, Argentina, embora Portugal apareça “colado” à seleção albiceleste, com odd idêntica de 9.25. A questão que fica é se, realmente, a Seleção das Quinas merece mesmo que as suas probabilidades de conquista sejam idênticas à da atual campeã?
Para os adeptos lusos mais confiantes, fica aqui uma dica: aproveite este código para beneficiar de uma aposta grátis na Betano. Talvez seja a decisão mais acertada para uma aposta que seria, a nosso ver, feita mais com crença e paixão do que com razão, à luz das exibições da equipa que não parece evoluir nas mãos de Roberto Martínez.
Faz sentido assegurar que Portugal está entre as seis seleções mais capazes do futebol mundial atualmente? Isto é de forma tão destacado da Alemanha (com odd de 11.25), Itália (que de facto até tem a presença em risco, mais uma vez) ou Países Baixos (ambas com 23), as três seleções mais respeitáveis que aparecem logo atrás de Portugal no mercado de vencedor do Mundial.
Apenas deixamos um reparo: há menos distância entre Portugal e o terceiro favorito (França), do que entre Portugal e Alemanha… Em termos de qualidade individual, poucas seleções rivalizam de facto com Portugal. Mas dentro de campo, quer em termos de certezas para o onze base, de eficácia tática e até a nível mental, Portugal parece-nos ainda muito distante das equipas favoritas.
A imprevisibilidade de fatores exteriores
No entanto, estas probabilidades ainda deverão sofrer algumas alterações até ao começo da competição, faltando ainda encerrar a fase de qualificação – que pode ter impacto grande na odd da Itália nomeadamente – que Portugal deverá conseguir garantir em novembro (jogos com Irlanda e Arménia), bastando fazer 2 pontos ou mais sem ter de olhar para os resultados da Hungria.
Os jogos amigáveis a seguir e nomeadamente os jogos de preparação do Mundial também serão muito importantes para os selecionadores tentarem encontrar soluções para qualquer problema que tenham, seja persistente ou não. O momento de forma dos jogadores e as listas de convocados também terão o seu peso nas odds das casas de apostas.
Na conjuntura da imprevisibilidade, é difícil imaginar a Espanha sem Yamal, a França sem Mbappé, o Brasil sem Vinicius (pelo menos, a sua melhor versão) ou a Inglaterra sem Kane. Se algum destes jogadores falhar a presença no Mundial, por exemplo, a força das respetivas seleções terá de ser relativizada. Mas também é difícil imaginar Portugal sem alguma das suas cinco/seis principais figuras.
As variáveis são muitas, para além das lesões. E duas delas têm historicamente influenciado alguns campeões: o sorteio (des)favorável a partir dos oitavos-de-final; e a (in)eficácia ofensiva e (des)inspiração em momentos decisivos, como, por exemplo, no eventual desempate por penáltis. E é também por isso que as odds são sempre elevadas na distribuição do favoritismo, nomeadamente quando faltam ainda alguns meses para o início da prova.
A leitura da odd (in)certa
A odd para Portugal ser campeão mundial pela primeira vez na sua história ronda 9.00. O que dizer que no campo das probabilidades, no contexto atual e numa virtual janela idêntica do tempo, vencerá uma em cada 9 edições do Mundial. Repetimos: em cenário idêntico.
Apesar de alguns ajustes terem de ser feitos nas odds, por parte das casas de apostas, até bem perto da competição, a ordem dos favoritos não deverá sofrer assim tantas alterações, mesmo quando a qualificação vier a ser matematicamente assegurada. Diríamos que a odd é ajustada à realidade, tendo em conta a lista de favoritismo. Menos ajustada é a muito ligeira diferença para a odd de 6.20, relativa à seleção mais favorita, a Espanha.
Para vencer o Mundial, Portugal precisará de uma consistência anormal (a que não nos tem habituado), que conjugue a qualidade individual com a elevação coletiva e com todos os jogadores a remarem para o mesmo lado… e não sempre para o lado de Ronaldo. Não queremos ser mal interpretados, o capitão continua a ser um enorme finalizador, mas muitas vezes os companheiros só têm olhos para ele e o jogador do Al Nassr tem a tendência para baixar e vir buscar jogo, deixando a área despovoada…
A escassa influência de Bruno Fernandes em termos de jogo, que tem estado mais perto de ser um Ronaldo bis por se evidenciar muito mais pelos números (com golos importantes, é verdade) do que no papel de playmaker, o mau aproveitamento de Bernardo Silva, que mais parece um tapa-buracos tático do que aquele jogador que foi durante muitos anos um dos melhores médios do mundo, também são questões a resolver o mais rapidamente possível.
João Neves pode perfeitamente preencher uma dessas vagas (não o colocar perto de Vitinha é um desperdício que deve deixar Luis Enrique mal disposto) e não seria de todo descabido tentar jogar com João Félix (Pode ou até Rodrigo Mora?) por perto de Ronaldo, na tal posição híbrida de nove e meio, ou então reforçar o meio-campo, que tem tantas e boas soluções (Palhinha, Bernardo, Matheus Nunes…). Isto para não voltar a falar na dificuldade em interpretar um movimento tático bastante complexo na ausência de Cancelo…
Estas indefinições deverão ser resolvidas quanto antes, sob pena de ver a odd de Portugal aumentar e as suas hipóteses de vencer o Mundial esfumar, desaproveitando mais uma grande geração de jogadores. O que seria ainda pior neste caso, por ser a melhor de todos os tempos, de acordo com a maioria dos especialistas (sejam jornalistas ou clientes regulares dos cafés portugueses).
Só uma seleção portuguesa a fazer ainda melhor do que na Final Four da Liga das Nações (menos jogos, menos “pressão” e vitória nos penáltis) pode ser considerada favorita. O último Europeu não foi bom, com exibições modestas e esse “Portugal” não é de todo temível. Uma homenagem perfeita a Diogo Jota em pleno Mundial é possível, mas não deve (nem pode) ser um peso de responsabilidade acrescida.


