O dérbi eterno está aí à porta. Este domingo, a partir das 20h30, Benfica e Sporting reeditam mais um embate de titãs do futebol português e em jogo estará a liderança da Primeira Liga. Os “leões” estão na frente, com mais três pontos que as “águias”, que tentam sacudir a crise que atravessam neste momento, agudizada com uma carreira desastrosa na Liga dos Campeões. E este jogo arrisca-se a ser um teste duro, e potencialmente definidor do resto da época, para um conjunto de Roger Schmidt que parece perdido, em ideias, confiança e rumo a seguir, com indicadores que o comprovam e que aqui analisaremos.
Este será um dos pontos principais deste jogo, saber que Benfica entrará em campo, em termos tácticos (se mantém ou não o novo esquema de três centrais) e anímicos. O Sporting, por seu turno, apesar de, a espaços, ainda mostrar alguma incapacidade para controlar os jogos até ao fim, aparenta estar mais estável e é uma equipa com mais saúde no seu futebol. Será que tal se verá no encontro da Luz? Vamos tentar perceber o que esperar.
Os dados principais dos últimos cinco jogos mostram precisamente o que referimos. O Benfica pode ser uma equipa com muita bola e domínio, pressão sobre os seus adversários, e até sofreu menos golos que o rival, mas a formação de Alvalade mostra uma capacidade ofensiva que falta aos “encarnados”, sobretudo nas últimas jornadas.
O Sporting fez 12 golos nestas cinco partidas (2,4 por jogo) e é extraordinária a convergência com o perigo que foi construído, expresso nos 2,4 Expected Goals (xG) criados nesta fase. As “águias” também têm números que batem certo com a realidade, mas mais abaixo do conseguidos pelos sportinguistas, com oito tentos marcados em 1,9 xG (ou cerca de dez esperados) e menor competência nos momentos de finalização, como se pode constatar pelas estatísticas de remates enquadrados.
Balanço das 10 jornadas? Sporting mais coeso e eficaz
Os analytics da época dos dois conjuntos, em termos comparativos, são claros. O Benfica pode manter a matriz de equipa muito ofensiva e pressionante, que transita da temporada passada, mas perde para o Sporting na competência dos diversos momentos de jogo, ofensivos e defensivos. Os da Luz lideram a Liga em xG criados (21,9), mas estão a dever um golo à contabilidade (21 tentos), enquanto os de Alvalade são terceiros nesta variável (19,6) e somam já 22 golos, mais dois do que o expectável.
Os “encarnados” rematam mais (18,4) por jogo e registam mais acções com bola na área contrária (37,5), valor em que, aliás, são líderes no campeonato, com os “verdes-e-brancos” a serem apenas quartos nestes detalhes, mas nem isso abala a maior competência leonina quando o assunto é o golo.
Na retaguarda, a maior qualidade sportinguista nesta fase da temporada é ainda mais visível. Se é verdade que o Benfica continua a ser a equipa que mais acções defensivas realiza no meio-campo contrário (15,2), com grande capacidade de pressão, o Sporting é, ao invés, bem mais competente a evitar o perigo alheio, liderando a Liga com o número mais baixo de acções permitidas na sua área (10,0), de remates consentidos por jogo (8,9) e xG permitidos (7,0). Isto apesar de os da Luz terem sofrido menos três golos do que o esperado e os de Alvalade terem sofrido mais dois. Contudo, a causa desses números é perceptível por um detalhe que abordaremos mais abaixo, no capítulo dos guarda-redes.
À primeira vista, um Sporting mais competente na frente e mais sólido em termos defensivos. Se o futebol fosse previsível, os visitantes seriam favoritos no dérbi. Será que se confirma?
Barómetro: o comparativo com o benchmark da Liga 22/23
Olhemos agora para a evolução das equipas em relação aos acumulados da época passada, mesmo tendo em conta que só se disputaram dez jornadas de 23/24 até ao momento.
Benfica pior em (quase) tudo
- Menos capacidade para criar perigo. Na época passada, as “águias” criaram 2,6 xG, esta temporada não passam de 2,2, isto apesar de rematarem mais em 23/24
- Em 22/23, os “encarnados” conseguiam pressionar mais, com 17,5 acções defensivas no meio-campo contrário, para 15,2 agora
- Também na época transacta a consistência defensiva era maior, com menos golos esperados concedidos (0,7 – 1,1), acções na área permitidas (11,3 – 14,6) e remates permitidos (7,2 – 10,1). Três estatísticas com uma degradação clara nos valores médios
Sporting de regresso ao “segredo do título”
- A diferença entre os xG da época passada e os desta não é relevante (2,0 – 2,1), tal como não é a contabilidade real, com os “leões” a registarem 21 tentos à 10ª jornada de 22/23 e 22 golos na mesma altura de 23/24. A diferença está noutros detalhes
- O “leão” é uma equipa que remata mais esta temporada (16,3 – 17,3) e, essencialmente, tem uma muito maior capacidade de entrar na área contrária e aí somar acções (29,9 – 35,1)
- Só nos remates permitidos (7,9 – 8,9) este Sporting perde para o da época finda mas com um pormenor: o adversário até pode rematar mais mas é obrigado a fazê-lo a maior distância.
- Aliás é de facto no capítulo defensivo que o leão parece apostado em retomar a solidez que fez dele campeão, sob o comando de Rúben Amorim: o Sporting é a equipa da Liga que permite menos remates e acções na sua área, não admirando assim que seja também o conjunto que concede menos golos esperados (xG)
Os homens que podem fazer a diferença
Mais acima falámos numa outra causa para o facto de o Benfica ter menos três golos sofridos que o esperado e o Sporting mais um. Olhando para os desempenhos dos seus guarda-redes, Anatoliy Trubin do lado da “águia” e Antonio Adán da parte do “leão”, o motivo começa a ser evidente.
O ucraniano, que anda cheio de trabalho (o que não é bom sinal para um campeão candidato à revalidação), além de ter a segunda percentagem mais alta de remates enquadrados defendidos (81%), bem acima dos 67% de Adán, consegue ser o quarto guarda-redes com mais golos evitados (defesas – xSaves), precisamente 3,3, e lidera mesmo na percentagem desta variável, com 34,2%. O espanhol tem quase dois golos negativos evitados (-1,9), com uma percentagem também negativa de -9,6%. Como será no dérbi?
Na frente estará, certamente, a chave deste jogo e há quatro jogadores nos quais recairão as atenções:
Rafa Silva e Pedro Gonçalves são “vagabundos” na frente de ataque dos dois conjuntos e dos mais desequilibradores, nas assistências e nos golos. O benfiquista apresenta números mais relevantes na temporada, embora se note alguma quebra, registando os mesmos três golos que “Pote” mas mais assistências (4), além de mais passes para finalização, dribles eficazes e faltas sofridas. Porém, a qualquer momento, qualquer um deles pode decidir.
Ángel Di Maria já decidiu dois “clássicos” esta temporada com o Porto, gosta de marcar em finais, como na Copa América e Mundial de 2022, e parece talhado para os grandes jogos, onde Edwards ainda não conseguiu mostrar verdadeiramente toda a sua qualidade. O argentino tem mais golo, o inglês vai ganhando na forma como serve os companheiros de equipa e fica a dúvida sobre se ganhará a experiência de Di Maria ou a capacidade de explosão de Edwards.
Na frente tem estado a vantagem leonina esta temporada. É mais ou menos pacífico que o Benfica não conseguiu ainda substituir convenientemente Gonçalo Ramos, pelos golos e por toda a influência que o português tinha no colectivo, enquanto o Sporting parece ter resolvido os seus problemas na frente com a chegada do muito influente Viktor Gyökeres.
O sueco apresenta números bem superiores ao ponta-de-lança mais utilizado pelas “águias”, o croata Petar Musa, com o dobro dos golos e quatro vezes mais assistências, além de uma competência grande na altura de converter ocasiões flagrantes e ganhar duelos, entre eles dribles e faltas sofridas. O nórdico é uma força da natureza, capaz de romper defensas e surgir na profundidade, qual “locomotiva”, registando um remate após passe vertical por partida, algo que Musa não consegue com a mesma frequência. Poderá estar aqui a chave do jogo.