P ORTUGAL perdeu e perdeu bem! O fecho de contas do Grupo F ficou manchado por uma exibição confrangedora – teve apenas pequenos lampejos positivos –, pouco, muito pouco para uma selecção que apresenta – no papel – inúmeros argumentos. A Geórgia replicou o que a Chéquia tinha feito na ronda inaugural, mas acrescentou outra qualidade na organização defensiva, com um bloco coeso e bem montado, um guarda-redes de eleição e coragem nas transições ofensivas. Os erros – António Silva vai ter pesadelos –, a má fortuna – pouca eficácia para quem acabou o jogo com 30 acções com a bola na área contrária e 22 remates – “ofereceram” em bandeja de ouro uma noite de amor ardente para os georgianos. Fica o aviso e que esta derrota sirva para “esvaziar o balão” e colocar um travão na euforia… Nos oitavos-de-final, Portugal vai medir forças com a Eslovénia, já a Geórgia (estreia de sonho nestas andanças) terá como adversário a Espanha.
Sério aviso à navegação lusa
Portugal entrou literalmente a… perder. Um passe mal calculado de António Silva desbravou o caminho que Mikautadze (assistência) e Kvaratskhelia (finalização) construíram para o golo georgiano. Com oito novidades no “onze”, Portugal demorou até conseguir entrar na partida. A partir dos 15’ subiu as linhas de pressão, começou a ser mais lesto a circular a bola entre os três sectores e encontrou na faixa esquerda a válvula de escape para começar a “penetrar” com perigo a área contrária. Foram seis as situações de perigo, mas ora os reflexos de Mamardashvili, ora as imprecisões nos momentos de finalização adiaram o empate. Pelo meio, um livre de Kvaratskhelia deixou a defensiva lusa em sobressalto. Em suma, sabendo de antemão qual seria a estratégia do opositor, os comandados de Martínez teriam de ser mais criativos a encontrar espaços para furar a muralha contrária, promovendo mais trocas posicionais e diversificando a forma como atacavam…
Já sem Palhinha em cena, Portugal carregou em busca do empate, mas voltou a fraquejar quando Ronaldo e Danilo desperdiçaram soberanas oportunidades de golo. Com o bloco mais subido, a turma nacional deixava espaços nas costas, a Geórgia rondou o perigo aos 49’ e 52’, até que António Silva voltou a “borrar a pintura”, travou Lochosvilli e, na conversão da grande penalidade, Mikautadze dilatou a vantagem. Tal como diante da Chéquia, houve incapacidade para surpreender um bloco recuado que não abria brechas, havia pouca presença na área, a circulação era feita de forma lenta, a falta de criatividade foi gritante, apenas Francisco Conceição tentava remar contra a monotonia e o seleccionador também não ajudou, demorou a fazer as substituições, quando o fez não arriscou mudando o figurino da equipa e deixou os georgianos super confortáveis na partida. Até ao apito final, Chakvetadze e Davitashvili “cheiraram” o 3-0 e no período de descontos o desnorte português a finalizar voltou a ficar bem patente…
[ Portugal acampou no meio-campo georgiano ]
O Jogo em 5 Factos
Otar Kakabadze – O ala direito passou maus bocados com a imperatividade de Pedro Neto no corredor esquerdo e terminou o duelo com cinco dribles permitidos – quatro dos quais no terço defensivo -, um novo recorde negativo na prova. Perdeu ainda 16 duelos e venceu apenas seis.
Pressão lusa – Portugal acordou a partir do primeiro quarto-de-hora e foi mais assertivo nos momentos de pressão, obrigando o adversário a cometer erros. Foram 18 os passes de risco falhados pelos georgianos na primeira metade e 11 as perdas de bola no terço defensivo.
Sem eficácia – Portugal usou e abusou dos cruzamentos. Terminou o jogo com 29 tentativas, no entanto, apenas cinco foram eficazes.
Ofensiva sem frutos – Além das ofertas defensivas, Portugal não esteve afinado no ataque. Teve 70% da posse de bola, mas nem sempre decidiu da melhor forma e foi ineficaz. Produziu 22 remates (apenas cinco enquadrados), quatro ocasiões flagrantes criadas – Expected Goals (xG) de 1,9 -, 30 acções com a bola na área contrária e 11 cantos.
Pragmatismo – A Geórgia estudou bem a lição, defendeu com afinco e foi letal nas transições. Saiu de cena com 30% de posse de bola, três ocasiões flagrantes criadas, dois golos, sete remates (três enquadrados) e um triunfo histórico.
MVP GoalPoint: Giorgi Mamardashvili
É uma das estrelas da fase de grupos que findou na noite desta quarta-feira. O gigante esteve em foco com cinco intervenções – uma das quais travando uma ocasião flagrante -, evitando 0,5 golos (defesas – xSaves). Preencheu a exibição com um total de oito acções defensivas, além das defesas foram dois alívios e uma recuperação e posse. Esteve menos bem com a bola nos pés, foram apenas três passes certos em oito tentados (eficácia de 38%). A muralha georgiana foi o melhor em campo com um GoalPoint Rating de 7.0.
Destaques da Geórgia
Khvicha Kvaratskhelia 6.6
Ressurgiu na derradeira jornada da fase de grupos para deixar a defensiva lusa em sobressalto com três remates, um golo, uma eficácia total nos nove passes que fez, ganhou quatro duelos, perdeu quatro, registou cinco recuperações de bola, sete perdas e sofreu quatro faltas (recorde no duelo).
Georges Mikautadze 6.0
Autor de um remate, um golo e já lidera a tabela dos goleadores da prova com três tentos. Cozinhou ainda a assistência para o golo inaugural e a nota não foi mais elevada pelos 13 duelos que perdeu e pelas 14 perdas da posse que acumulou.
Destaques de Portugal
João Félix 6.4
Foi a melhor unidade portuguesa em campo com três remates, uma ocasião flagrante criada, chegou às 84 acções com a bola, venceu três dribles, perdeu sete, foi eficaz em apenas dois dos sete dribles que arriscou, perdeu a posse em 14 ocasiões e registou três recuperações do esférico.
Diogo Dalot 6.1
Responsável por dois remates, apenas um passe falhado em 55, cinco passes progressivos, quatro duelos conquistados, três perdidos, cinco recuperações de posse, seis perdas e quatro acções defensivas.
Pedro Neto 6.1
Foi o principal agitador do ataque na primeira parte, o amarelo que viu por simulação acabou por condicioná-lo. Arriscou oito cruzamentos (apenas três foram eficazes), alcançou as 79 acções com a bola, ganhou oito duelos, perdeu seis, foi eficaz em quatro dos seis dribles tentados, perdeu a posse por 11 vezes e carimbou seis acções defensivas.
Gonçalo Inácio 6.1
Sai de campo com um remate, uma eficácia de 94% nos passes, 130 acções com a bola (máximo da noite), ganhou 12 duelos (outro recorde), perdeu a bola por oito vezes e foram nove as acções defensivas.
Francisco Conceição 5.9
Bem marcado pelos georgianos, teve o mérito de nunca ter desistido. Destacou-se com três remates, nove centros (apenas um eficaz), quatro passes progressivos, oito acções com a bola na área contrária, cinco duelos conquistados, nove perdidos, seis conduções progressivas e 24 perdas de bola (recorde negativo na partida).
João Palhinha 5.8
Realizou uma óptima primeira parte, saiu ao intervalo porque estava no limite de cartões para os oitavos-de-final. Em 45′ protagonizou dois remates, uma eficácia de 91% em 35 passes feitos, 45 acções com a bola, três recuperações de posse, cinco perdas, quatro acções defensivas no meio-campo contrário e cinco desarmes (máximo do jogo).
João Neves 5.3
Longe do nível que costuma apresentar, esteve tímido em campo com um remate, cinco passes falhados em 67, 82 acções com a bola, três duelos vencidos, seis perdidos, sete recuperações de posse, nove perdas, quatro acções defensivas e duas faltas cometidas.
Diogo Costa 5.1
Realizou apenas uma defesa, sofreu dois golos e acertou os dez passes realizados.
Cristiano Ronaldo 5.1
No dia em que se tornou no primeiro europeu a realizar 50 jogos em grandes provas – Europeus e Mundiais -, não esteve feliz fruto de três remates, uma ocasião flagrante desperdiçada, apenas 17 acções com a bola, acumulou seis perdas e uma recuperação do esférico.
António Silva 3.8
Obteve, sem surpresas, o pior rating da partida. Começou mal e não melhorou de produção. Esteve umbilicalmente ligado nos dois golos que fizeram a diferença no marcador, aos 21′ cabeceou uma bola “cortando” a possibilidade de CR7 finalizar quando este estava em melhor posição, registou cinco recuperações de posse, sete perdas, três acções defensivas e sete passes falhados em 59 (eficácia de 88%).