Victor Boniface: a arte de marcar golos na Bundesliga

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No sensacional e surpreendente Bayer Leverkusen brilham diversas pérolas. Da segurança de Edmond Tapsoba, passando pela agilidade de Frimpong, pelo jogo cerebral de Grimaldo, a precisão de Palacios, pela electricidade de Granit Xhaka, pelo talento geracional de Wirtz e chegando aos golos de Victor Boniface.

Os “farmacêuticos” são uma das equipas mais entusiasmantes da actualidade – já tivemos a oportunidade de dissecar o xadrez de Xabi Alonso – e o avançado nigeriano é um dos nomes que mais se têm destacado.

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Aos 22 anos, Boniface chegou a solo europeu em 2019 para reforçar os juniores do Bodo/Glimt e foi subindo patamares a uma velocidade supersónica, fruto da qualidade intrínseca que o ligava ao golo, uma arte que domina como poucos e que foi aperfeiçoando temporada após temporada. Nos “Den Gule Horde” registou 23 golos, três assistências em 66 partidas, despertou a cobiça do Union St. Gilloise e foi contratado por cerca de €6M. E precisou de apenas uma época para dar mais um passo firme na afirmação no “velho continente”.

Nos belgas, destacou-se com 17 tentos, 11 assistências nos 51 encontros que realizou. O Leverkusen fintou a concorrência e assegurou os seus préstimos e, pela amostra inicial – dez golos e sete assistências em 14 partidas em todas as competições, sete tentos e cinco passes para golo na Liga -, os quase €21M que desembolsou foram uma… pechincha.

[ Os 54 remates de Boniface na Bundesliga 23/24 – a amarelo os sete golos, a azul os enquadrados ]

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Apesar da tenra idade, o goleador já viveu a outra face da moeda, fruto de duas lesões graves – rotura dos ligamentos cruzados nos joelhos -, que o deixaram fora de combate durante 535 dias. Nesse período, estava quase “fechado” pelo Club Brugge e a transferência acabou por cair devido a mais um infortúnio.

Como joga Boniface?

No camaleónico sistema táctico dos líderes da Bundesliga, o dianteiro é a referência da equipa, sendo uma peça essencial. Se na gestão do atacante posicional tem a função de jogar de costas para a baliza, segurar a bola e permitir que a equipa mantenha a posse – é forte fisicamente, tecnicamente é evoluído, possui boa eficácia no capítulo dos passes, sendo ainda veloz e fortíssimo nos apoios frontais -, também é suficientemente lesto para aproveitar as transições ofensivas – em campo aberto é felino e difícil de travar –, explorando a elasticidade do seu jogo. A tudo isto, acrescenta uma boa capacidade técnica (recepção bastante apreciável, mas com margem para evoluir), tem mobilidade que lhe permite fugir das marcações dos centrais contrários quando descai sobre um dos corredores laterais, preferencialmente sobre o esquerdo para poder accionar as diagonais para a zona central e, dessa forma, dar assas ao pé mais forte, o direito. E sabe driblar.

“Para ser sincero, respeito todos os grandes avançados, mas não vejo muitos dos vídeos deles. Recentemente, comecei a fazê-lo, mas antes via o que faziam jogadores como Neymar e (Hatem) Ben Arfa. Há um padrão nestes jogadores, são artistas, cheios de talento, embora nem sempre sejam eficientes. O meu estilo é um pouco diferente porque na Nigéria joguei como ’10’ e como médio. Em casa, ainda vejo jogadores como Cazorla e Iniesta, observo o que faziam porque jogavam em espaços do terreno curtos e apertados”, declarou, em entrevista ao site Pulse Sports.

Neste momento, Boniface é o líder destacado – entre jogadores com mais de 450 minutos na Liga – no número absoluto de remates realizados (54), mais 11 que o segundo posicionado, Harry Kane, e também lidera nos disparos de bola corrida (51, contra 31 do segundo, também o atacante inglês). Em média são 5,8 remates a cada 90 minutos, também valor mais elevado e bem à frente da concorrência, 5,5 de bola corrida.

A sua capacidade atacante faz dele o “farol” ofensivo do Leverkusen, ao ponto de ser o jogador da Liga com mais passes progressivos recebidos por 90 minutos (12,7), sendo o quarto futebolista da Bundesliga em tentativas de drible (6,9) e o segundo em eficazes (3,5).

[ Os dribles de Boniface na Bundesliga 23/24 ]

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Uma das lanças das “super águias” de Peseiro

No início de 2024 – de 13 de Janeiro a 11 de Fevereiro –, vai decorrer a fase final do Taça das Nações Africanas e a Nigéria irá marcar presença. A selecção orientada por José Peseiro é uma das favoritas e o treinador português terá algumas dores de cabeça, uma das quais passa por conjugar de forma equilibrada todo tanto talento que tem em mãos. Além de Boniface, tem no leque de opções Victor Osimhen, Samuel Chukwueze, Taiwo Awoniyi, Terem Moffi, Ademola Lookman, Kelechi Iheanacho, Moses Simon, Rafiu Durosinmi, Akor Adams, Umar Sadiq, Nathan Tella ou Gift Orban.

O Leverkusen sabe que tem em mãos um “diamante” ainda por lapidar e, caso mantenha este crescimento ascensional, será um dos alvos mais apetecíveis nos próximos mercados de transferências. O golo paga-se bem caro e não deverão faltar candidatos a contratar o avançado africano de 1,90m e 91 quilos. Com contrato até 30 de Junho de 2028, Victor tem um valor de mercado cifrado nos €40M, de acordo com o especializado Transfermarkt, valor esse que deverá ou poderá ser apenas para início de conversas para os clubes interessados.

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Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.