Como joga o surpreendente Bayer Leverkusen de Xabi Alonso?

-

(artigo originalmente publicado a 27 de Outubro de 2023)

Uma das grandes surpresas do futebol europeu neste início de temporada 2023/24. Falamos do Bayer Leverkusen de Xabi Alonso, uma equipa que “joga à bola que se farta”. À passagem da oitava jornada é o actual líder da Bundesliga, com 22 pontos, fruto de sete triunfos e de um empate – diante do Bayern Munique (2-2), emblema que venceu as últimas 11 edições do campeonato germânico.

Os farmacêuticos têm o segundo melhor ataque com 25 golos marcados, os mesmos do que vice-líder Estugarda e menos um que “tubarão” da Baviera, e consentiram sete tentos, tal como o Bayern e RB Leipzig, e menos um que Eintracht Frankfurt.

Após ter assumido o leme em meados de Outubro do ano passado, quando o conjunto tinha apenas nove pontos averbados em oito jornadas e ocupava os últimos lugares da classificação, Xabi Alonso iniciou uma excelente recuperação que culminou no sexto lugar, tendo ainda caído nas meias-finais da Liga Europa aos pés da Roma de José Mourinho. O jovem técnico espanhol manteve a base da época anterior – Tah, Tapsoba, Frimpong, Wirtz e Amine Adli por exemplo – e reforçou o plantel com os experientes Xhaka, Grimaldo, Hoffmann e o goleador Victor Boniface.

As várias camadas dos “werkself” de Alonso

Partindo de uma base bastante móvel, um 1x3x4x2x1, que se transforma, consoante o adversário e as várias fases e momentos dos encontros – 1x3x4x3, 1x3x5x2,1x5x4x1 ou até mesmo num 1x5x2x3 -, o técnico basco preconiza no seu livro de estilo um jogo bastante técnico, em progressão, intenso, de pressão constante, sempre com a bola a circular com velocidade e critério, utilizando, preferencialmente, um ou dois toques e explorando os três sectores do campo. Os “werkself” são uma formação que domina bem os quatros momentos do jogo – organização ofensiva, transição defensiva (o momento mais crítico) –, organização defensiva e transição ofensiva e são ainda perigosos nas bolas paradas atacantes.

É um conjunto muito paciente, principalmente na primeira fase de construção. Neste momento, Tapsoba e Tah ganham a companhia dos médios Xhaka ou de Exequiel Palacios, Frimpong projecta-se na asa direita, Odilon Kossounou protege-lhe as costas, Grimaldo é importante, jogando mais em terrenos interiores, mas também surgindo em zonas de finalização – participação directa em seis golos com três tiros certeiros e outras tantas assistências em oito jornadas.

A fase inicial de construção é feita com os três elementos – cruciais para o sucesso da equipa, já que assumem a posse de bola, atraindo os avançados contrários e libertando espaço para a equipa ter superioridade na zona do meio-campo. Numa segunda fase pelo menos um dos dois médios auxiliam, com isto os dois alas saltam para a zona do meio-campo, abrindo espaço para os médios poderem circular a bola e obterem diversas possibilidades e linhas de passe mais “limpas”.

Legenda:

  • Mapa da esquerda: conduções progressivas (tracejados), dribles (estrelas) e faltas sofridas (triângulos azuis). O Leverkusen constrói a partir de trás com grande qualidade e explora muito bem a qualidade dos seus alas para levar a bola para a frente:
  • Mapa do meio: os passes para finalização (14,1 por jogo, segundo valor mais alto da Bundesliga) que, apesar do muito jogo pelas alas, acabam por acontecer, na sua maioria, pela zona central do terreno;
  • Mapa da direita: ocasiões flagrantes. O Bayer é a equipa que mais cria destes lances na Liga alemã, 4,6 por desafio. O Stuttgart, logo a seguir, não passa das 3,4.

No meio-campo ofensivo, Hoffmann e Wirtz são tecnicamente evoluídos e os faróis que abrem caminho para Boniface disparar todo o veneno que tem no momento de visar as redes adversárias.

[ O ex-Benfica, Álex Grimaldo, Florian Wirtz e Victor Boniface são peças fundamentais no xadrez do Leverkusen ]

A inteligência táctica de vários elementos ajuda a equipa a não se desequilibrar. Se os alas Frimpong e Grimaldo têm liberdade para dar largura ao jogo, mas também sabem quando têm de fechar, Tapsoba tem a técnica apurada e muitas vezes é ele quem assume a organização dos lances no primeiro momento, vestindo a pele de médio-defensivo, Kossounou é o defesa-central pela faixa direita, mas com as incursões de Frimpong, é muitas vezes o defesa-direito.

A versatilidade é uma das armas dos “farmacêuticos”, que têm vários planos que tentam accionar no decurso das partidas. Se a construção mais paciente não resulta, aproveitam a imponente presença de Boniface para explorarem um futebol mais directo, com o ponta-de-lança nigeriano a segurar a bola de costas para a defensiva contrária, permitindo que a equipa suba em bloco. Os interiores Hoffman e Wirtz juntam-se à zona central, mas também têm a capacidade de “abrirem” o campo pelos flancos. Em suma, este Leverkusen tenta sempre assumir o papel de protagonista e não tem pejo em jogar no meio-campo do adversário o maior tempo possível.

Algumas debilidades desta ousada forma de jogar residem no espaço concedido nas costas da última linha defensiva e na posição entrelinhas, entre os defesas e médios mais recuados. Dessa forma, Alonso tenta equilibrar o jogo, actuando Frimpong – mais vertical – na asa direita, e muitas vezes é Hofmann quem joga à frente do neerlandês. Se Grimaldo – explora mais o jogo interior – é o senhor no corredor canhoto, Wirtz ou Adli são os responsáveis em dar outra amplitude a esse flanco.

“O Leverkusen é hoje o principal candidato a aproveitar a instabilidade do Bayern e a encerrar sua hegemonia”
(
Leonardo Bertozzi)

O jornalista Leonardo Bertozzi ajudou-nos a conhecer melhor como joga o actual líder do campeonato alemão.

“O Leverkusen joga num 3-4-2-1, com Boniface como referência e a dupla de criação com Hofmann e o talentoso Wirtz. A chegada de Xhaka para o meio-campo ao lado de Palacios deu estabilidade ao sector. Frimpong e Grimaldo são dois foguetes pelas alas. É uma equipa obcecada em pressionar e em forçar o erro do adversário em zonas de perigo. O que pode melhorar é a transição defensiva quando essa pressão inicial não funciona. Mas é possível dizer, sim, que o Leverkusen é hoje o principal candidato a aproveitar a instabilidade do Bayern e encerrar sua hegemonia”, salientou o comentador dos canais brasileiros  ESPN/Star+, que destaca três peças do conjunto germânico. “Os meus destaques individuais são Boniface, Wirtz e Frimpong”, rematou.

Com dois grandes troféus no museu, a antiga Taça UEFA, versão 1987/88, e a Taça da Alemanha em 1992/93, será que este Bayer Leverkusen vai conseguir acabar com a hegemonia do Bayern Munique e vencer a Bundesliga pela primeira vez? Estaremos atentos às cenas dos próximos capítulos dos farmacêuticos liderados por Xabi Alonso…

… e voltamos já após a confirmação do há muito perseguido título que premiou o excepcional trabalho de Xabi Alonso e seus jogadores, confirmado numa “gorda” vitória frente ao Bremen.

Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.