FC Porto : as diferenças que já se medem com Farioli

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A nação “azul-e-branca” está naturalmente entusiasmada. Chegada a primeira paragem FIFA, após o primeiro mês de Liga, o FC Porto lidera o campeonato só com vitórias, incluindo a teoricamente mais difícil de obter: em casa do bicampeão em título. Liderança, novos jogadores que prometem ser contratações certeiras, outros que parecem recuperar a sua melhor face e.. Francesco Farioli, um treinador com uma postura simpática, sorridente e positiva a liderar a promessa de um Porto totalmente transformado, e em tempo recorde.

Na tabela as coisas não deram propriamente uma “cambalhota” face ao arranque do ano passado. Vítor Bruno nunca chegou a convencer os portistas, mas a verdade é que a vitória de Farioli em Alvalade é a única diferença (e bem exacta, ocorrida na mesma jornada) face ao início homólogo, no qual os “dragões” chegaram à pausa com nove pontos, fechando com uma derrota de 2-0 em Alvalade, frente a um adversário ao qual já haviam subtraído uma Supertaça, conquistada com uma reviravolta épica.

Contudo, se na tabela a mudança não é assim tão drástica, já no campo há, de facto, um “novo Porto”, bem visível e mensurável. Destacamos cinco principais mudanças, melhorias ou novidades que a nova “Farioneta” italiana promete, com base nos indicadores de desempenho médio destas quatro primeiras jornadas, quando comparados com o “benchmark” portista completo da Liga 24/25.

[ Os 32 passes de risco falhados pelo Sporting frente ao novo FC Porto, um “recorde” leonino que não foi certamente apenas um azar ]

1. Mais objectividade com bola, mais acção para a recuperar

Para surpresa, até nossa, no duelo “achómetro vs factos”, o novo FC Porto não está mais “hiperactivo”, bem pelo contrário. Os “dragões” somam uma média de 629 acções por jogo, menos 69 por jogo que em 24/25. A diferença, para melhor, está na objectividade e no que o Porto faz sem bola.

A “Farioneta” pode ter perdido acções em campo, mas cresceu, por exemplo, no total de acções defensivas, quando não tem a bola, de 48 para 52 por jogo. Contudo, a grande melhoria está mesmo na objectividade do que faz, com bola, a pensar na baliza contrária. O novo Porto não só remata mais (já lá vamos) como agora soma apenas de 23 passes certos em média até tentar um remate, quando em 24/25 precisava de 30.

[ Os “dragões” foram a Alvalade tentar 14 remates e enquadraram metade, ilustrando bem a melhoria em quantidade e qualidade ]

2. Cabeça na baliza, com mais pontaria e eficácia

O Porto de 24/25 rematava 14 vezes por jogo. Com Farioli o “dragão cospe fogo” 17 vezes por partida, mas as melhorias não são apenas de quantidade. Apesar de disparar até de ligeiramente mais longe do que o fazia (16,6 vs. 17,2 metros de distância média nesta época, de bola corrida), os “dragões” estão mais eficazes, concretizando 17% dos disparos (contra 13% na Liga passada) e enquadrando agora 41% dos remates (vs. 37% em 24/25).

3. Menos cruzamentos e bola longa, mais passe curto para desmarcação

Ao contrário do que se possa pensar, o Porto não chega mais e melhor ao remate à custa de mais passes progressivos ou de ruptura, algo que, mais do que no ano passado, caracterizou a era Conceição. O Porto faz menos passes progressivos por jogo (caiu de 40 para 36), tenta menos passes longos (de 9% passou a 7%) e, sobretudo, procura bem menos o passe de ruptura, a quebrar linhas (de 2,2 por jogo passou a menos de um).

Como se explica então que o FC Porto remate e crie mais (3,3 ocasiões flagrantes, cerca de mais uma por partida), fazendo menos tudo isto? Simples. Os “dragões” abdicaram, por exemplo, da previsível procura excessiva pelo cruzamento (a pensar em Samu, faziam 14 e passaram a tentar apenas oito) e diversificaram a forma como desequilibram o adversário, seja pelas alas ou no jogo interior, com o passe e desmarcação curta a disparar de sete para dez por jogo.

A própria forma como o FC Porto ainda tenta os cruzamentos mudou: no ano passado os “dragões” precipitavam-se em nove cruzamentos profundos (antecipados, menos eficazes e muitas vezes forçados por dificuldades em chegar ao último terço), algo que agora tentam apenas quatro vezes por partida.

[ Less is more: o FC Porto abriu a Liga com apenas seis cruzamentos frente ao Vitória (metade eficazes) e apenas um à linha ]

4. Bola mais rente à relva, com mais confiança na “fantasia”

Com menos bola longa, mais “one-twos” e maior objectividade rumo à baliza, não admira que, por exemplo, o Porto tenha passado a tentar apenas duas variações de flanco por jogo, algo que ensaiava o triplo, em 24/25. O “dragão” mantém a bola mais à flor da relva e é assim que procura destabilizar o adversário. Outra prova disso é o aumento da frequência de drible de 18 para 23 e com maior eficácia (de 38% para 42%).

Na hora de “cavalgar” com bola, não havendo diferenças de uma época para a outra no total (12 por jogo), o novo Porto está também aqui mais objectivo, com três conduções progressivas a terminarem em remate ou passe para finalização, contra apenas uma na época passada.

[ Diogo Costa defendeu todas as sete bolas rematadas pelos adversários à sua baliza ]

5. Na hora de defender… sobra um Diogo Costa “prime”

No plano defensivo o FC Porto dá uma imagem de maior agressividade na recuperação da bola e/ou na forma como pressiona o adversário a perdê-la mais rapidamente. Sendo verdade, a diferença não é drástica e decorre claramente mais do posicionamento e pressão passiva do que propriamente de acções concretas de recuperação de posse. O “dragão” leva 14 acções defensivas no meio-campo ofensivo por jogo, apenas mais uma do que a média de 24/25. No entanto, a diferença é mais relevante nas acções defensivas feitas logo no primeiro terço defensivo adversário (de seis passou a oito acções) e no próprio terço defensivo (de 29 passou a 33).

O Porto soma menos desarmes (de 14 passou a 10) e até permite mais remates (de nove por jogo passou a 13 permitidos), certamente um compromisso ponderado e que a chegada de reforços ainda não utilizados (ex.: Kiwior) poderá melhorar.

No entanto, mesmo sendo ligeiramente mais permissivo, o FC Porto conta neste arranque com um Diogo Costa a um nível superior. O internacional português travou 86% das bolas dirigidas à sua baliza (tendo sido batido aliás por apenas um autogolo), um rácio que será difícil de manter mas que é muito acima do que se espera de um bom guarda-redes (acima dos 70% já é muito bom nível, numa Liga profissional de topo). Diogo Costa sai também com maior frequência (duas vezes por jogo) a cruzamentos e claramente com mais confiança, pois tem 100% de sucesso nessas decisões, até agora (na época passada falhou 4%).

Quatro jornadas é um período curto para tirar conclusões, sobretudo com tantas mudanças em curso no Dragão, incluindo reforços que só agora vão ter a oportunidade de influenciar o “ADN” em formação. No entanto, algumas das diferenças face ao Porto anterior são já bem vincadas, fundamentando um entusiasmo nas bancadas cuja convicção não assenta apenas nos resultados, mas também na maior qualidade e imprevisibilidade do futebol prometido pela “Farioneta” italiana.

GoalPoint
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