Antevisão | Sporting 🆚 Arsenal, o rugido contra os canhões

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É já esta quinta-feira, a partir das 17h45, que o Sporting vai tentar afastar dos oitavos-de-final da Liga Europa o Arsenal. A tarefa dos comandados de Rúben Amorim não será fácil, perante um adversário que lidera com mestria a Premier League – para muitos o campeonato mais competitivo do Mundo –, somando, em 26 jornadas, 20 triunfos, três empates, outras tantas derrotas, 59 golos marcados, 25 consentidos e uma almofada de vantagem de cinco pontos para o bicampeão Manchester City. É este o adversário dos “leões”, emblema que os portugueses defrontaram nesta mesma competição, em 2018/19, e com um empate sem golos em Londres.

[ O empate do Sporting no terreno do Arsenal, em 18/19, teve estes protagonistas ]

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O sonho do título, que foge desde a altura dos “invencíveis” – foram campeões sem qualquer desaire em 2003/2004, feito único no actual modelo da Premier League e que antes só tinha sido alcançado pelo Preston North End no final do século XIX -, nunca esteve tão perto.

“Trust the process”

Antigo jogador dos “gunners”, Mike Arteta era o braço direito de Pep Guardiola quando resolveu arriscar e assumir a vaga deixada em aberto após a demissão do compatriota Unai Emery a meio da temporada 2019/20. A missão era espinhosa e, ao mesmo tempo, um desafio, que passava por reconstruir o plantel e voltar a colocar o emblema do norte de Londres no trilho das vitórias.

A Taça de Inglaterra vencida no final dessa temporada aguçou o apetite e a Supertaça levantada meses depois, no arranque de 2020/21, deixou os adeptos e fãs do clube entusiasmados, mas para apanhar a pedalada de Manchester City, Liverpool ou até do arqui-rival Tottenham, o Arsenal passou por diversos períodos tortuosos, parte da massa chegou a pedir a “cabeça” do treinador de 40 anos, mas a Direcção sempre apoiou e confiou no processo, expressão “roubada” a Samuel Blake Hinkie, antigo diretor-geral e presidente de operações dos Philadelphia 76ers.

E a paciência poderá começar a dar frutos, já que, além de estar bem colocado no campeonato, o Arsenal é apontado como um dos principais candidatos a conquistar esta edição da Liga Europa, uma oportunidade de ouro para apetrechar o CV europeu do clube, que apenas conquistou duas provas que já foram extintas: a Taça das Cidades com Feiras (1969/70) e a Taça das Taças (1993/94).

Como jogam os “canhões” do mister Arteta?

Esquematizados num 1x4x3x3 maleável, que muitas vezes se transforma num 1x4x2x3x1, os “gunners” são uma equipa vibrante, intensa, organizada, talentosa, competitiva e com uma fé inabalável nas directrizes preconizadas por Arteta, tentam assumir o controlo das partidas, elaboram as investidas atacantes desde a zona recuada, com um futebol apoiado e elaborado. A equipa procura controlar e suster a pressão contrária, atacando numa espécie de 1x2x3x5. Para o treinador espanhol, atacar bem significa estar bem organizado para defender quando a equipa perde a bola.

[ Assim foi a última (e sofrida) vitória do Arsenal na Premier League ]

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Na primeira fase de construção, o guarda-redes Ramsdale é uma muleta importante para os centrais, por norma Saliba (de quem já falamos em tempos), Gabriel Magalhães (muito instável e um dos calcanhares de Aquiles da equipa) e o lateral-direito Ben White (central adaptado) ou Tomiyasu. Com isso, Zinchenko (no papel é o lateral-esquerdo, mas no campo é um dos principais cérebros do conjunto) sobe no terreno e assume uma missão preponderante a coordenar as acções atacantes com precisão, juntando-se ao miolo a Partey (está a realizar uma grande época), libertando Xhaka (a justificar a aposta da equipa técnica) e o criativo Martin Ødegaard (um camisola “10” à antiga).

A largura é dada pelas flechas Saka (à direita) e Gabriel Martinelli (à esquerda), dupla que tem um elevado raio de acção e que surge a toda a largura do terreno. No centro, primeiro esteve Gabriel Jesus (recupera de uma lesão parcial do ligamento colateral do joelho direito), depois Eddie Nketiah (mazela num dos tornozelos) e o reforço Trossard (lesionou-se no triunfo ante o Bournemouth). Três avançados que emprestam à equipa muita mobilidade.

Os líderes da Premier não têm apenas uma forma de abordar os jogos. Além do perfil mais cerebral e de constante pressão sempre que não têm a bola, também são camaleónicos e exploram muito as jogadas rápidas, recuam as linhas, saltam com uma certa facilidade as “linhas” de pressão do opositor e chegam em poucos toques à área contrária. Atenção aos passes longos de Xhaka e Zinchenko, à rapidez e técnica apurada dos alas Saka e Martinelli e às finalizações certeiras de Ødegaard.

Não tendo as soluções do Man. City, Liverpool ou até dos milionários Chelsea ou Manchester United, o Arsenal tem um plantel equilibrado, que ganhou novas peças com as incorporações em Janeiro do experiente Jorginho (organizador puro, de técnica apurada, com uma excelente visão de jogo e que encaixa que nem uma luva na proposta defendida por Arteta) e do multiusos Trossard (poderá ser utilizado como extremo, avançado-centro ou mais recuado, nas costas do ponta-de-lança). Além disso, Tierney, Elneny, o “nosso” Fábio Vieira, Emile Smith Rowe ou Reiss Nelson (herói inesperado na última jornada) são nomes a ter em conta.

Em resumo, os “gunners” tentam sempre criar uma ratoeira aos adversários, desafiando o opositor a pressionar a primeira fase de construção, para depois, sempre que conseguem ultrapassar esta primeira linha de pressão, encontrar espaços nas costas (campo aberto) que exploram com mestria.

Os famosos triângulos que a formação de Londres vai formando e espalhando no terreno de jogo são, também, uma forma de prevenir os contra-ataques do adversário. Neste momento, a importância do trio formado por Xhaka, Ødegaard e Zinchenko ganha ainda mais preponderância.

As lacunas deste Arsenal

Para levar de vencida a armada inglesa, Rúben Amorim poder adoptar uma estratégia mais conservadora, baixando o bloco e esperando pelo momento certo para lançar alguns contragolpes, explorando as costas da defensiva londrina, principalmente o lateral-esquerdo e o central do lado canhoto, Gabriel Magalhães. Foi, por exemplo, assim que o Manchester City travou os líderes em Londres, principalmente quando Haaland passou a cair “em cima” do brasileiro. Não tendo o norueguês no plantel, Amorim tem o jovem Chermiti uma possível arma. Caso opte por jogar cara a cara com os “gunners”, o Sporting terá de ser uma equipa agressiva e intensa, que consiga explorar a largura com os alas e que não tenha inferioridade na zona central do meio-campo.

Os ingleses denotam, ainda, algumas falhas nos lances de bola parada, muitas vezes são apanhados em contrapé, quando não são precisos e eficazes na reacção – ganhar as “segundas” bolas é crucial, não só para suster a resposta dos adversários, como para manter a posse em zonas adiantadas -, e concedem muitos espaços nas costas por actuarem com o bloco muito subido e colocarem, quase sempre, sete jogadores no processo ofensivo. Não espanta o mapa em baixo à esquerda, com os remates consentidos aos seus adversários a nascerem, na sua maioria, nas alas.

[ Passes e conduções dos adversários do Arsenal pré-remate (à esquerda); xG e remates dos adversários (à direita) na EPL 22/23 ]

Em suma, o Arsenal é um esquadrão atrevido com a bola, vertical, que circula a bola com velocidade, sabe o que quer quando tem o esférico, é muito incisivo na zona dos últimos 30 metros, pressionante e com uma forte reacção à perda da posse, tentando roubar a iniciativa ao adversário nos primeiros segundos.

Os ingleses são amplamente favoritos nesta eliminatória, mas o melhor Sporting já demonstrou que poderá ter uma palavra a dizer, caso esteja ligado, organizado e tenha a coragem necessária para assumir alguns riscos (calculados) para ferir este Arsenal, que é fortíssimo, mas que não é infalível.

Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.