A eleição do Jogador do Ano GoalPoint da Liga NOS é quase sempre alvo de discussão, isto apesar de ser no fundo uma consequência das “conclusões” a que chegou o nosso algoritmo e não um exercício de opinião da nossa parte. Desta feita arriscamos dizer que a polémica será nula: o nosso eleito é Pedro Gonçalves, também conhecido como “Pote”, o tal médio-centro que saiu do casulo e se transformou, esta época, numa máquina ofensiva goleadora capaz de envergonhar muitos craques com “carta” de ponta-de-lança. Um autêntico “JackPote” que culminou no título leonino, no primeiro título de melhor marcador da Liga para um português desde 1996 e na chamada ao EURO 2020. Melhor era impossível.
[ Todos os 23 golos de Pedro Gonçalves na Liga NOS 20/21 ]
No Verão começou uma “mini novela”, na qual chegou a ser associado ao FC Porto. Entrou depois o Sporting em campo, e foi o “leão” que conseguiu a contratação de Pedro Gonçalves, de apenas 22 anos, a troco de €6,5M, por metade do passe do então médio-centro formado no Braga, com passagens por Valência e Wolverhampton. Rúben Amorim procedeu à conversão do jogador num médio-ofensivo letal e a resposta às desconfianças iniciais de alguns adeptos não tardou. Finda a Liga NOS 2021, Pedro Gonçalves é o Jogador do Ano GoalPoint Ratings, com um excelente 6.74, eleição com base num universo de jogadores com mais de 2040 minutos jogados no campeonato – 50% do total possível. E já o tinha sido na primeira volta da Liga.
A transformação que Pedro Gonçalves viveu foi verdadeiramente extraordinária. No Famalicão foi um excelente médio-centro, fundamental na época de grande nível da equipa em 20219/20 na Liga, na qual o clube recém-promovido esteve perto de uma histórica qualificação para uma competição europeia. A sua qualidade era mais do que evidente, apesar de ter terminado a temporada com “apenas” sete golos (cinco no campeonato) – um óptimo registo tendo em conta a posição. Mas parece óbvio, à distância, que Rúben Amorim já tinha planos diferentes para “Pote”, reconhecendo-lhe qualidades ofensivas que passaram ao lado de todos.
[ O Pedro de Famalicão VS. o Gonçalves de Alvalade ]
Desde o início da época, Pedro Gonçalves surgiu no Sporting em missão de médio-ofensivo, com grande liberdade de movimentos, caindo nas alas, recuando, e entrando na grande área, em posição de finalização, como ninguém, pé-ante-pé, procurando sempre os espaços vazios para concluir os lances com a maior probabilidade de sucesso possível. O resultado está à vista: 23 golos e uma capacidade finalizadora invejável e à nona jornada já levava dez golos no seu pecúlio.
Um médio que parece um avançado
A influência de “Pote” no futebol leonino foi ampla, mas não há como esconder o peso óbvio que tem nos momentos ofensivos, na finalização, no remate. O flaviense foi o quinto jogador que mais rematou em toda a Liga em termos absolutos, um total de 79 vezes (equivalente a 2,7 a cada 90 minutos), atrás de Haris Seferović (92), Douglas Tanque (90), Carlos Júnior (84) e Mehdi Taremi (82), e o resultado de toda essa actividade sai bem ilustrado nos mapas seguintes.
À esquerda o mapa com todos os disparos do nosso Jogador do Ano, com cinco aos ferros (máximo da Liga), 23 golos (a amarelo) e 38 deles enquadrados (a azul). A pontaria de Pedro Gonçalves foi a melhor de todas. Nenhum jogador nesta análise conseguiu uma taxa de conversão de remates em golo tão alta, nada menos que 29,1%, o que explica a vitória final na corrida pelo galardão individual de melhor marcador. Mas há mais.
À direita os remates em situação de ocasiões flagrantes de golo. Pedro Gonçalves não é um ponta-de-lança, ou finalizador nato, pelo menos de formação, mas tal não o impediu de terminar a Liga como o jogador com melhor aproveitamento de situações claras de golo. “Pote” transformou em golo 63,2% das “flagrantes” de que dispôs, bem à frente do segundo melhor registo, pertencente a Mario González (52,4%), do Tondela, e dos avançados de Benfica e FC Porto, Haris Seferović (43,2%) e Mehdi Taremi (41,7%).
O passe e o trabalho defensivo
O jogador leonino foi bem mais do que golo e teve um contributo também na construção e distribuição de jogo, bem como na ajuda colectiva, nos momentos defensivos. Trabalho muitas vezes ignorado, mas que se revela vital numa equipa que se quer competitiva e compacta.
[ À esquerda os 51 passes para finalização de “Pote”, direita as 104 acções defensivas ]
Nos registos surgem apenas três assistências. Não é um pecúlio impressionante, é verdade, mas os números mostram que não foi por falta de tentativas. Em termos absolutos, Pedro Gonçalves foi o terceiro jogador da Liga que mais passes para finalização realizou, nada menos que 51 (Ryan Gauld liderou, com 75), sendo que dez deles foram para ocasião flagrante (os seus companheiros de equipa falharam, portanto, sete destas situações). Como se pode constatar pelo mapa da esquerda, esses passes aconteceram um pouco por todo o lado em situação de ataque.
Defensivamente, o contributo de Pedro Gonçalves foi amplo, com 104 acções defensivas espalhadas por praticamente todo o terreno de jogo. Contudo, pela posição que ocupou e pela missão de pressão em terrenos mais altos (claramente uma capacidade aproveitada por Rúben Amorim), “Pote” somou 25 acções defensivas no último terço, segundo valor mais elevado na equipa do Sporting, apenas atrás das 27 de João Palhinha, e o oitavo registo.
[ O statscard de Pedro Gonçalves na Liga 20/21 ]
“Só sai pela cláusula de rescisão”, disse o treinador do Sporting, Rúben Amorim, quando questionado sobre o futuro de Pedro Gonçalves. É de esperar, assim, que “Pote” permaneça em Alvalade em 2021/22, mas as notícias já dão conta da atenção dos “tubarões” europeus no substituto de Bruno Fernandes no Sporting, que saiu “melhor do que a encomenda”.