A Era de Rafa Silva: oito anos a voar no Benfica

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Oito temporadas depois, Rafa Silva diz adeus ao Benfica, a custo-zero, após terminar contrato com os “encarnados”. Na altura em que escrevemos estas linhas ainda não é sabido o destino do atacante, mas sabemos qual foi o seu passado de águia ao peito. Velocidade, explosão, repentismo, muitos golos e assistências são o principal do legado que Rafa deixa no emblema da Luz. Porém nem tudo foi fácil.

As primeiras duas épocas de Rafa no Benfica foram de indefinição e crítica. O jogador demorou a explodir de águia ao peito e nem sempre as decisões e a qualidade na finalização acompanhavam a notória capacidade de condução, de surgir nas costas das defesas em velocidade e até a boa qualidade no drible. Porém, a nada altura, Rafa encontrou o seu caminho e a História tem os números para relembrar o peso que teve no sucesso recente dos benfiquistas: três campeonatos conquistados, três Supertaças, duas Taças de Portugal, 326 jogos pelos lisboetas em todas as competições, 204 vitórias, 64 empates, 58 derrotas, 94 golos marcados e 67 assistências. E apenas um vermelho, por duplo amarelo, e nenhum directo.

Liga portuguesa: Ponto de viragem em 2018/19

Os primeiros tempos de Rafa na Luz foram difíceis. Muitos golos falhados, decisões erradas, pouca capacidade de desequilibrar colocaram dúvidas sobre os €16M que o Benfica pagou ao Braga pelos préstimos do internacional luso. Faltavam golos e assistências, que começaram a surgir em 2018/19 em grande quantidade, altura em que fez 17 tentos na Liga. Este foi o ponto de viragem na vida de Rafa na Luz.

A partir daqui, mesmo com algumas temporadas mais produtivas que outras, o atacante assumiu um peso grande no futebol ofensivo dos “encarnados”, com exibições de grande nível e, inclusive, duas notas 10.0 nos GoalPoint Ratings, sendo mesmo, a par de Viktor Gyökeres, o único jogador a registar duas notas máximas no nosso campeonato: na segunda jornada de 2019/20, ante o Belenenses, e na 15ª de 2021/22, na recepção ao Marítimo – todos os ratings perfeitos nas provas nacionais podem ser consultados aqui (link).

Destaque para 21/22, época em que Rafa fez oito golos e 15 assistências, precisamente a que mais passes para golo registou, mas a última, 2023/24, que termina muito em breve, foi mesmo a temporada em que Rafa mais somou acções para golo, nada menos que 26, correspondente a 14 golos e 12 assistências.

Números para todos os gostos

Na Liga dos Campeões e Liga Europa os números também não envergonham, antes pelo contrário. Na Champions, contando com a qualificação, foram 48 jogos, 13 golos marcados e quatro assistências, sendo que na Europa League registou 21 encontros, cinco tentos e dois passes para golo. Podemos afirmar que as duas épocas nas infografias abaixo foram as melhores de Rafa nas provas europeias pelo Benfica, a Liga Europa 20/21, na qual fez dois golos e uma assistência, mas essencialmente a Champions desta época, com cinco tentos apontados e um passe para golo, com um extraordinário envolvimento de 44% em finalizações (remates e passes para remate) de bola corrida.

Tendo em contra a Liga portuguesa, a Liga dos Campeões e a Liga Europa, estas são as principais estatísticas que Rafa deixa como legado na sua passagem pelo Benfica, ao longo das oito temporadas:

  • Muita chegada à área: o acumulado destas três competições mostram um jogador que se integra sempre bem na área adversária, mesmo tendo em conta que jogou várias temporadas colado às linhas. Em média foram 6,2 destas acções por 90 minutos;
  • Peso grande nos golos do Benfica: nestas três provas e em oito temporadas, Rafa teve acção directa em 29,1% dos tentos que a “águia” marcou consigo em campo;
  • Sempre de olhos na baliza: em média, Rafa registou 2,3 remates por 90 minutos, sendo 2,0 de bola corrida;
  • Perigoso a servir os colegas: o atacante fez 1,7 passes para finalização nestas três competições, mas o destaque vai mesmo para as 0,4 ocasiões flagrantes criadas por 90 minutos;
  • Sempre muito solicitado: um dos indicadores principais de um avançado são os passes progressivos recebidos e Rafa acumulou extraordinários 9,6 ao longo destas oito épocas;
  • Perito a levar a bola: as conduções progressivas (que aproximam a equipa pelo menos 25% da baliza adversária) foram também uma imagem de marca, com 3,2 por 90 minutos. Super progressivas foram 1,0;
  • Um driblador de qualidade: em média, Rafa fez 5,3 tentativas de drible por partida, completando 2,6, equivalente a uma eficácia de 47,8%.

Mas… nem tudo foi brilhante:

  • Perdulário em frente ao golo: o ponto de maior crítica a Rafa sempre foi os muitos golos que falha. De facto, nestas três provas, o atacante converteu somente 37,9% das ocasiões flagrantes de que dispôs;

[ O adeus de Rafa ao Estádio da Luz ]

Após o final da Liga, com a realização da 34ª jornada, Rafa dirá adeus a uma casa em que teve de tudo, sucessos e fracassos. Olhando para trás, para os números e pela forma como os adeptos se despediram dele no Estádio da Luz, é caso para dizer que, Rafael Alexandre Fernandes Ferreira Silva, 30 anos, deixou um legado no reino da águia.

Pedro Tudela
Pedro Tudela
Profissional freelancer com mais de duas décadas de carreira no jornalismo desportivo, colaborou, entre outros media nacionais, com A Bola e o UEFA.com.