Tiago Santos, o lateral moderno que está a “partir tudo” na Ligue 1

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Este é caso para escrevermos… “Bravo” Tiago Santos. O jovem português está a “partir tudo” na época de estreia com as cores do Lille e tem sido uma das sensações dos “Les Dogues”.

Rápido, incisivo, intenso, com uma técnica apreciável, um remate fácil e certeiro, maduro apesar da tenra idade, com uma óptima interpretação do jogo, cada mais eficaz e sólido no processo defensivo, o lateral-direito já mais do que justificou os cerca de €6,5M milhões – o Sporting, clube que representou na formação, detinha 10% do passe – que o conjunto gaulês pagou ao Estoril Praia no Verão passado pelos seus préstimos.

A ascensão de Tiago tem sido meteórica e, ao mesmo tempo, sustentada. Após ter saído de Alcochete – chegou a actuar nos escalões de formação do Oeiras e Sacavenense –, foi “resgatado” pelo Estoril, brilhou nos sub-23 com as conquistas da Liga e da Taça Revelação, foi promovido para a equipa principal e não tardou em assumir uma vaga como indiscutível no corredor direito. Bastaram 34 partidas, na Liga, Taça de Portugal e Taça da Liga, e oito assistências para aguçar o apetite de vários emblemas, mas o Lille foi mais lesto e, para já, fez uma escolha certeira. Até ao momento, contabiliza 39 encontros, num total de 3379 minutos na Liga Conferência, Ligue 1 e Taça de França, com três golos e duas assistências.

Um jogador cada vez mais “camaleónico”

Actual quatro classificado na Ligue 1 e com aspirações a carimbar presença nas meias-finais da Liga Conferência, este Lille de Paulo Fonseca tem apostado num 1x4x2x3x1 bastante maleável e que tem impulsionado as principais virtudes do atleta de 21 anos, e aprimorado uma valência, a capacidade de se juntar à “casa de máquinas” no meio-campo assumindo o papel de construtor, qual João Cancelo nos tempos áureos no Manchester City de Pep Guardiola, de Trent Alexander-Arnold no Liverpool de Jürgen Klopp ou de Ricardo Pereira no Leicester de Enzo Maresca.

“É um jogador que já dava nas vistas ao serviço do Estoril, sendo que impressionava mais pela qualidade como construtor do que propriamente pelo jogo em profundidade. É certo que também tem algumas condições para desequilibrar, possui uma meia distância forte, que até está a ser aproveitada por Paulo Fonseca, mas é um jogador para evoluir mais de trás para a frente em termos de participação no jogo apoiado da equipa, muitas vezes em função do extremo, e isso leva-o muitas vezes a participar numa construção a três ou a promover mais desmarcações interiores, mas sempre como fonte de segurança na associação desde trás. É um jogador que também consegue, através da progressão, marcar a diferença. Portanto, é aí que Paulo Fonseca tem aproveitado mais as potencialidades de Tiago Santos. Mais como um jogador de segurança e de construção do que propriamente como um desequilibrador, pois muitas vezes convive com Edon Zhegrova, um extremo aberto que é o grande desequilibrador desta equipa do Lille”, começa por analisar Tomás da Cunha.

Para o analista, o “casamento” do defensor com as ideias preconizadas por Paulo Fonseca foram um “match” perfeito e os resultados falam por si…

“Nesse sentido, creio que se cruzou com o treinador certo, esta assimetria que muitas vezes Paulo Fonseca promove é ideal para o jogo de Tiago Santos e para estas características que mencionei atrás. Sendo que não é um jogador específico, pode adaptar-se a diversas funções seja como lateral mais baixo, seja mais em profundidade”, descreve o comentador à GoalPoint.

Nos últimos anos, diversos laterais têm sido peças-chave nos sistemas de várias equipas, passando a actuar mais na zona central e deixando que sejam os alas a abrirem o campo. Uma metamorfose que já teve como protagonistas os já citados João Cancelo, Arnold, Kyle Walker, Ricardo Pereira ou Diogo Dalot na Selecção Nacional, Grimaldo no Bayer Leverkusen ou a lenda alemã Philipp Lahm (com as botas já penduradas). Além disso, tem o atrevimento que lhe permite aparecer em zonas de finalização e disparar tendo a baliza contrária como ponto de mira.

“Tem, de facto, essa passada muito interessante, muitas vezes recebe por dentro e aplica a meia distância como Pedro Porro, por exemplo, creio que ao nível do passe tem melhorado em comparação com a época anterior. Portanto, está no clube e no modelo certo para o tipo de jogador que é Tiago Santos. Nas mãos de Paulo Fonseca está a tornar-se num dos laterais jovens mais interessantes do panorama europeu e acredito que possa dar o salto para outro patamar. Como Ricardo Pereira, que também jogou na Liga francesa, depois tornou-se num construtor, mais do que um desequilibrador. Portanto, pode ter essa parecença”, acrescenta.

“Tiago Santos foi um desperdício dos clubes portugueses”
(Tomás da Cunha)

E poderia Tiago Santos ter prosseguido a carreira na Liga portuguesa? No final da época passada, o seu nome chegou a ser veiculado a um possível interesse do Benfica para fazer “sombra” a Bah, mas o negócio acabou por não avançar e, na longa ausência do dinamarquês, a alternativa foi… Aursnes. No FC Porto, poderia lutar pela titularidade com João Mário e, no Sporting, que tinha uma percentagem do passe, entraria numa equação que conta com Ricardo Esgaio e com a sensação Geny Catamo (adaptado).

“Acho que, de certa forma, podemos dizer que foi um ‘desperdício’ dos clubes portugueses, mas ao mesmo tempo um acerto para o jogador, porque no Lille tem espaço de afirmação, um treinador português que o conhece perfeitamente e que está a ampliar este talento que já demonstrava no Estoril”, realça o comentador da Eleven Sports, TSF e colunista da Tribuna Expresso.

O internacional sub-21 português está vinculado aos franceses até 30 de Junho de 2028 e tem, de acordo com o Transfermarkt, um valor de mercado a rondar os oito milhões de euros.

Leonel Gomes
Leonel Gomes
Amante das letras, já escreveu nos jornais A Bola, Público e o O Jogo, dedicando-se também ao Social Media Management desde 2014. Tornou-se GoalPointer na "janela de mercado" do verão de 2019.