Numa tradição que já dura 9 anos, o Ranking de Treinadores GoalPoint (RTG) fecha uma época de balanço estatístico da Primeira e Segunda Liga portuguesa, elegendo os melhores treinadores da temporada e revelando a classificação final de todos os que comandaram equipas de futebol profissional.
Para quem não está familiarizado com o método, cada treinador é pontuado, jogo a jogo, de acordo com a probabilidade que tinha de vencer/empatar/perder o mesmo, consoante as probabilidades atribuídas pelas casas de apostas. O método é 100% objetivo e baseado em indicador externo com a única influência “goalpointiana” a resultar do ponderador atribuído a cada competição (Liga = 4, competições europeias = 3, Taça de Portugal = 2 e Taça da Liga = 1), seguindo a lógica de importância atribuída pelo público em geral às diversas competições disputadas. Nesse sentido, um treinador de uma equipa mais pequena pontua naturalmente mais quando vence um grande do que o oposto e, feitas as contas, chegamos ao final da época com uma pontuação que pode ser positiva ou negativa para cada treinador. Mas antes de revelarmos os rankings de 2022/23 nada como revisitar o “Hall of Fame” dos últimos oito anos, que demonstra como é possível, a treinadores de diversos patamares de objectivos, conquistar o prémio, com base nestes critérios.
Ainda não foi esta temporada que tivemos um treinador repetente a vencer o RTG, mas foi a segunda vez que tivemos um clube repetente no topo do pódio. A pontuação do vencedor de 22/23 foi também a segunda maior de sempre entre treinadores da Liga Bwin (igualando exactamente a de Abel Ferreira em 2017/18). Mas vamos à tabela completa, começando de baixo para cima.
Do 18º ao 27º
Entre os 10 treinadores que ficaram no fundo da tabela, apenas um (Paulo Sérgio) fez a época completa. O treinador faz a sua terceira época consecutiva com pontuação negativa e piora o registo da época passada, em que tinha terminado com -599 pontos.
O último classificado foi César Peixoto, que teve queda ainda mais abrupta em relação à temporada anterior. O treinador, que acabou por fazer duas passagens pelo banco do Paços, vinha de um terceiro lugar (no RTG) em 21/22 que tinha gerado grandes expectativas, mas as mesmas saíram defraudadas e o Paços acabou mesmo por terminar no penúltimo lugar da Liga bwin e o seu treinador em último do ranking. José Mota, que assumiu a equipa durante sete jogos, também terminou no lote de 10 piores.
Os três treinadores (Mário Silva, Jorge Simão e Danildo Accioly) que passaram pelo banco do Santa Clara também marcam presença neste “bottom-10”. Mário Silva foi quem fez mais jogos e também quem acumulou maior pontuação negativa, com a péssima curiosidade de ter ficado com o registo de treinador com maior percentagem de resultados negativos (65%).
Do 13º ao 17º
Com pontuação negativa, mas não muito, encontramos um lote de cinco técnicos, nenhum deles “totalista de época” nas respectivas equipas. Nélson Veríssimo vinha de uma época dividida entre Benfica B (1803 pontos) e Benfica A (-140 pontos) e teve um início positivo no Estoril mas acabou por pagar a factura de uma péssima campanha na Taça da Liga (segunda pior pontuação, atrás de Mário Silva). Ricardo Soares entrou para o seu lugar mas ficou apenas 300 pontos acima.
Os dois treinadores (Álvaro Pacheco e Manuel Tulipa) do Vizela também tiveram desempenhos semelhantes, com ligeira vantagem para Álvaro Pacheco, que acabou por pagar pela mudança de administração e pelos três resultados (19%) considerados extremamente negativos pelas casas de apostas (derrotas caseiras com Estoril, Santa Clara e Arouca).
Do 7º ao 12º
Aqui encontramos um lote de seis treinadores com pontuação acima do zero, mas não suficientemente boas para entrar nos seis primeiros.
Filipe Martins, que tinha sido o melhor da Segunda Liga em 21/22, com 1873 pontos, acabou por pagar por um início de temporada que colocou a expectativa muito alta, até no que toca às odds atribuídas. Foi treinador do mês em Setembro e fechou o ano em 2º lugar com 1375 pontos, mas 2023 trouxe uma queda de produção abrupta que o fez cair vários lugares na Liga Bwin e no RTG.
Rúben Amorim vinha de duas temporadas excelentes (3180 pontos em 20/21 e 2466 pontos em 21/22), mas teve uma época bem abaixo das expectativas. O final de época acabou por salvar uma pontuação que chegou a rondar os 700 pontos negativos e uma temporada que ficou marcada por nove resultados considerados extremamente negativos, entre eles a segunda maior surpresa probabilística da temporada (derrota com o Varzim). Nenhum outro treinador acumulou tantos resultados surpreendentes pela negativa:
- Varzim 1-0 Sporting (odd 18.36)
- Sporting 0-2 Chaves (odd 15.47)
- Marítimo 1-0 Sporting (odd 8.84)
- Boavista 2-1 Sporting (odd 7.42)
- Arouca 1-0 Sporting (odd 4.87)
- Sporting 1-1 Arouca (odd 6.22 empate)
- Sporting 0-2 Marseille (odd 3.01)
- Sporting 1-2 E. Frankfurt (odd 2.95)
- Sporting 1-2 Porto (2.88)
Um lugar acima aparece Petit, que levou ao Boavista a mais uma época globalmente positiva, mas que ficou marcada (no RTG) pela maior surpresa do ano. A derrota no Machico (que acabou por descer no Campeonato de Portugal) para a Taça de Portugal tinha odd de 23.38, correspondente a uma probabilidade de 4,3%.
Daniel Sousa sucedeu a Ivo Vieira no Gil Vicente e acabou com a segunda maior percentagem de resultados positivos (44%), apenas atrás do vencedor, enquanto Luís Freire (treinador do mês em Novembro/Dezembro que tinha ficado em 2º com o Rio Ave na Liga Sabseg 21/22) e João Pedro Sousa (treinador do ano em 19/20 com o Famalicão) voltaram a ser felizes em casas que bem conhecem.
Do 4º ao 6º
Aqui encontramos os três treinadores que ficaram acima dos 1000 pontos mas que, ainda assim, não conseguiram um lugar no pódio nesta época tão competitiva. Qualquer um deles acumulou pontos que chegariam para ficar na terceira posição em 21/22.
Vítor Campelos quase levava o Chaves à Europa depois de já ter estado muito bem na Liga 2 em 21/22. O técnico do Chaves foi o melhor em Abril e fica ligado a duas das três maiores surpresas probabilísticas do campeonato. A vitória em Alvalade em Agosto e na receção ao Benfica, precisamente em Abril. Só esses dois jogos valeram 741 pontos a Vítor Campelos, uma grande percentagem do total acumulado durante a época, mas o Chaves foi ainda vencer a Braga e Famalicão, por exemplo.
Moreno Teixeira assumiu a equipa do Vitória SC de forma surpreendente e fica com o prémio de melhor “rookie” do ano. Foi também o único treinador a vencer o prémio de melhor do mês em mais do que uma ocasião (Outubro e Fevereiro), numa época marcada pela consistência, apesar do plantel jovem.
Sérgio Conceição foi o mais titulado da temporada mas acabou por pagar, tanto no campeonato como no RTG, por alguns deslizes pouco comuns. A derrota caseira contra o Gil Vicente foi a segunda maior surpresa do campeonato e tirou-lhe 375 pontos no RTG que dariam para ficar na 3ª posição, mas os 3-1 em Vila do Conde ou os 0-4 frente ao Brugge também ficaram “entalados”. Ainda assim, foi mais uma época positiva e que comprova Sérgio Conceição como um dos melhores treinadores portugueses da actualidade.
3º Artur Jorge
Artur Jorge foi o terceiro melhor treinador da temporada 22/23. Não podendo ser considerado rookie porque já tinha feito cinco jogos ao serviço da equipa principal do Braga na época 19/20, acaba por ter uma época de estreia completa extremamente positiva, com um terceiro lugar no campeonato que dá acesso às pré-eliminatórias da Champions, e a melhor pontuação de sempre do Braga na Primeira Liga.
Curiosamente, tudo foi conseguido com apenas um resultado considerado extremamente positivo pelas casas de apostas (os 3-0 ao Benfica na Pedreira), e se algo faltou a Artur Jorge foi brilho nos “grandes momentos”.
2º Roger Schmidt
Roger Schmidt seria provavelmente o favorito dos nosso seguidores no twitter mas, acabou por ficar na segunda posição, mesmo com uma pontuação que daria para vencer em três das últimas oito temporadas.
MISTER DO ANO? 👔⚽️
🏅 Mais logo anunciamos (e explicamos) os Treinadores do Ano GoalPoint da #Ligabwin e 2ª Liga, com base nas probabilidades consumadas nos jogos disputados em todas as provas oficiais, nacionais e europeias
❓ E para ti quem foi o mister da época da…
— GoalPoint (@_Goalpoint) June 13, 2023
O alemão passou grande parte da temporada no topo da tabela, mas o fatídico mês de Abril acabou por ter um impacto brutal para o desfecho, com Schmidt a passar inclusive pelo 3º lugar antes de voltar a ultrapassar Artur Jorge. Dos escassos sete resultados negativos, três foram as derrotas consecutivas de Abril (Porto, Inter e Chaves), que tiraram 892 a Schmidt mas que, ainda assim, não apagam a consistência conseguida no resto da temporada e que valeu ao alemão uns excelentes 2367 pontos.
O treinador campeão conseguiu ainda, de muito longe, a melhor performance nas competições europeias entre os seis treinadores que nelas estiveram envolvidos.
1º Armando Evangelista
Surprise surprise! Armando Evangelista foi o melhor treinador da Liga Bwin em 22/23, ou seja, o que mais excedeu o que da sua equipa era esperado em cada jogo. De recordar que o Arouca tinha ficado na 15ª posição em 21/22, lutando até à última jornada para evitar a ida ao play-off, e acabou esta época no 5º lugar, com classificação europeia, passando de 31 para 54 pontos no campeonato.
O treinador arouquense – que entretanto já foi apresentado como novo treinador do Goiás – conseguiu ainda boas campanhas na Taça de Portugal (oitavos-de-final, eliminado pelo Porto), e Taça da Liga (meias-finais, eliminado pelo Sporting), e fez uma época que vai ficar para a história do clube, superando até a de Lito Vidigal em 15/16 no que toca ao desempenho global.
Armando Evangelista terminou ainda como o treinador que conseguiu a maior percentagem de resultados extremamente positivos (23%), positivos (49%), e a segunda menor de negativos (14%), numa temporada quase “à prova de bala”. O grande momento, e forte aviso para o que aí vinha, foi a vitória sobre o Sporting em Outubro.
De recordar que Armando Evangelista já tinha sido o treinador do ano em duas ocasiões na Segunda Liga, uma delas ao serviço do Arouca em 20/21, e outra ao serviço do Penafiel em 17/18, completando agora o triplete no primeiro escalão.